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quarta-feira, 13 de abril de 2016

Relato de Fernando Reis sobre o início do Estilo Tribal no Brasil - Parte 4

Material enviado por Fernando Reis em fevereiro de 2016 para Carine Würch e Maria Badulaques. Através deste relato, conta como foi a formação do Estilo Tribal aqui no Brasil, através da Cia HalimFernando foi fundador da Cia Halim junto com Shaide Halim. A companhia foi fundada em 2002 e durou cerca de 08 anos.

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PARTE 04 - Visão do Estilo Tribal no Brasil hoje


Sobre como anda o tribal hoje, penso algumas coisas, todas boas. 

Primeiro que percebi que, desde o desaparecimento da Halim, o estilo se popularizou um bocado pra baixo do Equador (como diz uma música). Mas não tive a oportunidade de ver mais que fotografias e vídeos curtos na internet. 

Tenho contato com algumas bailarinas, vejo algumas publicações com trechos de apresentações de Rebeca Piñero, com peças interessantíssimas de Maria Badulaques, e isso me faz sorrir por dentro, e faz vontade de voltar. 

Vontade, não. Muita vontade!

Tenho a impressão de que o fato de o Brasil ter um público, interessados em dançar, e um mercado para dança do ventre muito grande, muito expressivo, pode favorecer muito o surgimento de novos e bons trabalhos para tribal, ou, como chamamos Shaide e eu desde a época da Cia Halim, dança étnica contemporânea, ou simplesmente fusion (sem deixar de tratar por tribal).

Tenho bastante material nos papéis e no computador. E este material ainda vai criar pele, curvas, movimentos sinuosos, cores, pintas e traços tribais. Na hora certa.

(Maria pergunta) Conta como foi ver a expansão do tribal no Brasil. Você acha que deu uma guinada exponencial após o curso que deu para Kilma na Paraíba?

Gosto desta pergunta, também. Há dois pontos sobre a minha relação pessoal com o quanto o tribal cresceu no Brasil. Um é de uma certa boa surpresa, porque quando a Cia Halim era ativa e eu dela participava, era a única (pelo menos que tenhamos tido notícias à época) companhia de Tribal, ou de danças étnicas contemporâneas fusion

Shaide participou muito mais do processo de ministração das aulas, por muitos motivos. Custava um pouco caro a produção de workshops, com nós dois em estados distantes, e eu ainda estava ligado a um trabalho de uma empresa de cinema em São Paulo, que não permitia ausências prolongadas. Então, fui algumas vezes ao Rio de Janeiro, a Brasília e a Porto Alegre (me roendo um pouquinho por dentro por não ter podido ir à Paraíba).


Mas, mesmo as notícias que me chegavam à distância, e sobre os relatórios que a própria Shaide me passava dos trabalhos fora de São Paulo, me traziam a impressão de que Kilma seria uma das principais, senão a principal representante do Estilo Tribal em toda a sua região. As fotografias a que tive acesso depois me trouxeram outra boa impressão. 

Era para mim possível, mesmo em imagens estáticas, reconhecer a alma da composição de um trabalho para Tribal. Dali em diante, tanto Shaide Halim quanto Fernando Reis não puderam mais pensar em Estilo Tribal da metade do território nacional para cima sem que o primeiro nome que nos viesse à mente fosse Kilma Farias.

Renata Lopes enviou as fotos que são do DVD comemorativo dos cinco anos de companhia (2007). 

Para saber mais sobre Shaide Halim ou Cia Halim, clique nos links.

Relato de Fernando Reis sobre o início do Estilo Tribal no Brasil - Parte 3

Material enviado por Fernando Reis em fevereiro de 2016 para Carine Würch e Maria Badulaques. Através deste relato, conta como foi a formação do Estilo Tribal aqui no Brasil, através da Cia HalimFernando foi fundador da Cia Halim junto com Shaide Halim. A companhia foi fundada em 2002 e durou cerca de 08 anos.

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PARTE 03 - Criação do Nome e Término

Irma Mariotti se transformou em Shaide Halim

Esta parte foi assim. Ela estava empolgada com o projeto (que no começo era mais só dela), e eu dava um ou outro pitaco, sem grandes envolvimentos. Um dos pitacos foi (acho que nem foi tanto ideia minha. Capaz de ela ter pensado nisso porque muitas bailarinas de danças orientais têm nomes artísticos orientais, e Irma é um nome forte, mas super europeu italianão, e poderia combinar mais pra ballet (o que hoje nem enxergo com esta restrição toda) a adoção de um nome artístico. 

Me lembrei de que tive uma colega num colégio e ela se chamava Shaide. Era filha de libaneses, acho. Só falei este nome pra ela uma vez. Os olhos brilharam e ela quase nunca mais, a partir dali, foi chamada de Irma (acho que só a família chama). Ah! E era para ser só Shaide e Halim era o nome da companhia. Um dia alguém se referiu a ela como Shaide Halim, porque acho que o nome da companhia fosse o sobrenome dela, e ficou.


O trabalho da Cia Halim, desde a primeira reunião, foi sempre realizado na pequena sala da casa em que morávamos, na Vila Mariana. Produzimos piso de madeira suspenso do chão, espelho do tamanho de uma parede inteira e procurávamos manter os muitos gatos da casa longe dos trabalhos. 

Então, a Halim era, sim, respondendo à sua pergunta, nossa companhia. 

Mas eu não me sentia patrão de ninguém (o que não quer dizer que quem aceitasse participar da companhia não tivesse que ter consciência de que teria compromissos a cumprir, e que os compromissos representariam cobranças de resultados. Nunca tivemos condições de pagar cachês ou salários, porque nunca tivemos patrocínio ou lucro com bilheterias. Mas não cobrávamos mais que dedicação de quem quisesse e pudesse participar, e que ajudassem no que pudessem (com figurino, com transporte de qualquer coisa pra quem tinha carro...).

A Cia Halim começou a esfriar por duas causas, que acho que só me ocorreram agora por ter que responder a vocês. Uma parte do trabalho estava vinculada a mim, às minhas condições pessoais, e até à minha relação com Shaide. Eu estava envolvido com várias tarefas diferentes, um pouco cansado, um bocado contaminado por meus próprios maus-hábitos, e decidido a me mudar de casa. 

Shaide, por outro lado, embora nunca tenha deixado de se incomodar, naturalmente, com o meu tumulto interior que respingava sobre casa e companhia de dança, tinha sempre o foco voltado para a produção de dança e seus projetos. Se não fossem para tribal, seriam para o que pudesse e gostasse de fazer. E assim, acabou-se a Cia Halim, Shaide deu início a projetos novos e eu fiquei um bocado sem produzir dança (a não ser nos papéis, por enquanto).



Renata Lopes enviou as fotos que são do DVD comemorativo dos cinco anos de companhia (2007). 

Relato de Fernando Reis sobre o início do Estilo Tribal no Brasil - Parte 2

Material enviado por Fernando Reis em fevereiro de 2016 para Carine Würch e Maria Badulaques. Através deste relato, conta como foi a formação do Estilo Tribal aqui no Brasil, através da Cia HalimFernando foi fundador da Cia Halim junto com Shaide Halim. A companhia foi fundada em 2002 e durou cerca de 08 anos.

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PARTE 02- Formação e Estruturação

Irma sempre teve muita, mas muita mesmo, aptidão e facilidade para dançar qualquer coisa, ainda que jamais tenha tido peso e massa corporal dentro dos padrões para os bailarinos profissionais. Ela sempre foi gordinha, mesmo.

:) Embora eu não ache que isso deva acontecer com a naturalidade de quem se relaciona a partir de um passeio no parque, pela primeira vez eu me peguei em um relacionamento com colega ou aluna. Era aluna e era a Irma. Irma ficou grávida e nós nos casamos.

A vida seguiu comigo sendo programador de filmes para cinema na distribuidora Pandora Filmes e Irma estudando relações públicas e ajudando o pai em tarefas administrativas de seus cursos (os do pai. Ele é consultor para empresas e professor em institutos de filosofia). Eu já não tinha condições de praticar ballet como antes, mas fazia umas aulinhas de flamenco aqui e ali, com Jussara Correa, a turma do Raies... 

Um dia, Irma, que sempre teve um bocado mais de possibilidades relacionadas a investimentos econômicos que eu, por causa da família, teve a  oportunidade de conhecer o trabalho de Carolena Nericcio e a FatChance BellyDance. Ficou absolutamente encantada! 

Mais que isto! Ela própria reunia impressionantes condições para fazer um excelente tribal (eu não digo isto só porque fomos casados. Digo porque é verdade). E, tendo em casa um sujeito que vinha da dança também, que conhecia flamenco (que podia ser muito útil no trabalho), ela (ainda Irma) não parou um minuto de elaborar e produzir. 

E eu fui ajudando com o que podia e com o que achava que tinha que fazer (me metia mesmo. Estava virando diretor da coisa sem perceber). Um dia a Cia Halim estava formada, com as aludas de dança do ventre que Shaide já tinha, as que se interessaram em participar. 

Nem todas eram muito boas, mas a gente tirava a alma delas pelo umbigo, sabe? Nunca com brutalidade. Eu era firme com o que era preciso, Shaide coreografava, dava aulas, limpava técnica, eu ajudava com coreografias, limpava umas coisas, desenhava cenas, fazíamos (muito mais Shaide) os figurinos, e um dia estreamos "Saluq" (não por acaso, nome de um vento que sopra do oriente pro ocidente), no teatro Sergio Cardoso (não me lembro data), com todo o cuidado que cabia no nosso pobre orçamento. As meninas ficaram nervosas e emocionadas, e a platéia aplaudiu nada burocraticamente. Gostaram mesmo.

O trabalho seguiu, fizemos outras coisas, Shaide tocou muito mais que eu o trabalho, mas continuei dirigindo enquanto a Cia Halim existiu em enquanto o casamento durou. O trabalho com a Halim fez com que Lulu (que à época era Sabongi) me confiasse a direção técnica e a criação da cena de abertura do show de vinte anos de sua carreira.

Eu me separei de Shaide, a Halim já havia morrido e morei na cidade do Porto um tempo (em outro casamento que também já acabou). Passei dias difíceis em internações e sobre uma cadeira-de-rodas, porque sofri a síndrome de Wrnicke-Korsakov, em decorrência de alcoolismo (já estou curado da causa e das conseqüências).

Estou de volta a São Paulo e com os papéis cheios de planos. Não posso dizer muito sobre eles, por enquanto, mas são para o bem e são para dança :)


Renata Lopes enviou as fotos que são do DVD comemorativo dos cinco anos de companhia (2007). 

Relato de Fernando Reis sobre o início do Estilo Tribal no Brasil - Parte 1


Material enviado por Fernando Reis em fevereiro de 2016 para Carine Würch e Maria Badulaques. Através deste relato, conta como foi a formação do Estilo Tribal aqui no Brasil, através da Cia HalimFernando foi fundador da Cia Halim junto com Shaide Halim. A companhia foi fundada em 2002 e durou cerca de 08 anos.

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PARTE 01 - História de Vida

Vou procurar colocar aqui o máximo do que eu puder me lembrar da história da Cia Halim, da minha história e do quanto procuramos colaborar para a formação do Estilo Tribal nessa nossa terra.

Meu nome é Fernando Reis (é o nome que uso geralmente, para apresentações profissionais, artísticas, em geral), sou Fernando Mendes dos Reis, nos registros. Tenho 41 anos, nasci na cidade de Esplanada-BA, mas sou um bocadinho aculturado da cultura e identidade do povo baiano, porque minha família mudou-se para São Paulo em 1978 (eu tinha quatro anos).

Sempre fomos de uma família um bocado pobre, e, embora isto tenha sido bastante ruim para a vida em geral, teve uma contribuição para saldo positivo (embora eu não seja apoiador de trabalho para menores). Eu vim a ter possibilidades de trabalhos para colaborar na renda doméstica, apoiado primeiro pelo meu irmão Léo Mendes, que trabalha com cinema há uns trinta anos, e depois com o irmão Moacir Mendes, que é publicitário e artista gráfico. 

Durante a minha adolescência vim a saber, entre os colegas da escola (pública), que um rapaz estava reunindo interessados em tomarem parte em um curso de interpretação para teatro. A turma de colegas que me apresentou aquela informação estava mais animada pela possibilidade de os trabalhos resultarem em beijocas nas garotas (para as cenas) que em qualquer ilusão de desenvolverem algum potencial para atuação. Me interessei, mesmo sendo muito tímido (e nem foi tanto pelas beijocas (que jamais aconteceram)).

O professor Edson Araújo Lima, que é um dos meus melhores e mais importantes amigos até hoje (fiz uma arte prum projeto dele esses dias), se mostrou muito bom professor. Junto com os meus irmãos (no cinema, na publicidade e nas artes gráficas), foi um dos maiores responsáveis pelo desenvolvimento de meu interesse e alguma aptidão para interpretação (fizemos um curta-metragem até. Dez anos depois). E naquela época eu, que estava bastante entusiasmado com as aulas de teatro, ouvi falar (ou intuí) que aulas de dança eram muito boas para a complementação da formação de atores. Tomei coragem e me matriculei em um curso de jazz.

As aulas de jazz eram um bocado fracas, mas eu não fiquei propriamente frustrado ou incomodado (afinal aquela não era a única escola e nem a única modalidade de dança). Vi flamenco pelo trabalho com cinema, dentro dos filmes de Carlos Saura, e me apaixonei! Chegou um tempo em que eu já não estava mais estudando teatro e nem só estudando dança por causa do teatro. Eu queria ser mais bailarino que ator.

Nunca foi nada fácil. Eu pobre, sem carro, trabalhando oito a dez horas por dia, com vontades de fazer coisas da vida social, mini-baladinhas de pobre... 

Comecei a fazer aulas de ballet clássico com uns vinte anos, depois de já ter feito um pouco de jazz, por achar que o clássico prepara melhor para tudo o que exija técnica e força. Não era propriamente para ser bailarino clássico... mas fui ganhando bolsas em todas as escolas das quais me aproximei. Os professores me viam com uma certa (alguns, bastante) boa impressão, porque eu era longilíneo, tenho os pés com uma ponta pouco comum, sou bastante en-dehors, e fui fazendo minhas aulinhas dentro da vidinha capenga. Entrei em cursos de dança flamenca, daqueles de pequeníssimas escolas (acho que o André Tiani, que foi meu primeiro professor, nem dá aulas mais) e me apaixonei por flamenco.

Da paixão por flamenco pra começar a dar aulas pra iniciantes na mesma academia em que tive minhas primeiras aulas de dança (jazz) na vida (!!!) foi um pulo.

Uma das minhas primeiras alunas foi Irma Mariotti (guarde isto, porque é importante).



* Renata Lopes enviou as fotos que são do DVD comemorativo dos cinco anos de companhia (2007). 

quinta-feira, 3 de março de 2016

Pilares do Sul - Shaide Halim

Um nome recorrente, para qualquer leitor e estudioso dos primórdios do Tribal no Brasil é Shaide Halim:

No Brasil, as pesquisas no estilo tiveram início na década de 2000. Shaide Halim, fundadora da Cia Halim de São Paulo foi a grande pioneira, trazendo dos Estados Unidos informações sobre ATS®, postura tribal e fusão, traçando sua própria linha de pesquisa que chamou de “Tribal Brasileiro”, bastante influenciada por Flamenco, Dança Indiana e Afro. Shaide ministrou muitos workshops e influenciou largamente muitas dançarinas que começavam seus estudos. (Nadja el Balady - Texto Original aqui)

Shaide iniciou cedo no mundo da dança: em 1982, começou com ballet clássico (Sophie Duchamps, Enézio S. Filho – Ballet Nacional do Brasil, Ali José, Leny Luque, Sidney Astolph – Escola Municipal de Bailados de SP, entre outros), mantendo seus estudos nessa modalidade até 2000. De 1987 a 2002, ainda estudou outras modalidades como Jazz (Denise Palacius, Núbia Ferro, Leco Pires, Voney Silva, Dayoner Romero) e Dança Afro (Iana Barros – ballet do Teatro Castro Alves – Salvador, BA  e Núbia Ferro). 


Em 1994 iniciou seus estudos na Dança Flamenca (Fernando Reis) e na Dança Oriental (Cláudia Cenci, Nasser Mohamed, Iara Miguel, Lulu Sabongi, Soraya Zayed, Sokry Mohamed - Madrid, Samiya Maluhi - Líbano, Samir Abut - Argentina,) e em 1996, na Dança Indiana (Sônia Galvão – Odissi, Suzane Haresh – Bharatanatyam e Uma Charma - Kathak). 

Seu primeiro contato com o Estilo Tribal aconteceu em 1990 em Nova York, 
no Central Park, em Nova York, numa apresentação da Rakkadu Gipsy Caravan. Na época eu ainda não tinha nenhum conhecimento em dança do ventre, que só comecei a estudar em 1994. Seu interesse cresceu a partir de 1998. Minhas professoras de Tribal foram Zoe Ártemis e Jill Mc Pherson, mas contei com o aconselhamento de Carolena Nericcio (FatChance BellyDance), Sharon Moore (Infusion) e Maja Nile. E foi a partir da união do estudo prático e do aconselhamento teórico que comecei a descobrir toda a amplitude do estilo e a me arriscar em criar minha própria linha de trabalho.

Cia Halim iniciou seu trabalho de divulgação em junho de 2001, com cursos dessas modalidade e, em 2002, com a apresentação do primeiro espetáculo exclusivamente Tribal do BrasilFoi pioneira na divulgação do Estilo Tribal no País e o adaptou a cultura brasileira, criando assim o Estilo Tribal Brasileiro.


Em 2004 viajou a Paris e a Reikjavik (Islândia), para ministrar workshops de Estilo Tribal e Dança Indiana Moderna – NRTYA NAYA. No ano seguinte criou a CIA LÓTUS NRTYA NAYA, que funde as Danças Clássicas da Índia (Bharatanatyam, Odissi e Khatak) ao Bollywood, utilizando músicas indianas modernas para o desenvolvimento de um novo estilo.


Em 2006 inaugura o Beladança – Estúdio de Dança Shaide Halim, que traz ao público uma grande variedade de cursos de diversas modalidades (como dança do ventre, danças folclóricas árabes, dança indiana moderna, estilo tribal, dança cigana, zambra (flamenco árabe), dança afro, dança havaiana, dança tahitiana, sapateado americano, jazz e ballet, além de yoga, natya yoga (fusão estética de yoga e dança indiana), alongamento, entre outros).


No mesmo ano cria o projeto Shouk em Dança, no Shouk Café Gourmet, posteriormente transformado em Buda em Dança, no Buda Bar. Desenvolveu um trabalho pioneiro no meio cultural, apresentando shows com  todas as modalidades de dança que o estúdio oferece, em diversos locais de São Paulo, além de Curitiba, Rio  de Janeiro e Brasília.


Em 2008 Shaide desenvolve o novo curso do estúdio, Ventre Brasil, que fusiona a dança do ventre aos ritmos e movimentos do Brasil. 



Cia Halim, dirigida por Shaide e Fernando Reis, estava sediada em São Paulo capital. O grupo experimentava a fusão do vocabulário indiano e flamenco com a dança do ventre, trazendo uma semelhança de vestuário com o ATS, porém mantendo características mais particulares. Falava-se em Tribal Brasileiro, devido às adaptações que o estilo trazia do que chamamos Tribal Americano (American Tribal Style).

Shaide, hoje é Lady Burlybailarina, coreógrafa e professora de danças. Proprietária da Escola Burlesca de São Paulo, onde ministra aulas e workshops de Dança Burlesca, Salsa Solo, Charleston & Authentic Jazz, Ballet Clássico, Jazz Dance e Dança do Ventre.

Em seus mais de 25 anos de estudos, adquiriu conhecimentos em diversas modalidades além das já mencionadas, como swing dances, sapateado, street dance, dança havaiana e tahitiana, dança de salão, dança indiana, flamenco, dança contemporânea e dança afro. 


Desde 2009 atua como diretora, coreógrafa e bailarina da Revaudeville Burlesque, primeiro grupo de dança brasileiro dedicado à dança burlesca e danças vintage. Em 2010 participou do curta-metragem Uma mulher e uma arma, de André Dragoni. No mesmo ano preparou workshops de Dança Burlesca para São Paulo, Bauru, Curitiba e Brasília, o que gerou interesse do público para um curso mais detalhado, iniciando então, em outubro de 2010, o primeiro curso regular de dança burlesca do Brasil. 


Em 2011 foi convidada pela Imovision Filmes a fazer parte da divulgação oficial do filme Turnê, de Mathiew Amalric, premiado no Festival de Cannes 2010. No mesmo ano foi entrevistada no Programa do Jô, na Rede Globo e no programa A Noite é uma Criança, de Otávio Mesquita, na Band. Ainda em 2011 integrou o elenco do Cabaret Social Club do Brasil, ao lado da cantora Alessandra Grani e do pianista Rafael Marão.



Em 2012 estreou como diretora e coreógrafa de Revaudeville Teatro Cabaret Burlesco, o primeiro projeto brasileiro à levar a arte burlesca aos palcos dos teatros. No mesmo ano gravou com o programa A Liga, ao lado de Casé Peçanha, e foi convidada a fazer o show de abertura do 34º Prêmio Profissionais do Ano, da Rede Globo. Participou ainda da gravação dos videoclipes das bandas "Pitanga em Pé de Amora" e "Kali e os hóspedes de Chelsea". Ministrou workshops de dança burlesca em São Paulo, Osasco, Curitiba e Rio de Janeiro. Em 2013, participou da estreia da nova temporada do programa Amor & Sexo, com Fernanda Lima, na Rede Globo.

Em 2014 inicia um novo projeto em parceria com a cantora Alessandra Grani, o Sarau da Sereia, com apresentações de canto, dança e poesia, realizado trimestralmente no Adventure Bar.

Já se apresentou em diversas casas noturnas

The Week (Festa Gambiarra), Sindykat Jazz Club, Ton Ton Jazz Bar & Music, Lions Club, Constantine Club, The History, Mary Pop Dinning Club, Casa das Caldeiras, Clube Outs, Pianno Club (Campinas), Sonique Bar, Piola, Asteroid (Sorocaba), Miquelina Bar e Arte, Café Aman, Black Steel, Chipps (Porto Alegre), Esbbá Café, Buda Bar, Kitsch Club etc. 


Shaide continua sendo inspiração para quem inicia seus passos no Estilo Tribal, pois formou muitas bailarinas que difundiram o Estilo Tribal pelo Brasil. Só tenho que agradecer!

Fontes
http://www.seteveus.com.br/shaidee.html#1
http://grupoamaryllis.blogspot.com.br/2010/09/inspiracao-shaide-halim.html
https://myspace.com/ciahalim/
https://www.youtube.com/user/ciahalim/videos
http://ladyburly.yolasite.com/
http://www.escolaburlesca.com/galeria-de-fotos.php
http://nadjaelbalady.blogspot.com.br/2012/12/o-estilo-tribal-no-brasil_12.html
http://www.centraldancadoventre.com.br/publicacoes/entrevistas/28/shaide-halim/121

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O que é Tribal Fusion? por Jamille Berbare

TEXTO REPOSTADO, COM PERMISSÃO DE JAMILLE BERBARE.
Não reproduzir este texto sem contato prévio com a Autora!

O que é Tribal Fusion?

A dança tribal, considerada em constante mutação, é uma dança étnica contemporânea, que funde várias raízes e arquétipos. Tem sua base em danças orientais, como por exemplo, a dança do ventre, fusionando com dança indiana, flamenco, breakdance, danças folclóricas de várias regiões, inclusive as nômades orientais e ocidentais. É um estilo de dança contemporâneo, nascido na década de 60, mas é baseado também na ancestralidade artística.

A Dança Tribal, é uma vertente surgida nos EUA, em 1969, quando a dançarina Jamila Salimpour, ao fazer uma viagem ao Oriente, se encantou com os costumes dos povos tribais. Fascinada pela dança, pela estética e pelo universo místico do Oriente, Jamila resolve acrescentar e mesclar os elementos que havia conhecido na viagem. Junto à sua trupe Bal Anat, Jamila passou a desenvolver coreografias que utilizavam passos característicos da dança oriental e acessórios das danças folclóricas. Ela tomou como base as lendas tradicionais do Oriente para criar uma espécie de dança teatro, inventando um figurino inspirado no vestuário típico das mulheres orientais, que ficou como uma das características mais marcantes do estilo Tribal (SALIMPOUR, J. 1990).
  
“Estilo Tribal é uma modalidade de dança que funde arquétipos, conceitos e movimentos de danças étnicas das mais variadas regiões, como o Flamenco, a Dança Indiana e danças folclóricas de diversas partes do Oriente, desde as tradicionais manifestações folclóricas já bem conhecidas pelas bailarinas de dança do ventre às danças tribais da África Central, chegando até as longínquas tradições das populações islâmicas do Tajiquistão” (HALIM, S. 2008).

Rico em dramaticidade e plasticidade, o Tribal Fusion tem conquistado a atenção do público pela audácia em agregar elementos culturais diferentes e pela característica anacrônica: ao passo que evoca personagens míticos e arquetípicos recolhidos do passado, transportando o público à sua raiz antropológica, também traz elementos contemporâneos muito inovadores enquanto proposta artística, ratificados em uma indumentária tão intrigante quanto a dança, com todos esses componentes convivendo harmonicamente entre si (BRAZ, P. A. 2012).

A dança que permeia tudo, que é macrocósmica e microcósmica, é também expressão, comunicação. Na era da globalização, da liquefação dos valores mais primordiais o estilo Tribal parece vir na contramão desse processo, utilizando-se dele como mais uma ferramenta para refazer o jogo da ritualidade, da sacralidade, da criação (CELESTINO, L. C. 2008). “Assim, o Tribal seria a dança do novo milênio, da universalização, da globalização. A Dança do futuro!” (HALIM, S. 2008).

É uma dança propositalmente ecológica em seu figurino, pois faz utilização de sementes, flores, conchas e tudo o mais que remeta à ancestralidade e naturalidade (CELESTINO, L. C. 2008). Os figurinos são construídos desta forma, utilizando materiais da natureza e peças já existentes que são reutilizadas e transformadas para fazer parte da indumentária.

O estilo que hoje conhecemos como Dança Tribal, tem suas bases no trabalho desenvolvido por três grandes bailarinas: Jamila Salimpour, Masha Archer e Carolena Nericcio. Cada uma delas, a sua maneira, contribuiu para a estruturação e fundamentação do estilo, que é uma forma de dança bastante nova com suas origens nas tradicionais danças do Oriente Médio. Os componentes dessa história incluem dançarinos ciganos que inspiraram os orientalistas do século XIX (BRAZ, P. A. 2012).

Pensando no nascimento do estilo tribal, na década de 1960, Jamila Salimpour criou o grupo Bal Anat em 1968, com o qual fazia experimentos em fusionar danças diversas do Oriente Médio. Salimpour também ousou em desestruturar modelos vigentes a respeito de dança do ventre, circo e teatro, propondo uma fusão de todos os elementos a sua pesquisa em danças orientais. Nesse “movimento tribal” que começou a nascer nota-se uma intimidade com o movimento denominado de “Contracultura”.


A contracultura foi um grande movimento de arte, mesclado com manifestações dos movimentos sociais de contestação, que ao longo da década de 60 marcou o mundo e influenciou gerações. Não foi uma rebeldia de jovens, e sim a experiência de partir para a ação. Se estes movimentos não conseguiram mudar a realidade, ao menos transformaram mentalidades. Toda a aldeia global contestava os tabus morais e culturais, os costumes e padrões vigentes e as instituições sociais. Propunham-se novas maneiras de pensar, sentir e agir, e assim criava-se outro universo com regras e valores próprios.

O movimento tribal recebe grande influência deste movimento de contra cultura, pois agrega o misticismo, o orientalismo, as culturas alternativas, a quebra de padrões de danças vigentes na época e o modo comunitário de dançar em grupo. Mesmo que no seu início, o que contava era o entretenimento e ganho econômico, as grandes mães da dança tribal lutaram por outros objetivos.

A linhagem começa com os dançarinos ciganos do Norte da África, particularmente Ghawazee do Egito e Ouled Nail da Argélia. Os dançarinos ciganos foram introduzidos nos Estados Unidos em 1893, no Grand Columbia Exposition, em Chicago. Eles geraram grande agitação e fizeram shows burlescos que inspiraram toda uma nova Hollywood do gênero vamp. Bailarinos árabes foram atraídos por este glamour e queriam emular ideais ocidentais, portanto adotaram a versão Hollywood como sua própria. Assim a tradicional “dança do ventre moderna cabaré egípcia” é uma construção norte americana que foi modificada pelos árabes para suas próprias necessidades artísticas e econômicas, inseridos neste novo contexto cultural (RALL, R. O. 1997).

Jamila Salimpour, foi a responsável por ensinar essa construção norte americana de dança do ventre e a partir disso trazer suas fusões de acordo com a história e as necessidades.

Jamila se mudou para Berkeley, Califórnia em 1967, e a cidade estava cheia de estudantes que estimulados pela música indiana de Ravi Shankar (SALIMPOUR, J. 1990), estavam prontos para escutar e olhar para outra importação de destaque do Médio Oriente. Seus ensinamentos sobre dança foram encorajadores, pois as alunas absorviam os movimentos e as transições. Nessa época acontecia aos sábados a Feira da Renascença (Renaissance Pleasure Faire), a qual suas alunas se apresentavam de forma não sistematizada. Era uma feira de arte, organizada como um imenso circo ao ar livre baseado no século XVI, continha comida e entretenimento daquela época, juntamente com aparições da majestade Rainha Elizabeth, que dava um prêmio ao melhor artesão em exposição da Feira. Malabaristas, mágicos, mímicos, qualquer tipo de entretenimento era encorajado. Uma tentação era que qualquer um que viesse com uma fantasia de época ou qualquer coisa, podia entrar sem pagar. A coordenadora de entretenimento da feira, Carol Le Fleur, pediu a Jamila que organizasse suas alunas para que não ficassem desviando a atenção do público em vários lugares e momentos da feira, e sim utilizassem o palco por um período somente (SALIMPOUR, J. 1990).


Então foi em setembro de 1968 que a ideia de formar uma trupe nasceu para Jamila. Naquele ano ainda não possuíam um músico, e assim Jamila batucava acompanhada por uma bailarina de folk que recentemente havia adquirido a darbouka (um tipo de derbake) e se dedicado a aprender para tocar nos palcos. Desse modesto começo, o núcleo da trupe estava formado. Na busca de um nome, Jamila queria honrar a Deusa Mãe, Anat, e com “bal”, a palavra francesa para dança, surgiu o nome Bal Anat, a Dança da Deusa Mãe (SALIMPOUR, J. 1990). 

Jamila Salimpour sabia que o formato cabaret não seria apropriado para a Feira, e assim quis resgatar sua experiência do circo Ringling Brothers Circus. Assim o Bal Anat era como um show de variedades circenses que qualquer um desejaria ver em um festival árabe. O show de variedades que representava um meio termo de estilos de danças antigas com o Oriente Médio, em acréscimo com dois mágicos, Gilli Gilli do Egito, e Hassam do Marrocos. As dançarinas acrobatas egípcias eram tão flexíveis quanto seus predecessores, inclusive tinham um professor grego de matemática da UC Berkeley, que sabia como pegar uma mesa com os dentes, com Suhaila (filha de Jamila) em cima dela (SALIMPOUR, J. 1990).

Foi um olhar com um formato que eventualmente foi imitado por todos os Estados Unidos. Quem era profissional às vezes sabia esta origem, mas na maioria das vezes não tinham conhecimento de onde isso havia surgido. De fato, muitas pessoas acharam que essa era a “dança real”, quando na verdade era metade real e metade besteira. Os folhetos de Bal Anat informavam ao público que vieram de muitas tribos. Talvez fosse a origem da expressão “dança tribal” (SALIMPOUR, J. 1990).

Havia um problema em uma feira a céu aberto do século XVI, que era reproduzir músicas já que não havia eletricidade, baterias, amplificadores portáteis, e nenhum truque acústico do século XX. Assim tiveram que voltar às noites prévias das músicas das tribos. Foram utilizados para fazer música: snujs, sistrums (instrumentos de percussão), tamborins, batedores de madeira, derbakes, mijwiz (flauta de madeira originária da Síria), mesa de beledi (grande bumbo), edefs (parecido com tamborim), oud (cordofone em forma de meia pera ou gota, similar ao alaúde) e o mizmar (oboé egípcio), além de algumas tentativas feitas com a música indiana. A trupe estava instruída a fazer o zagareet, a ululação utilizada pela sociedade do Oriente Médio (SALIMPOUR, J. 1990).

Nos anos seguintes Jamila Salimpour, quis acrescentar mais variedades nas danças, então acrescentou dança dos copos de água, dança karsilama (réplica da dança popular turca), dança com espadas, com máscaras da Deusa Mãe (expressão das origens primitivas da dança), dança do “vaso” (apoiados na cabeça), danças beduínas, dança indiana katak (SALIMPOUR, J. 1990).

Jamila Salimpour é considerada a grande mãe do estilo por ter sido quem propôs as primeiras fusões e os primeiros experimentos e disseminou o estilo através do grupo Bal Anat. Na época ela pensava apenas em desenvolver um estilo próprio de se fazer dança do ventre, sem vislumbrar os rumos e proporções que o seu trabalho iria tomar. Masha Archer, sua aluna, foi quem deu contornos fundamentais para estética do estilo, no que diz respeito aos movimentos e, sobretudo, na composição dos figurinos.

Masha Archer havia interrompido seus estudos com Jamila uma vez que ela estava pronta para levar seus resultados aos clubes. Ela estudou com Jamila Salimpour por dois anos e meio antes de fundar o San Francisco Companhia de Dança Clássica, que existiu por catorze anos (1970 até meados da década de 1980). De acordo com Masha, Jamila sentiu que a dança merecia um local melhor do que restaurantes e bares, mas não havia nada que poderia ser feito sobre isso: "Ela estava transmitindo que tão repugnante como à cena pode ser, você tem que aturar isso porque esse é o único jogo na cidade”. Também, se você fosse um professor, você deve ensinar seus alunos a tolerar a situação e cooperar. Masha adotou a dança, mas tinha uma visão diferente de interpretá-la. A disciplina de Masha acrescentou uniformidade para o novo estilo por não distinguir entre os movimentos das diferentes regiões e simplesmente identificá-la como "dança do ventre". Carolena Nericcio, membro de sua trupe de sete anos, brincando, chamava o estilo de Masha de "Tribal Art Noveau”, porque ela queria que o figurino refletisse mais de uma mistura de arte europeia (RALL, R. O. 1997).


A abordagem de Masha para figurino foi influenciado por Jamila, mas ela o levou para mais longe “em um louco, o ecletismo, voraz aquisitivo”. As bailarinas pareciam algum tipo de europeus parisienses e tunisianos com um forte olhar bizantino tribal, que foi completamente inventado. Masha sustentou que o olhar era aparentemente autêntico, usando joias tribais e peças antigas do Oriente Médio e Europa. Ela se referiu a ele, porém, como "Authentic Modern American" por causa do conceito americano de tomar liberdades com a autenticidade e origem. Masha também teve uma atitude americana para a escolha de diferentes tipos de música para dança do ventre. Ela descobriu que usando apenas a música popular do Oriente Médio para a dança, o que era esperado, foi um caminho estreito de olhar para ela. Ela decidiu que não havia muitas fontes de música que relacionaram as expressões folclóricas, tais como fontes musicais de outros países, até mesmo ópera e músicas clássicas. Masha se recusou dançar em bares e restaurantes e preferiu tocar em eventos culturais. Deste modo ela trouxe a consciência de que havia outros lugares em que poderiam ser mostrada a dança do ventre, podendo ser uma peça de teatro aonde as pessoas vão com a finalidade de ver a arte realizada. No entanto, ela não se refere apenas a um estágio formal. Ela sustentou que a Feira da Renascença foi um excelente ambiente para a dança, porque as pessoas esperavam ver um show dos bailarinos e não tê-los apenas como um acessório erótico para jantar. "Estamos sendo considerados dançarinos intemporais deste mundo". Masha tinha consciência de que ela estava tomando liberdades extremas com esta dança e suas raízes culturais, mas sentiu fortemente que a dança era tão especial e tão merecedora de respeito que não importava o que ela faria. Todo este esforço seria lindo, esse foi o legado final que ela transmitiu aos seus alunos (RALL, R. O. 1997).

Carolena Nericcio começou a estudar com Masha Archer com a idade de 14 anos. Ela treinou com ela por sete anos antes de iniciar FatChance Bellydance (FCBD) em 1987. O FatChance é uma mistura das duas metodologias em termos de formato e estética. O formato de estilo tribal veio de Jamila: "... o coro, a criação do coro de meia-lua e os dançarinos que saem individualmente para fazer uma rotina de dois ou três pequenos minutos para depois voltarem para o refrão”. Eles seguem Jamila neste estilo de usar figurino pesado, mas com o estilo Masha de ter o olhar de fusão igual para todos. Carolena impressiona com seus alunos pela presença de palco mesmo exigente e personalidade em público que Masha e Jamila ensinaram, carregando sobre a intensidade do estímulo dos dançarinos de um ao outro o ulular vocal (zhagareets), durante uma performance (RALL, R. O. 1997).

Carolena Nericcio foi quem criou o estilo American Tribal Style (ATS) a partir dos trabalhos já fundamentados na experiência realizada com a sua professora. Junto ao FatChance Bellydance, Carolena estruturou todo um sistema de movimentação e deslocamentos, num caráter de coreografia improvisada, definiu e significou a postura básica do estilo e fundamentou a ideia de dança enquanto trabalho coletivo e de união e sinergia entre as bailarinas, características estas primariamente evocadas nos trabalhos de Salimpour e Archer como reflexo do movimento contracultural da década de 1960.  O Estilo Tribal Americano ou American Tribal Style (ATS), é uma a improvisação coordenada que é um sistema que parece uma brincadeira de "siga o líder" e baseia-se numa série de códigos e sinais corporais que as bailarinas aprendem, trupe a trupe. Esses sinais indicam qual será o próximo movimento a realizar, quando haverá transições, trocas de liderança, etc. Uma nova postura foi adotada pelas dançarinas desse estilo, inspirada no flamenco, com posições corporais diferenciadas visando dar maior amplitude aos movimentos (CELESTINO, L. C. 2008).

O ATS, hoje patenteado por sua criadora, reúne o trabalho destas três grandes bailarinas e professoras. Carolena sabe a importância de se manter fiel ao contexto cultural, mas ela sabe que o estilo tribal americano está aqui para ficar e que irá evoluir constantemente. Ela reconhece que os bailarinos têm a responsabilidade de trazer mais integridade para a dança e para manter o espírito das raízes culturais. No entanto, ela tem sentimentos opostos sobre como ela gostaria de ver esta dança evoluir nos próximos cinquenta anos. Parte dela gostaria de ver a dança teatral ganhar status respeitável no palco. Mas ela também percebe que uma parte importante seria perdida, porque a essência da dança é a interação com as pessoas "logo ali na rua”. Carolena encoraja sua trupe para se tornarem próximas, colaborarem com as outras e se fazerem poderosas e bonitas pra si e não para os outros. 

Muitos artistas continuam a criar e expandir este estilo, empurrando as fronteiras da dança do ventre com sua teatralidade, escolha musical, figurino e seleção local. Tribal Fusion continua a estar em um estado de evolução.

O Tribal chegou ao Brasil na década de 90 e aos poucos foi incorporando elementos da cultura brasileira nas coreografias e nos figurinos.  

Danças populares nordestinas como o Maracatu, o Coco, o Cavalo Marinho e o Afoxé são algumas das danças que hoje foram absorvidas ao repertório de movimentos de muitas companhias e bailarinas do país (BRAZ, P. A. 2012).

Em 2002, no Brasil, na cidade de São Paulo, a bailarina Shaide Halim cria a Cia. Halim Dança Étnica Contemporânea – a primeira trupe tribal do Brasil. Foi o início do Estilo Tribal Brasileiro. Desenvolvendo um trabalho baseado nestas modificações pelas quais o estilo passou, Shaide inova mais uma vez ao trabalhar com as danças de uma forma mais homogênea. A Cia. Halim teve seu trabalho coreográfico orientado pela composição musical, dando ênfase a uma ou outra modalidade de dança, seja oriental, indiana, africana ou brasileira, a partir do tema musical. Falar sobre Tribal é mostrar, com o corpo, a rede cultural dos povos do mundo (CELESTINO, L. C. 2008).

BRAZ, P. A. Shaman Tribal, 2012. Disponível em: . Acesso em : 10/10/2012. 

CELESTINO, L. C. Sementes, espelhos, moedas, fibras: a bricolagem da Dança Tribal e uma nova expressão do sagrado feminino. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2008. 

HALIM, S. Entrevista cedida em abril de 2008.

RALL, R. O. A History of American Tribal Style Bellydance. San Francisco State University, 1997. Dísponível em: . Acesso em: 02/04/2012.


SALIMPOUR, J. Anatomy of a Belly Dance Troupe. The Best of Habibi,1990. Vol. 3, n 3-4. http://thebestofhabibi.com/vol-17-no-3-spring-1999/from-many-tribes/. Visitado em 12/2012.