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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O QUE AFINAL É ESTA DANÇA?

Não é dança do ventre, nem tampouco pode ser considerado folclore. Também não é etnicamente tradicional. Estilo Tribal divide gostos e opiniões, e deixa uma dúvida: o que é afinal esta dança?

Para quem ainda não conhece, Estilo Tribal é uma modalidade de dança que, tendo como base a dança do ventre, funde arquétipos, conceitos e movimentos de danças étnicas das mais variadas regiões, como o Flamenco, a Dança Indiana e danças folclóricas de diversas partes do Oriente, desde as tradicionais manifestações folclóricas já bem conhecidas pelas bailarinas de dança do ventre às danças tribais da África Central, chegando até mesmo às longínquas tradições das populações islâmicas do Tajisquitão.

Para usar uma terminologia apropriada que não cause dúvida, espanto ou revolta nas defensoras da tradição, chamamos esta modalidade de Estilo Tribal Folclórico Interpretativo

Este estilo surgiu nos EUA, nos idos dos anos 70, quando a bailarina Jamila Salimpour, ao fazer uma viagem ao Oriente, se encantou com os costumes dos povos tribais daquela região. De volta à América, Jamila resolveu inovar e mesclar à dança do ventre as demais manifestações culturais que havia conhecido em sua viagem.

Com sua trupe Bal Anat, Jamila passou a desenvolver coreografias que aliavam acessórios das danças folclóricas aos passos característicos da dança do ventre, baseando-se em lendas tradicionais do Oriente para criar uma espécie de dança-teatro, acrescentando à isso um figurino mais condizente com o vestuário tradicional das verdadeiras mulheres orientais, abandonando então as lantejoulas e miçangas características dos trajes bedleh.
 Um exemplo que temos desta nova forma de dança é a tão popular Dança da Cimitarra (espada). Segundo Jamila, a primeira bailarina que comprovadamente apresentou esta dança, várias lendas sobre o uso da espada pelas mulheres do Oriente, em forma de dança, existem, mas nenhuma delas pode ser tida como real, já que o próprio povo daquela região não aceita esta dança como parte de suas lembranças culturais.

Uma forte característica trazida para o Estilo Tribal das danças tribais é a coletividade. 

Não há performances solos no Estilo Tribal. As bailarinas, como numa tribo, celebram a vida e a dança em grupo. Dentre as várias disposições cênicas do Estilo Tribal estão a roda e a meia lua. No grande círculo, as bailarinas têm a oportunidade de se comunicarem visualmente, de dançarem umas para as outras, de manterem o vínculo que as une como trupe. Da meia lua, surgem duetos, trios, quartetos, pequenos grupos que se destacam para levar até o público esta interatividade.

Nos anos 80, novas trupes já haviam se espalhado pelos EUA. Masha Archer, discípula de Jamila, ensina a sua aluna Carolena Nericcio as técnicas do Estilo Tribal, criadas por Jamila pra obter um melhor desempenho de suas bailarinas. 

Esta técnica baseia-se nos trabalhos de repetição e condicionamento muscular (e mental) do Ballet Clássico, adaptados aos movimentos das danças étnicas. Incentivada pelas diferenciações do novo estilo, Carolena forma sua própria trupe, que dará novos contornos à história do Estilo Tribal.

O figurino utilizado por Jamila e sua trupe cobria o torso da bailarina, sendo composto (ainda hoje mantido por esta trupe) basicamente por batas do tipo djellaba ou galabias. Isso tirava, segundo Carolena, um pouco da intenção e visualização do movimento. 

Surge então um novo visual ao Estilo, que até os dias de hoje continua predominando no cenário Tribal: saia longa e larga, sem abertura nas laterais ou calça pantalona ou salwar (bombacha indiana), choli (blusa curta de manga longa ou semi, que é tradicionalmente utilizada pelas mulheres indianas embaixo do sari), sutiã por cima da choli, xales, cintos, adereços, moedas, borlas, para incrementar o traje, dar maior visualização aos giros e tremidos etc.

Além deste novo figurino, Carolena e sua trupe FatChance Belly Dance trouxeram ao Estilo Tribal a complementação com movimentos oriundos da Dança Indiana e Flamenca, e a característica mais forte atualmente no Estilo Tribal: a improvisação coordenada. 
Esta improvisação parece uma brincadeira de "siga o líder", e baseia-se numa série de códigos e sinais corporais que as bailarinas aprendem, trupe a trupe, que indicam qual será o próximo movimento a realizar, quando haverá transições, trocas de liderança etc. Para a audiência, ficará a impressão de que aquela trupe está desenvolvendo uma coreografia diversas vezes ensaiada, mas ao contrário, elas estão improvisando todas as seqüências na hora, sem que com isso percam o sincronismo e a simetria em cena.

Ainda falando das inovações trazidas por Carolena, a nova postura desenvolvida por suas bailarinas e as posições corporais diferenciadas na execução dos passos dão amplitude aos movimentos, sendo então melhor visualizados pelo público.

Nos anos 90, o Estilo Tribal, passou a demonstrar com mais força a presença da Dança Indiana e ainda mais danças folclóricas foram adaptadas ao Estilo, tudo representado de uma forma simbólica e interpretativa, sem com isso querer traduzir a realidade destas danças, já que estão totalmente fora de seu contexto original.
 (Texto de Shaide Halim - 2008

Nota do Blog:

Em 1987 se dá a criação do FatChance Bellydance, e do ATS. Na década de 90, Jill Parker deixa o FCBD para criar seu próprio grupo - Ultra Gypsy - iniciando o movimento do Tribal Fusion.

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domingo, 23 de agosto de 2015

DE MUITAS TRIBOS - JAMILA SALIMPOUR (Parte II)

Por: Jamila Salimpour | Tradução: Ana Harff 

Texto copiado do site Tribal Mind | Link original e muito mais informações e artigos: http://tribalmind.blogspot.com.br/2010/10/de-muitas-tribos-origem-do-bal-anat_18.html

COBRAS - Em 1969, eu acidentalmente usei cobras. Eu digo acidentalmente porque tínhamos um mágico que usava uma cobra de duas cabeças como parte de seu ato. Ele queria mostrar para o público uma frigideira vazia na qual ele colocava fogo, e depois de girá-la umas quantas vezes no ar colocava a cobra dentro. 

Percebi a reação da platéia, que foi de repulsa e desgosto enquanto ele colocava o animal semi-inconsciente em um saco até o próximo show. Como o tratamento dele com animais faltava compaixão, e pensava que a cobra poderia ser morta acidentalmente (ou não), insisti que ele me desse o bicho. Quando ele me deu, eu simplesmente comecei a encarar a cobra. O que faria com ela? O que ela faria comigo se tivesse a chance? 

Pronto. Aprendi que nem todas as cobras são venenosas, e que na maioria do tempo elas ficam permanecem quietas, até terem fome. Ninguém da troupe queria segurar a tal cobra. Quando eu sugeri adicionar variedade e “besteiras”, uma das respostas que eu recebi foi: “Eu não quero ser uma aberração”. 

Então eu fiz de tudo. Cantei, dancei com copos de água enquanto eu segurava a cobra na minha mão e tocava percussão no meio. Eu nunca havia trabalhado com uma bailarina do Oriente Médio que usasse cobras. Só conhecia os fakirs da Índia, que as usavam, mas eles não dançavam com elas. A dança com cobra foi invenção minha, uma culminação de tentativas e erros depois daquela primeira vez com o animal. Nunca sugeri em uma das minhas perfomances que isso era feito tradicionalmente por bailarinas no Oriente Médio

FIGURINOFoi difícil no começo fazer com que as meninas usassem figurinos tradicionais, que usualmente as cobriam da cabeça aos pés, porque elas queriam mostrar suas formas. Então eu me cobri e as acompanhei nos seus solos. 

COREOGRAFIAS - Nas minhas primeiras aulas em Berkeley, mesmo sabendo que eu tinha alimentado os alunos com passos e explicado as fases da dança cabaret profissional, eu descobri que quando pediam a eles para fazerem solos, a maioria se bloqueava, ou fazia todos os passos em dois minutos e olhavam desesperados pedindo ajuda para o resto da dança. Introduzi uma coreografia para ajudá-los a se sentirem confortáveis sem ter que pensar quais passos eles iriam usar. Seguros, sabendo o que ia vir depois, afortunadamente eles foram capazes de se projetar. Isso funcionou bem, e os alunos entendiam mais rápido quais passos usar para a entrada, e o que fazer durante um taqsim, etc. 

Na Feira da Renascença, cada garota sentia que era diferente em sua projeção, mas eu percebi que as repetições eram exageradas, enquanto uma performance atrás da outra consistia em uma dança de três partes, e depois a reverência: entrada, taqsim e final. As caras mudavam, mas a dança era a mesma.
Decidi que no próximo ano, uma variedade de danças seria a peça chave. 

Com a idade de 3 anos, Suhaila abriu o show. 

Aderi à dança das taças de água, que eu havia ensinado em aula. Nós tínhamos também um dançarino da Algéria. A dança karsilama era uma réplica da dança popular turca, a qual muitas bailarinas de cabaret rumavam como parte final da dança para fazê-la ficar excitante. Uma máscara Deusa Mãe foi colocada mais tarde como abertura de um número, minha expressão das origens primitivas da dança. Anos antes eu havia visto uma pintura de Gerome de uma dançarina de espadas durante a Ocupação Turca. Em 1971, eu tive uma estudante que tinha um verdadeiro sabre turco, balançando na cabeça, imitando a pintura. Para o final, ela curvou as costas pra trás e cravou a espada no palco de madeira em uma posição vertical para abrir espaço para a próxima dança. Eu acredito que essa foi a primeira vez que a dança com espadas foi vista nos EUA. Em 1971, eu comecei a fazer coreografias em grupo, e mais tarde eu coreografei um grupo com espadas. 
No mesmo ano eu coreografei minha primeira dança do “vaso”, na qual três garotas balançavam largas cuias em suas cabeças e dançavam em pé no palco. Fui inspirada por uma cena em um palácio Tunisiano no filme Justine, baseado no livro de Lawrence Durrel. Umas trinta mulheres beduínas dançavam ao redor de cinco tocadores de mizmar e um de tabla beledi. Nessa altura, eu adicionei a dança indiana katak. Um excelente dançarino de katak, Chitras Das, havia chegado aos EUA, e estava ensinando na Escola de Música Ali Akbar. Quando eu vi uma de suas performances, eu decidi que fora o respeito que teria pela sua genialidade, eu nunca tentaria presenciar outra dança katak, enquanto seu talento e treinamento estivessem disponíveis.  
        Em 1973 eu terminei minha pesquisa no papel do homem na dança do Oriente Médio, e o primeiro dançarino de bandeja marroquino nos EUA foi mostrado no nosso show. A dança era inspirada por histórias. Esse ano, algumas das minhas alunas estavam inspiradas a mostrar seus próprios talentos coreográficos. A karsilama turca, a dança abdominal, e a dança da espada foram feitas por Rebaba, Khanza e Meta, respectivamente. Foi um momento excitante para mim quando fui capaz de apreciar os trabalhos de minhas alunas. Muitas delas eventualmente deixaram a troupe para formar suas próprias padronizadas após o Bal Anat

Eu soube de algumas depois: West Coast Tribal, East Coast Tribal e American Tribal Fantasy. Eu também escutei da “polícia étnica”, uma expressão que achei bem engraçada. Eu não me ponho contra nada desde que sirva para entreter. A tradição não é estática. Cada geração se vê influenciada pela passada. Evoluída dos salões e performances de rua, até os clubes noturnos e music halls, onde há beledi, cabaret ou folclore, a dança Oriental irá durar. (Jamila Salimpour)

DE MUITAS TRIBOS - JAMILA SALIMPOUR - Parte I - AQUI


Texto original - AQUI 
(Links no texto traduzido, adicionados por Carine Würch)

sábado, 22 de agosto de 2015

DE MUITAS TRIBOS - JAMILA SALIMPOUR

Texto copiado do site Tribal Mind | Link original e muito mais informações e artigos:  http://tribalmind.blogspot.com.br/2010/10/de-muitas-tribos-origem-do-bal-anat.html

Por: Jamila Salimpour | Tradução: Ana Harff
Quando eu me mudei para Berkeley, Califórnia em 1967, a cidade estava cheia de estudantes que, estimuladas pela música Indiana de Ravi Shankar, estavam prontas para escutar e olhar para outra importante importação do Meio Oriente. A reação pela minha dança foi encorajadora, e eu via enquanto as alunas absorviam os movimentos e transições, e começaram a responder à música. À medida que minhas técnicas de ensino foram se tornando mais refinadas devido a ensinar em quatro aulas por semana, as alunas começaram a aprender mais rápido. Três das minhas estudantes adolescentes que estavam na Berkeley High (ensino médio de Berkeley) na época falaram sobre o que haviam aprendido a todas suas amigas. O seguinte resultado foi espontâneo, sim, técnico, não – mas ninguém parecia se importar! Eu fui informada que elas foram perguntadas e fizeram performances para seus amigos, mas de maneira alguma elas estavam “prontas” para dançar publicamente.

Muitos das minhas alunas estavam desaparecendo das minhas aulas de sábado. Como profissional eu fiquei em choque quando uma delas me convidou para o que elas chamavam de Feira da Renascença (Renaissance Pleasure Faire), a qual elas estavam indo aos sábados. Eles me explicaram que era uma feira de arte, como um imenso circo ao ar livre baseado no século XVI. Continha comida e entretenimento daquela época, juntamente com aparições da “nossa majestade” Rainha Elizabeth, que dava um prêmio ao melhor artesão em exposição da Feira. Malabaristas, mágicos, mímicos, qualquer tipo de entretenimento era encorajado. Uma tentação era que qualquer um que viesse com uma fantasia de época ou qualquer coisa, podia entrar sem pagar. Eu entrei grátis porque estava coberta dos pés à cabeça em um figurino de beduína, o que se mostrou ser uma fantasia para o pessoal da Feira.


Toda Berkeley estava lá, e claramente todas as ninfetas do colegial e suas amigas estavam lá com suas fantasias de dança do ventre. A cena com a qual me deparei na Feira da Renascença foi além das minhas crenças. Eu tentei ir do meu jeito, mesmo me arrastando num ritmo de tartaruga ou ficando completamente imobilizada, porque a cada cinco passos uma multidão se reunia ao redor de uma noviça balançando-se, completamente abandonados em sua interpretação. Uma de minhas alunas me reconheceu, e me puxou para conhecer a coordenadora do entretenimento, uma exausta, esgotada mulher que atendia pelo nome de Carol Le Fleur. Seu cumprimento foi zangado, “Então você é a professora de Dança do Ventre responsável por tudo isso!” Ela tentou um meio sorriso enquanto fazia uma massagem em todas as partes. “Escute”, ela disse desesperadamente, “Você tem que fazer alguma coisa a respeito. Eu digo, não é que eu não goste de Dança do Ventre ou coisa parecida. Mas são muitas delas. Estão por toda Feira, parando o tráfego, nas estradas, nos palcos, caindo de árvores... Elas estão por toda parte!!!” Ela continuou a usar o sorriso, mas estava realmente desesperada. “Não podemos ter isso próximo ano. Tem que ser organizado: somente nos palcos, limitado em trinta minutos. Já é o suficiente!” Eu assegurei a ela que iria explicar isso as minhas alunas, e que íamos cooperar. Eu desejei a ela boas vibrações, e continuei adiante, preferindo, devo dizer, tentar abrir caminho através da Feira para ver por mim mesma o que estava acontecendo.
           
Naquela época o entretenimento não estava organizado. Havia diversos pequenos palcos ao longo da Feira, e um grande palco no qual todas as pessoas dos concursos tomavam lugar. Qualquer um, apresentador ou não, podia ir ao palco e fazer o que queria. O pessoal da Feira disse “nada moderno”, mas algum Blue Grass e Jazz podiam ser escutados ao longo do caminho até que um guarda chegasse e tivesse que explicar que o ato deveria ser de “época”.
           
Onde a Dança do Ventre se encaixa em tudo isso? Quem sabia e quem se importava! Foi um deleite para a platéia, e eu penso que mais do que qualquer coisa que havia ali, aparte, os figurinos eram atrativos. O número de alunas que se apresentaram era acima da média, e eu chamei algumas das minhas avançadas para fazerem parte comigo da Feira.

Foi em setembro de 1968 que a idéia da troupe nasceu na minha cabeça. Mesmo não tendo nenhum músico aquele ano, eu batuquei durante um show de meia hora, tocando os tempos necessários de cada aluna, acompanhada por uma bailarina de folk que recentemente havia adquirido a darbouka e se dedicado a aprender para tocar nos palcos. Que bagunça! Que triste apresentação! Mas ninguém sabia a diferença além de mim. Eu sorri e apoiei cada uma delas, e o público adorou. Eu torci por um show de verdade no próximo ano.

Desse modesto começo, o núcleo da minha troupe estava formado. Na busca de um nome, eu queria honrar a Deusa Mãe, Anat. Eu antepus seu nome com bal, a palavra francesa para dança. Então, Bal Anat, a Dança da Deusa Mãe.

Eu sabia que o formato cabaret não seria apropriado para a Feira, e foi quando minha experiência no Ringling Brothers Circus (circo no qual Jamila fez parte) veio ao meu resgate. Eu padronizei o Bal Anat como um show de variedades circenses que qualquer um desejaria ver em um festival árabe. Eu criei um show de variedades que representa um meio-termo de estilos de danças antigas com o Oriente Médio.  Em acréscimo, tínhamos dois mágicos, Gilli Gilli do Egito, e Hassam do Marrocos. Nossas dançarinas-acrobatas egípcias eram tão flexíveis quanto seus predecessores. Nós inclusive tínhamos um professor grego de matemática da UC Berkeley (Universidade), que sabia como pegar uma mesa com os dentes, com Suhaila encima dela.

Foi um olhar com um formato que eventualmente foi imitado por todos os Estados Unidos, quem era profissional às vezes sabia, mas na maioria das vezes não, de onde isso havia surgido. De fato, muitas pessoas acharam que essa era a “dança real”, quando na verdade era metade real e metade besteira. Nossos folhetos informavam ao público que nós vínhamos de muitas tribos. Talvez fosse essa a expressão da origem “dança tribal”.


As batidinhas “tribais” do show começaram a crescer naturalmente a cada ano. Em 1969, nós lidamos com o problema da música. Eu sempre as havia reproduzido à portas fechadas, e as usado para amplificar instrumentos musicais. O problema em reproduzir em uma feira a céu aberto do século XVI era que eles queriam que fosse completamente autêntico, e isso significava nada de eletricidade, baterias, amplificadores portáteis, e nenhum truque acústico do século XX. Nós tivemos que voltar às noites prévias das músicas das tribos. Em ordem de projetar em um espaço aberto, eu acumulei tantos fazedores de barulho quanto possíveis, como snujs, sistrums (instrumentos de percussão), tamborins, batedores de madeira, derbakes, mijwiz (flauta de madeira originária da Síria), mesa de beledi (grande bumbo que tinha uma tira para segura-lo), edefs (parecido com tamborim). A troupe estava instruída a fazer o zagareet, a ululação que a sociedade do Oriente Médio utiliza (nosso famoso lilillilili).
Todos os profissionais de música com os quais trabalhei não estavam interessados em levantar cedo, iam por aí em lugares desertos, brincando com a poeira, e o pior de tudo, não sendo pagos ou ouvidos de uma forma decente. Somente Louis Habib, barbeiro em tempo integral e algumas vezes músico, se voluntariou para tocar para nós “apenas por diversão”. Não faz muito tempo que não era apenas por diversão para ele. O oud (cordofone em forma de meia pêra ou gota, similar ao alaúde) é um instrumento delicado, que é facilmente bloqueado pelo som das baterias. O mesmo com o mizmar (oboé egípcio). Depois de ensinar á música do mizmar por anos, eu finalmente comecei a colecionar alguns deles, e comecei a perguntar para os artesãos da Feira se eles não gostariam de colocá-los entre suas coisas. Nós sempre tínhamos artesãos perguntando para nós se eles podiam “se encaixar”. Eu queria alguma organização, mas estava ficando difícil de controlar. A primeira coisa boa, um som quase-Oriente-Médio de um tocador de mizmar que tínhamos era de um artesão/músico, Ernie Fishbach, quem se aventurou na música indiana, e tinha uma queda pelo Oriente Médio. Ele virou a espinha dorsal da nossa orquestra, ensinando entusiastas que estavam dispostos a inchar suas bochechas por trinta minutos, três vezes por semana. Os hipnóticos guinchos de várias mizmars, com beledis e derbakes,acompanhados de bailarinas, se tornou para muito de nossos fãs o som da Feira.
 
...continua - PARTE II


Texto original - AQUI 

(Links no texto traduzido, adicionados por Carine Würch)

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

JAMILA SALIMPOUR: A MÃE DO TRIBAL

Jamila Salimpour: The mother of American belly dance

Texto da bailarina Asharah, do seu blog: http://bdpaladin.com/2010/10/12/jamila-salimpour-the-mother-of-american-belly-dance/ postado em 2010 - tradução livre Carine Würch

Em setembro, tive a honra de estudar o formato de Jamila Salimpour na Escola de Dança do Ventre Suhaila Salimpour. Cinco dias de dança até o meu corpo doer, tocando címbalos (snujs) até que meus dedos ficarem azuis, aprendendo a história da dança do ventre até não caber em mais informação... 

Palavras não podem descrever adequadamente o quão incrível e inspiradora esta experiência foi para mim. Todas as manhãs, os nossos fiéis assistentes de ensino, Anna e Dilek, nos levariam através de um vigoroso warm-up, e então, eles e Suhaila, nos levariam através de cada passo e variação do formato Jamila Salimpour, cada padrão dos címbalos, e até mesmo as origens de cada passo, se conhecido. Todas as tardes, depois do almoço, Jamila Salimpour em pessoa, cheia de vida e vigor, mesmo com 84 anos, viria contar histórias. Ela nos deliciaria com histórias de sua infância: como ela saiu de casa aos 16 anos para se juntar ao Ringling Brothers Circus, seus três casamentos e divórcios, suas experiências nas boates, e como ela criou o seu formato em primeiro lugar. Em seguida, nos levantaríamos e ela daria o comando dos movimentos e padrões de címbalos e nós dançaríamos um pouco mais.

Eu pensei que um workshop como este estaria totalmente lotado. Mas não estava. Apenas 10 pessoas se inscreveram. Alguma da falta pode ser atribuída à época do ano. Mas eu ainda me pergunto: Por que não haviam mais pessoas neste workshop? Por que alguém iria deixar passar a oportunidade de estudar as raízes dança do ventre americana, com a mãe de tudo, Jamila Salimpour, a mulher que criou a idéia de "estilo tribal", que cunhou o termo "Queda Turca", "Maya "e" Básico Egípcio "? Também me faz pensar: Quantas pessoas sabem o quão importante o formato de Jamila é a dança do ventre, particularmente, para qualquer bailarina(o) que identifica a si mesmo como estilo "tribal"?

Enquanto aprendíamos cada passo, eu relacionava o início do American Tribal Style (ATS). (Masha Archer, uma estudante de Jamila, ensinou Carolena Nericcio, que criou o que hoje conhecemos como a improvisação do estilo tribal de dança do ventre americano - ATS.) O "básico egípcio" em ATS é realmente "Pivot-Shift-Step" de Jamila Salimpour. O "Pivot Bump" no ATS está diretamente relacionada à "Pivot anti-horário" de Jamila. A "família de passos árabes" no formato Jamila Salimpour tem uma relação direta com variações Árabe da ATS. O "Árabe 1" e "Árabe 2" no formato de Jamila tornaram-se eventualmente passo árabe básico ATS. O "Árabe 3" se tornou no ATS "Torção quadril". "Árabe 4"  tornou "Shimmy Turco". As conexões são tão óbvias, uma vez que você mergulha no formato de Jamila.

Estudando o formato Jamila Salimpour no estúdio de Suhaila com  a própria Jamila Salimpour presente é uma oportunidade única. Se você tem a oportunidade, não importa o estilo de dança do ventre que você estude ou pratica, você absolutamente deve ir. Parcele. Coloque no cartão de crédito, se necessário. Jamila Salimpour já está com de 84 (e agora já com 87) e, mesmo que gostaríamos que ela ficasse, eventualmente ela vai partir. Ela é uma força da natureza, uma pioneira, uma mulher poderosa e mágica, que tem experiência e conhecimento sobre a dança do ventre que a maioria de nós apenas sonhar em ter.

Para abrir o apetite, dou-lhe dois artigos de Jamila Salimpour sobre suas experiências como uma dançarina do ventre, a criação de seu formato e as origens do verdadeiro "tribal" da Companhia Bal Anat. 



Faça um enorme favor a si mesma. Leia esses artigos. Saiba mais sobre Jamila Salimpour e como ela mudou a história da dança do ventre contemporânea. Conheça as suas raízes. E saiba que tribal não começa com American Tribal Style e FatChanceBellyDance, que começa na sua forma mais coesa com Jamila Salimpour e Bal Anat.

Fotos de Suhaila Salimpour criança, Aida al Adawi, Mish Mish, Galya, Katrina Burda em apresentações do grupo. Jamila dando aulas.
http://www.suhailainternational.com/salimpour-legacy/bal-anat-original/photo-gallery

terça-feira, 18 de agosto de 2015

HISTÓRIA DO TRIBAL - PARTE 2

Tema: Carolena Nericcio, ATS® e FCBD® - Por Rebeca Piñeiro
Na História do Tribal – Parte 1, falamos sobre Jamila Salimpour e seu grupo Bal Anat, sobre Masha Archer e sua importante influência no estilo. Nossa viagem ao tempo parou citando um nome que é a origem do que conhecemos hoje como Tribal: Carolena Nericcio.
Estudante e amante de moda, Carolena, considerada mãe do estilo Tribal, estudou “Belly Dance” (como era nomeado o estilo na época) com Masha Archer por 7 anos de forma intensa e admirava Masha em quase todos os sentidos, exceto por sua falta de flexibilidade para novas mudanças. Esse foi um dos motivos pelo qual começou a ministrar aulas em São Francisco em meados dos anos 80 após o término do grupo que integrava liderado por sua mestra Masha, o “San Francisco Classic Dance”.
Carolena manteve em suas aulas a postura altiva, ideias dos trajes e alguns movimentos como “hand floreo” e ” camel walk” entre outras características de Masha, modificando principalmente a forma de improvisar, quantidade de pessoas dançando juntas e a comunicação entre as dançarinas dentro e fora dos palcos. Nasce então o FCBD®FatChanceBellyDance® que seria mais para frente titulado como ATS®, sigla para AmericanTribalSyle®, estilo com movimentos inspirados em danças folclóricas do Oriente Médio e da Índia. Esteticamente o ATS® é baseado na riqueza de têxteis e jóias do norte da África e Índia. ATS® é um método de improviso coordenado em grupo, usando um vocabulário de movimentos naturais e senhas permitindo que os bailarinos se comuniquem com gestos ao dançarem juntos.
Sua personalidade sempre foi considerada difícil e isso poderia acabar ou fortalecer seu grupo ainda mais, porém, Carolena sempre foi muito respeitada e admirada por muitos, deixando seguidores e interessados em aprender seu estilo por onde o apresentasse.
Após ser diagnosticada com Esclerose Múltipla, Carolena decidiu dedicar-se ao ATS® em tempo integral e deu inicio ao projeto de registrar os fundamentos do estilo desenvolvido por ela em DVDs didáticos, DVDs de shows de seu grupo FCBD®, firmou parcerias com músicos e ainda hoje investe em registrar o máximo que puder sobre o estilo desenvolvido por ela que hoje é conhecido ao redor do mundo. Vegana e amante de exercícios, Carolena cuida da saúde se alimentando apenas de comidas que não tenham origem animal e frequenta academia regularmente. Essa rotina faz com que a mãe do Tribal esbanje saúde, beleza e ótima energia aos seus “50 e poucos anos”.
Carolena Nericcio é hoje um nome sinônimo de estilo tribal na subcultura americana. Em entrevista exclusiva, Carolena fala um pouco mais sobre sua criação, seus pontos de vista sobre o Tribal nos tempos de hoje e planos futuros. Clique aqui para conferir a entrevista exclusiva para os leitores da Shimmie que tive a honra de fazer durante minha viagem aos EUA em novembro de 2012 para me formar Sister Studio FCBD® com esta mulher admirável.
Na História do Tribal- parte 3, iremos entender “como” e “porque” o ATS® é base para o Tribal Fusion e falaremos mais sobre este tão misterioso e instigante estilo de dança.
Fontes:
Visite e curta: Nossa Tribo & Nossa Dança

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

HISTÓRIA DO TRIBAL - PARTE 1

Tema: Jamila Salimpour , Bal Anat e Masha Archer Por Rebeca Piñeiro
Matéria exclusiva para Revista Shimmie Ampliando Conceitos 
TEXTO ORIGINAL - http://www.campodastribos.com.br/historia-do-tribal-parte-1/
Nosso primeiro estudo será sobre Jamila Salimpour e seu grupo Bal Anat, sobre Masha Archer e sua importante influência para o Tribal. Reconhecida como a bailarina que originou o que hoje conhecemos como Tribal, Jamila Salimpour despertou seu interesse pela dança oriental através de seu pai que em 1910 encontrava-se em uma base militar siciliana e através de sua senhoria egípcia.
Começou a dar aulas no inicio anos 50 com muita dificuldade, uma vez que não havia aprendido formalmente as técnicas devido a falta de professores, escolas ou métodos para se basear na época.
Foi em 1960 que Jamila pode aperfeiçoar suas técnicas ao se apresentar no “Cabaret Baghdad” na Broadway onde encontrou diferentes dançarinos do oriente médio e pode finalmente catalogar e criar um vocabulário de dança. No mesmo ano muitos dançarinos foram importados do oriente para trabalhar em casas árabes que estavam em alta na época, Jamila então pode assistir shows e aprender ainda mais com nativos do oriente enriquecendo suas aulas e coreografias.
Jamila desenvolveu um método de repartição verbal e terminologia para os movimentos que ainda hoje são usados por dançarinos em todo mundo como “Maya” e “Básico Egípicio”.
Em 1968 Jamila precisou organizar seu grupo de alunos que frequentavam (e de certa forma tumultuavam) uma feira chamada “Renaissance Pleasure Faire”, nasce então o grupo Bal Anat, cujo nome significa “Dança da Deusa Mãe”, primeiro grupo a dançar com espada, cobra e máscara, realizando shows em formato circense baseado na dança de muitas tribos e com música ao vivo. O grupo Bal Anat ficou muitos anos nos palcos mas teve uma longa pausa sendo atualmente revivido por sua filha Suhaila Salimpour que foi e continua sendo professora de muitas profissionais do Tribal como Rachel Brice, Sharon Kihara e Zoe Jakes.
O método exclusivo de ensino de Suhaila é reconhecido internacionalmente e muito procurado por profissionais o Tribal e Dança do Ventre. Hoje, Jamila ministra aulas e workshops no estúdio de sua filha Suhaila Salimpour em Berkeley,CA e continua um ícone na história da dança do ventre e tribal.
Masha Archer foi aluna de Jamila e integrante do Bal Anat. Uma mulher fundamental para a história do tribal, principalmente para o ATS®. Masha dizia sentir que as pessoas do Oriente Médio não mereciam ser os guardiões da dança do ventre já que tinham vergonha de sua própria dança e eram abusivos com suas mulheres.
Tinha como principal meta conquistar o respeito do público para a arte da dança, para isso, deixou o Bal Anat e utilizando suas habilidades artísticas, tentou distanciar-se da dança do ventre sempre seguindo as influências de Jamila.
Masha cobriu as pernas com calças pantalonas, trocou o sutiã decorado por um choli indiano modificado e escondeu os cabelos com um turbante. Sua intenção era fazer com que o público admirasse a dança e não apenas a dançarina para entretenimento masculino.
Em 1970 fundou o grupo “San Francisco Classic Dance” com suas alunas, adotando algumas modificações como: postura alta, excluiu movimentos de chão alegando a não valorização da dançarina neles e modificou seu repertório de música passando a dançar músicas populares de vários países do Oriente e não apenas as comuns da época para dança do ventre, dizendo deixar as performances previsíveis.

Masha era muito consciente de que estava tomando liberdades extremas com sua dança e suas raízes culturais, mas sentiu fortemente que a dança era tão especial e tão merecedora de respeito que “não importava o que ela fazia com a dança, dançar sempre seria lindo” e esse foi o último legado transmitido para suas alunas antes de parar de dançar. A trupe de Masha apenas se apresentava em eventos culturais.
Hoje, Masha não dança mais e trabalha atualmente como designer de jóias. Carolena Nericcio foi aluna de Masha Archer e será nosso assunto para o próximo post ” História do Tribal – parte 2″ onde detalharei sua imensa importância para o estilo. Até lá!

Fontes: