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quarta-feira, 13 de abril de 2016

Relato de Fernando Reis sobre o início do Estilo Tribal no Brasil - Parte 4

Material enviado por Fernando Reis em fevereiro de 2016 para Carine Würch e Maria Badulaques. Através deste relato, conta como foi a formação do Estilo Tribal aqui no Brasil, através da Cia HalimFernando foi fundador da Cia Halim junto com Shaide Halim. A companhia foi fundada em 2002 e durou cerca de 08 anos.

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PARTE 04 - Visão do Estilo Tribal no Brasil hoje


Sobre como anda o tribal hoje, penso algumas coisas, todas boas. 

Primeiro que percebi que, desde o desaparecimento da Halim, o estilo se popularizou um bocado pra baixo do Equador (como diz uma música). Mas não tive a oportunidade de ver mais que fotografias e vídeos curtos na internet. 

Tenho contato com algumas bailarinas, vejo algumas publicações com trechos de apresentações de Rebeca Piñero, com peças interessantíssimas de Maria Badulaques, e isso me faz sorrir por dentro, e faz vontade de voltar. 

Vontade, não. Muita vontade!

Tenho a impressão de que o fato de o Brasil ter um público, interessados em dançar, e um mercado para dança do ventre muito grande, muito expressivo, pode favorecer muito o surgimento de novos e bons trabalhos para tribal, ou, como chamamos Shaide e eu desde a época da Cia Halim, dança étnica contemporânea, ou simplesmente fusion (sem deixar de tratar por tribal).

Tenho bastante material nos papéis e no computador. E este material ainda vai criar pele, curvas, movimentos sinuosos, cores, pintas e traços tribais. Na hora certa.

(Maria pergunta) Conta como foi ver a expansão do tribal no Brasil. Você acha que deu uma guinada exponencial após o curso que deu para Kilma na Paraíba?

Gosto desta pergunta, também. Há dois pontos sobre a minha relação pessoal com o quanto o tribal cresceu no Brasil. Um é de uma certa boa surpresa, porque quando a Cia Halim era ativa e eu dela participava, era a única (pelo menos que tenhamos tido notícias à época) companhia de Tribal, ou de danças étnicas contemporâneas fusion

Shaide participou muito mais do processo de ministração das aulas, por muitos motivos. Custava um pouco caro a produção de workshops, com nós dois em estados distantes, e eu ainda estava ligado a um trabalho de uma empresa de cinema em São Paulo, que não permitia ausências prolongadas. Então, fui algumas vezes ao Rio de Janeiro, a Brasília e a Porto Alegre (me roendo um pouquinho por dentro por não ter podido ir à Paraíba).


Mas, mesmo as notícias que me chegavam à distância, e sobre os relatórios que a própria Shaide me passava dos trabalhos fora de São Paulo, me traziam a impressão de que Kilma seria uma das principais, senão a principal representante do Estilo Tribal em toda a sua região. As fotografias a que tive acesso depois me trouxeram outra boa impressão. 

Era para mim possível, mesmo em imagens estáticas, reconhecer a alma da composição de um trabalho para Tribal. Dali em diante, tanto Shaide Halim quanto Fernando Reis não puderam mais pensar em Estilo Tribal da metade do território nacional para cima sem que o primeiro nome que nos viesse à mente fosse Kilma Farias.

Renata Lopes enviou as fotos que são do DVD comemorativo dos cinco anos de companhia (2007). 

Para saber mais sobre Shaide Halim ou Cia Halim, clique nos links.

Relato de Fernando Reis sobre o início do Estilo Tribal no Brasil - Parte 3

Material enviado por Fernando Reis em fevereiro de 2016 para Carine Würch e Maria Badulaques. Através deste relato, conta como foi a formação do Estilo Tribal aqui no Brasil, através da Cia HalimFernando foi fundador da Cia Halim junto com Shaide Halim. A companhia foi fundada em 2002 e durou cerca de 08 anos.

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PARTE 03 - Criação do Nome e Término

Irma Mariotti se transformou em Shaide Halim

Esta parte foi assim. Ela estava empolgada com o projeto (que no começo era mais só dela), e eu dava um ou outro pitaco, sem grandes envolvimentos. Um dos pitacos foi (acho que nem foi tanto ideia minha. Capaz de ela ter pensado nisso porque muitas bailarinas de danças orientais têm nomes artísticos orientais, e Irma é um nome forte, mas super europeu italianão, e poderia combinar mais pra ballet (o que hoje nem enxergo com esta restrição toda) a adoção de um nome artístico. 

Me lembrei de que tive uma colega num colégio e ela se chamava Shaide. Era filha de libaneses, acho. Só falei este nome pra ela uma vez. Os olhos brilharam e ela quase nunca mais, a partir dali, foi chamada de Irma (acho que só a família chama). Ah! E era para ser só Shaide e Halim era o nome da companhia. Um dia alguém se referiu a ela como Shaide Halim, porque acho que o nome da companhia fosse o sobrenome dela, e ficou.


O trabalho da Cia Halim, desde a primeira reunião, foi sempre realizado na pequena sala da casa em que morávamos, na Vila Mariana. Produzimos piso de madeira suspenso do chão, espelho do tamanho de uma parede inteira e procurávamos manter os muitos gatos da casa longe dos trabalhos. 

Então, a Halim era, sim, respondendo à sua pergunta, nossa companhia. 

Mas eu não me sentia patrão de ninguém (o que não quer dizer que quem aceitasse participar da companhia não tivesse que ter consciência de que teria compromissos a cumprir, e que os compromissos representariam cobranças de resultados. Nunca tivemos condições de pagar cachês ou salários, porque nunca tivemos patrocínio ou lucro com bilheterias. Mas não cobrávamos mais que dedicação de quem quisesse e pudesse participar, e que ajudassem no que pudessem (com figurino, com transporte de qualquer coisa pra quem tinha carro...).

A Cia Halim começou a esfriar por duas causas, que acho que só me ocorreram agora por ter que responder a vocês. Uma parte do trabalho estava vinculada a mim, às minhas condições pessoais, e até à minha relação com Shaide. Eu estava envolvido com várias tarefas diferentes, um pouco cansado, um bocado contaminado por meus próprios maus-hábitos, e decidido a me mudar de casa. 

Shaide, por outro lado, embora nunca tenha deixado de se incomodar, naturalmente, com o meu tumulto interior que respingava sobre casa e companhia de dança, tinha sempre o foco voltado para a produção de dança e seus projetos. Se não fossem para tribal, seriam para o que pudesse e gostasse de fazer. E assim, acabou-se a Cia Halim, Shaide deu início a projetos novos e eu fiquei um bocado sem produzir dança (a não ser nos papéis, por enquanto).



Renata Lopes enviou as fotos que são do DVD comemorativo dos cinco anos de companhia (2007). 

Relato de Fernando Reis sobre o início do Estilo Tribal no Brasil - Parte 1


Material enviado por Fernando Reis em fevereiro de 2016 para Carine Würch e Maria Badulaques. Através deste relato, conta como foi a formação do Estilo Tribal aqui no Brasil, através da Cia HalimFernando foi fundador da Cia Halim junto com Shaide Halim. A companhia foi fundada em 2002 e durou cerca de 08 anos.

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PARTE 01 - História de Vida

Vou procurar colocar aqui o máximo do que eu puder me lembrar da história da Cia Halim, da minha história e do quanto procuramos colaborar para a formação do Estilo Tribal nessa nossa terra.

Meu nome é Fernando Reis (é o nome que uso geralmente, para apresentações profissionais, artísticas, em geral), sou Fernando Mendes dos Reis, nos registros. Tenho 41 anos, nasci na cidade de Esplanada-BA, mas sou um bocadinho aculturado da cultura e identidade do povo baiano, porque minha família mudou-se para São Paulo em 1978 (eu tinha quatro anos).

Sempre fomos de uma família um bocado pobre, e, embora isto tenha sido bastante ruim para a vida em geral, teve uma contribuição para saldo positivo (embora eu não seja apoiador de trabalho para menores). Eu vim a ter possibilidades de trabalhos para colaborar na renda doméstica, apoiado primeiro pelo meu irmão Léo Mendes, que trabalha com cinema há uns trinta anos, e depois com o irmão Moacir Mendes, que é publicitário e artista gráfico. 

Durante a minha adolescência vim a saber, entre os colegas da escola (pública), que um rapaz estava reunindo interessados em tomarem parte em um curso de interpretação para teatro. A turma de colegas que me apresentou aquela informação estava mais animada pela possibilidade de os trabalhos resultarem em beijocas nas garotas (para as cenas) que em qualquer ilusão de desenvolverem algum potencial para atuação. Me interessei, mesmo sendo muito tímido (e nem foi tanto pelas beijocas (que jamais aconteceram)).

O professor Edson Araújo Lima, que é um dos meus melhores e mais importantes amigos até hoje (fiz uma arte prum projeto dele esses dias), se mostrou muito bom professor. Junto com os meus irmãos (no cinema, na publicidade e nas artes gráficas), foi um dos maiores responsáveis pelo desenvolvimento de meu interesse e alguma aptidão para interpretação (fizemos um curta-metragem até. Dez anos depois). E naquela época eu, que estava bastante entusiasmado com as aulas de teatro, ouvi falar (ou intuí) que aulas de dança eram muito boas para a complementação da formação de atores. Tomei coragem e me matriculei em um curso de jazz.

As aulas de jazz eram um bocado fracas, mas eu não fiquei propriamente frustrado ou incomodado (afinal aquela não era a única escola e nem a única modalidade de dança). Vi flamenco pelo trabalho com cinema, dentro dos filmes de Carlos Saura, e me apaixonei! Chegou um tempo em que eu já não estava mais estudando teatro e nem só estudando dança por causa do teatro. Eu queria ser mais bailarino que ator.

Nunca foi nada fácil. Eu pobre, sem carro, trabalhando oito a dez horas por dia, com vontades de fazer coisas da vida social, mini-baladinhas de pobre... 

Comecei a fazer aulas de ballet clássico com uns vinte anos, depois de já ter feito um pouco de jazz, por achar que o clássico prepara melhor para tudo o que exija técnica e força. Não era propriamente para ser bailarino clássico... mas fui ganhando bolsas em todas as escolas das quais me aproximei. Os professores me viam com uma certa (alguns, bastante) boa impressão, porque eu era longilíneo, tenho os pés com uma ponta pouco comum, sou bastante en-dehors, e fui fazendo minhas aulinhas dentro da vidinha capenga. Entrei em cursos de dança flamenca, daqueles de pequeníssimas escolas (acho que o André Tiani, que foi meu primeiro professor, nem dá aulas mais) e me apaixonei por flamenco.

Da paixão por flamenco pra começar a dar aulas pra iniciantes na mesma academia em que tive minhas primeiras aulas de dança (jazz) na vida (!!!) foi um pulo.

Uma das minhas primeiras alunas foi Irma Mariotti (guarde isto, porque é importante).



* Renata Lopes enviou as fotos que são do DVD comemorativo dos cinco anos de companhia (2007). 

terça-feira, 6 de outubro de 2015

ENTREVISTAS - MARIA BADULAQUES

Aqui vocês poderão ler um pouco mais do trabalho de Maria Badulaques, entrevistada por Hellen Karolyne Labrino Vlattas, link para o site da autora no final da página.
O QUE É TRIBAL ATS E QUEM O CRIOU??
O ATS® é a sigla para American Tribal Style, foi criado em 1987, Carolena Nericcio-Bolhman, crescendo junto com o FatChanceBellyDance® onde Carolena experimentou e construiu tudo que hoje utilizamos para dançar o estilo e que os bailarinos de Tribal Fusion utilizam como base de suas fusões. A maior característica do ATS® é a improvisação coordenada, permitindo que possamos dançar sem maiores preocupações, visto que não há coreografia, é como prolongar a descontração da sala de aula e leva-la ao palco. Essa improvisação é feita com base em movimentos estabelecidos por Carolena ou que ela aprovou, cada qual com seu nome, intenção e variantes, há ainda os dialetos de cada trupe de ATS®, mas para dançar o necessário é conhecer os combos que pertencem ao General Skills. Dançamos em duplas, trios ou quartetos e com snujs sendo tocados durante toda música rápida, essa formação chamamos de feature e as bailarinas que acompanham logo atrás é o chorus, com movimentos harmonizados ao feature e mais simples. Durante a apresentação os membros do feature vão assumindo a posição no chorus e vice versa possibilitando que todos desfrutem da sensação de liderar e ser liderado. Há ainda os movimentos lentos que utilizamos antes da música rápida, geralmente é esta dinâmica de uma apresentação de ATS®. Lembrando que o ATS® é uma marca registrada, por isso o ® assim sendo pra dançar e chamar de ATS® tem que seguir as regras do jogo.

QUAIS AS BASES (TIPOS) DE DANÇA EM QUE O ATS SE SUSTENTA?
O ATS® tem como referência muito forte o flamenco, com aqueles braços cheios de intenção e giros, a dança clássica indiana, havendo inclusive passos com clara inspiração, como o Sunanda e o Resham-Ka (criações de Megha) e o bellydance.

COMO É VISTO O ATS POR VC? VISTO QUE O MESMO TAMBÉM NÃO DEIXA DE SER UMA FUSÃO?
O ATS® é para mim uma forma de libertação! Demorou muito desde que comecei a estuda-lo até colocar pra fora dançando publicamente, quis entender tudo, encaixar as peças do quebra-cabeças no lugar e me sentir livre com o apoderamento da técnica. E a sensação de subir ao palco pela primeira vez foi: u-huuuu, liberdade!!!

Sim, ele é em si uma fusão! Quando entendi isso me joguei no flamenco que já praticava e fui conhecer as danças clássicas indianas, mais especificamente o Odissi, que pratiquei por um período. Muito importante conhecer as bases dessa dança, lhe possibilita uma movimentação mais consciente e harmônica.

Vejo o ATS® como uma forma de dançar com o espírito livre, me conectando com as irmãs em roda... magia!!!

PARA SER CHAMADO DE TRIBAL, SEGUNDO BAILARINAS DE NOME, SE FAZ NECESSÁRIO TER MOVIMENTOS DE ATS. COM BASE NISSO, MUITAS FIZERAM O PROCESSO DE DESCONSTRUÇÃO DE MOVIMENTOS. VOCE CONCORDA COM TAL PENSAMENTO? LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO AS ABERRAÇÕES NO MUNDO DA DANÇA POR FALTA DO SABER (PESQUISAS, CONHECIMENTO, ESTUDO COM PROFESSORA DO RAMO E TALZ)?
Bem, recentemente, estudando com Kilma Farias escutei uma versão sobre o Tribal Fusion que me intrigou e passei a meditar sobre isso. Antes, pra mim, Tribal Fusion era fusão de ATS® + outro estilo de dança, e aquilo que vinha de uma fusão de dois estilos que não envolvia o ATS®, eu interpretava como FUSÃO. Hoje, pensando no assunto creio que depende do seu ângulo de visão, de como interpreta a dança, sua estética, e se realmente precisamos rotular tudo. O que é isso? É dança, curta! Não pense, aproveite! Há uma gama de profissionais que construíram seu tribal com origens distintas do ATS®...um outro secto, com outras referências. Pelo fato de não usarem ATS® será que deveríamos chamar de Fusão simplesmente? E se fossemos chamar de Fusão, qual o problema? Rachel Brice foi categórica no curso que fiz com ela, o Tribal Fusion tem como mãe o ATS®, contudo Rachel foi aluna de Carolena, portanto vem deste segmento que o usa como referência e base.

Hoje, penso que tudo é dança!!! Se interpreta o Tribal Fusion como filhote do ATS®, ótimo... use (sem abusar) da referência principal e fomente um trabalho limpo com a solidez de duas técnicas (a de base e a outra). Se interpreta o Tribal Fusion sem referências ao ATS®, utilizando a estética de Dalia Carella, ótimo... crie seu trabalho tecnicamente com bases claras no que será sua referência.

Para quem usa o ATS® como base em sua fusão é natural sua desconstrução, afinal se não fosse assim não seria fusão, seria o ATS® in natura, mas em determinadas ocasiões me sinto confusa se a pessoa não sabe a técnica ou se desconstruiu tudo, e aquilo que mostra é intencional, o bom-senso deve estar presente para não causar essa estranheza no público... aliás bom-senso nunca é demais.

O AMERICAN TRIBAL STYLLE TEM QUANTOS ANOS???
Bem, como nasceu na década de 80 tem quase três décadas! U-huuuuuuuu

O IMPROVISON TRIBAL STYLLE (ITS) TAMBÉM É TRIBAL, QUAL A DIFERENÇA DO MESMO PARA O ATS???? E QUEM O CRIOU???
O ATS® tem regras bem claras e estabelecidas, formações, movimentos não cabe criar nada, a criação fica no campo das fusões... então não tocou snuj, não tá na formação estabelecida, não usa os movimentos (combos) do estilo, não é ATS®!!! É mais fácil, quando olhamos uma dança e queremos diagnostica-la analisar assim: é ATS®? Não, não é! Daí, pode ser uma variedade de estilos, inclusive o ITS. Unmata pratica ITS, as Wildcard bellydance também e veja que são estilos totalmente distintos mas que tem como base IMPROVISO COORDENADO, que tipo de improviso? Aquele que a trupe desejar trabalhar, então pode ser visualmente muitoooo próximo ao ATS® ou muiiiito distante.

O CERTIFICADO DA CAROLENA NERICCIO, É UM OURO E UMA GRANDE PORTA DE ENTRADA, VISTO QUE A MESMA É A MÃE DO TRIBAL PRIMITIVO, ME FALE UM POUCO SOBRE AS ETAPAS PARA CONSEGUIR O CERTIFICADO, A TUA EXPERIÊNCIA DE AULA COM ELA FOI DE QUANTO TEMPO???
Nossa, mudou minha vida! Arrepia tudo quando lembro da sua entrada na sala de aula, poder total!!! 

As etapas são concluir todo General Skills (Clássico e Moderno) e então se submeter ao Teacher Trainning, após se escreve um e-mail para Carolena que aprovando seu pedido lhe classifica com o Sister Studio, mas hoje em dia há várias nomenclaturas que Carolena nos estimula a usar profissionalmente, como o ATS® Certified, para quem realizou todo processo e não fez o TT.

Fiz 20h de aulas com Carolena divididas em 4 dias power, esta vivência fez toda diferença na minha dança. Escutar dela como ela idealizou, quais foram suas referências e motivação para o ATS® foi o que colocou todo quebra-cabeças no lugar. Além disso, tive alguns momentos conversando com ela que foram muito especiais pra mim!!!

Minha expectativa é que estudar com Carolena seja somente o ponta pé inicial e que possibilite mais estudo, aprofundamento, afinal o título não significa NADA se o estudo não se perpetua. Somos todos INICIANTES nesta dança, manter o ego controlado e a visão no horizonte.

A DANÇA QUE TEM O IMPROVISO COORDENADO, POR LÍDERES, TAMBÉM CHAMADA DE "SIGA OS PASSAROS". ME FALE UM POUCO.
Flock of birds eis a chave da nossa conexão! Seguimos o líder que se altera conforme a troca, conforme o turn (giro). Dentro deste conceito o que me fascina é que a dança não é sobre o ser individual, mas sobre o coletivo. A sua dança, sua técnica deve se conectar ao da amiga ao lado e devemos ter sempre em mente puxar movimentos dentro da possibilidade do mais inexperiente, afinal não é sobre como você é hábil e sim sobre como o grupo é coeso.

Amo quando entramos no círculo, que me remete as Danças Circulares, e foi numa dança de roda que Carolena desfrutou da liberdade de dançar sem amarras, a partir desta sensação e com ela em mente começou a surgir o que conhecemos como ATS®.

A DEMONSTRAÇÃO DE ATS PODE SER CHAMADO DE SOLO???? VISTO QUE O ATS FOI CRIADO PARA SE DANÇAR VARIOS BAILARINOS NO PALCO.
Sim, se você dança ATS® com uma parceira é um dueto, este é o mínimo para chamarmos de ATS®. Se pretende dançar tudo e mais um pouco sozinha, ainda que usando passos de ATS® chamamos de SOLO, simplesmente solo. No ATS® não há danças individuais porque o conceito e sua estética nos remete ao coletivo.

EXISTE POR CAROLENA UMA QUANTIDADE DE MOVIMENTOS NA SUA TOTALIZAÇÃO???
Não sei se entendi a pergunta, mas se você se refere se os movimentos tem uma quantidade final (ex: x movimentos de ATS®)... se for isso, bem. Temos os passos do clássico, que são aqueles e estes não mudam e não são acrescidos de novos, existe o moderno que já foi a absorção de tudo que estava rolando na ocasião e agora há os dialetos que são criações das trupes. Ou seja, o ATS® evoluiu e continua crescendo ☺

PARA SE ADQUIRIR O CERTIFICADO QUANTO TEMPO SE FAZ NECESSARIO???
Sabe o bom senso? É ele que vai dosar isso! Porque não há uma prova, assim sendo não há reprova, se você se matricular no TT certamente vai ter seu certificado ao termino, basta não perder as aulas, o que pode demorar é a aprovação de Carolena pra lhe nomenclar como uma sister, mas uma vez terminado o TT, certamente se transformará em sister studio uma hora ou outra. 

Então, antes de buscar o título, busque o estudo, respeite suas antecessoras, doe-se, dedique-se... não se trata de TER o título, mas SER merecedora dele. 

O merecimento vem com muiiiiiiiiito, mas muito investimento em aulas particulares, em grupo, estudo solitário em casa é isso que torna orgânica a técnica. Entenda a filosofia da dança, a motivação do DRESS CODE, não só se apoderar da técnica, afinal o ATS® para muitas é um estilo de vida.

A NOVA GERAÇÃO AINDA PROCURA O ATS DE FORMA A DAR CONTINUIDADE??? OU SEJA VC OBSERVOU ISSO ENQUANTO TEVE AULA , OU PELO MENOS DURANTE O TEMPO EM QUE VC CONVIVEU LÁ NA CALIFORNIA???
Eu vou pra Califórnia em 2016, participar de uma rotina puxada de workshops durante o Homecoming e aulas avançadas antes do evento com Carolena e Kristine, mas aqui no Brasil o ATS® tem se expandido muito, o que é ótimo. Há turmas novas e alunas ávidas por dançar tilintando os snujs, coisa de louco quando eles tocam... tudo muda! 

Vejo um futuro promissor sim, seja aqui seja na Califórnia... em qualquer lugar do planeta.

QUAL A VISÃO DA CAROLENA COM RELAÇÃO AS FUSÕES, E A DIFUSÃO DO TRIBAL CRIADO POR ELA, POIS JÁ FOI OBSERVADO QUE MUITOS ADMIRAM O SE TRABALHO A SUA ARTE, MAS, NÃO POSSUEM CERTIFICADO.
Então, ela nos disse que se você olha os passos e movimentos de ATS® e eles fazem sentido para você, então você é uma dançarina de ATS®, mas se tem vontade de mexer aqui, se movimentar diferente ali, então seu caminho é a fusão. Não há melhor ou pior caminho é uma questão de escolha e cada um seguir sua verdade.

Acredito que quanto ao certificado seja também uma questão de investimento, que é bem alto ou talvez uma questão de necessidade, será que o certificado é importante para todos? Depende do que caminho quer trilhar.

QUAL A NECESSIDADE DE SE ESTUDAR POR INICIO O ATS?????
Bem, ele nos dá uma base muito sólida e rica de trabalho! Sabendo e se apropriando da técnica você tem infinitas possibilidades de criação. Há muitos solos de tribal fusion repletos de ATS®, as vezes a bailarina até desconhece que aquele passo é original do ATS®, por isso ser tão importante conhecer realmente as bases de sua fusão, se for o caso.

SUA VISÃO SOBRE AS RAMIFICAÇÕES DO TRIBAL FUSION (DARK, VINTAGE, PIRATE, BURLESCO, BRASIL, INDUSTRIAL, GIPSY ETC)?
Sabe, essa multiplicidade de nomenclaturas me deixam tão confusa!!! Tirando uma ou outra, como por ex: Tribal Brasil que encaro ser mais do que usar música nacional, mas realmente estudar as danças populares brasileiras, entender nossa cultura, coloca-la claramente na proposta e ver o que fica harmonioso na hora da fusão, geralmente olho e penso é dança, ponto final!!! Além do que, tem pessoas que caracterizam sua dança de uma forma e o público interpreta e enxerga de outro. Para que tanta sub-divisão? Chama de tribal, chama de fusão... acho confuso!!! Chama de dança!!!!

Vi Kilma explicando lindamente o que ela entende como Dark Fusion, vejo pessoas chamando de Dark Fusion, uma interpretação bem Gótica, há margem para várias interpretações... acredito que isso é fruto do crescimento, estamos experimentando, reconhecendo o terreno... nos arriscando. O processo é esse, anos na frente é possível que todas essas sub-divisões sejam chamadas simplesmente de Tribal.

DEIXE UMA MENSAGEM SOBRE TUDO O QUE VC APRENDEU NA DANÇA ATS, E COMO ELA TE TROUXE BENEFÍCIOS.
O ATS® mudou minha vida!

Sou advogada de formação, mas sempre dancei, com vários hiatos no percurso, contudo sempre voltando e procurando a dança que moveria minha alma. A libertação, o sentimento de TOU LIVRE, veio com a Dança Circular Sagrada, onde a única prioridade é ser feliz, se conectar com a pessoa ao lado, por isso decidi que o ATS® somente seria apresentado em público quando me sentisse LIVRE e assim foi, estava feliz... tranquila quando me apresentei pela primeira vez, acredito que a única ocasião que senti um certo nervoso em dança-lo foi quando levei minha primeira aluna para sua apresentação inaugural, fiquei mega tensa, mas só até tudo começar... depois é como injeção de adrenalina no corpo, me jogo... e não penso em nada... só me liberto. 

Mudei meu estilo de vida, minha rotina, meu humor (já não chego a noite do trabalho no fórum querendo matar ninguém, porque corro pra alguma aula, ensaio e tudo volta a me harmonizar), minha família maravilhosa mudou também, todos dançam, minha filha, minha mãe (com quem estudo Dança Circular), meu marido e filho apoiam demais, então inequivocamente dançam com os olhos. 

Eu tinha compulsão por sapatos, cheguei a ter centenas e mais centenas de pares, hoje vejo como minhas prioridades mudaram, há meses (várioooos) não compro um par novo, quando meu marido me pergunta o que quer de aniversário, respondo: tal curso de ATS®. E de Natal? Viajar pra tal lugar pra estudar ATS®... enfim, minha vida gira em torno de estudar o ATS®!!! 

E agora invisto no 1º Festival Internacional do blog que criei, o Pilares do Tribal, com Kae Montgomery presente. U-huuuuu

Meu objetivo? Estudar e aproveitar a trajetória. Todas danças que pratico (Dança Circular, flamenco... bata de cola) são formas de estruturar meu corpo e mente para o ATS® e em 2016 junto a uma parceira querida, a Natalia, estarei representando o Brasil no ATS® Homecoming, em San Francisco-CA, um festival destinado ao ATS®. Estaremos levando um dueto com música nacional (Asa Branca do Gonzagão) e vestidas da mais bela chita e crochê, ou seja o ATS® pode ser a cara da nossa cultura, se respeitarmos seu estilo. 

Haja coração, dançar pra Carolena, Masha... com uma música que diz tanto das minhas origens e com um figurino crochetado por minha mãe... estarei levando toca minha ancestralidade e coração em cena, com uma única preocupação na mente: ser perfeita nas imperfeições e feliz com todo meu coração pulsando.

Um forte xero no pulsante cravejado de ATS®.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

BAILARINA - Hellen Labrinos Vlattas


Advogada, membro do Conselho Internacional de Dança CID UNESCO e amante da dança OrientalTribal Brasil e Tribal Fusion. Iniciou seus estudos em dança do ventre em 2007 até 2009 com a primeira professora de Oriental da Paraíba a bailarina e coreógrafa Alecsandra Matias, participando do grupo por ela criado Warda Harém. Em 2011 reiniciou os estudos em dança Oriental no Teatro Santa Roza e no Studio Lunay, sob a coordenação de Kilma Farias, professora, bailarina, coreógrafa.

Em junho de 2012 mudou-se para Grécia e continuou o curso no Artistic Studio ORIENTAL EXPRESSION Oriental sobe a coordenação de Anna Dimitratou no mesmo ano entrou nas classes de Tribal Fusion com a professora Erifily Nikolakopoulou e Tribal Ético com a professora Christina Markopoulou.

No fim do mesmo ano fez seu primeiro solo de Tribal Brasil na Europa. No ano de 2013, participou dos 10 anos da Cia Lunay, aproveitando a oportunidade para fazer Workshop de Tribal Brasil, Combos de Tribal Brasil com Fabiana Rodrigues e 10 movimentos de Tribal Brasil com Jaqueline Lima.

Retornando a Grécia, ministrou aulas no Lar Brasileiro de Oriental e introdução ao Tribal Brasil. Participou do primeiro projeto coletivo de Videodança e Tribal realizado no Brasil, sob a coordenação da idealizadora, bailarina e coreógrafa e professora de artes Mariáh Voltaire. Com imagens realizadas no Egito e na Grécia. Participando de vários festivais e seminários.

A DANÇA COMO INSTRUMENTO DE SOCIALIZAÇÃO.

Ao chegar em lugar pela primeira vez, a sensação de plenitude, acontece sempre com aqueles que amam viajar. As belezas culturais, a diversidade, o paradoxo com o país de origem, são sempre efeitos encantadores e viciantes. Porém, quando se viaja sem o bilhete de volta, além de todas as sensações citadas acima, existe a necessidade de interação com o meio social.

É quando nossa profissão de anos de estudos não pode ser excedida no primeiro momento, bate um certo vazio, e as perguntas começam a nos invadir, sempre nos questionando o fato de ter feito uma viagem sem volta. E nesse momento que muitas de nós, descobrem outros talentos, ou transforma o conhecido hobby (palavra inglesa utilizada para atividades que despendem tempo com o objetivo de relaxamento e prazer do praticante sem que tenha fins lucrativos), em trabalho ou meio de integração social.

Surgindo a vontade de continuar o hobby é que começamos uma nova forma de viver a realidade no exterior. E assim, tantas brasileiras abrem suas pequenas empresas, artesanais ou de produtos brasileiros, outras trabalham com a dança, principalmente com o samba, um dos mais famosos ritmos brasileiros.  Assim sendo, o coração foi tocado pelo sentimento profundo de afastar-se do ambiente inteiramente familiar para novas relações de amizades e trocas culturais.

Quando o sorriso vale mais que mil palavras. Segundo Patrícia Lopes Dantas (2015):
       “A dança, arte de movimentar o corpo em certo ritmo, é uma das três principais artes cênicas da Antiguidade, ao lado do teatro e da música. Enquanto arte, a dança se expressa por meio dos signos de movimento, com ou sem ligação musical, para um determinado público.

Voltando a frequentar as aulas de dança Oriental, ou Dança do Ventre como é chamado no Brasil. E sem saber uma palavra em grego, porém, sabendo dos movimentos em relação a dança, a única função na sala de aula era sorrir, e dizer em grego que não falava grego. Três vezes por semana entrava “muda e saia calada” mas, com a coreografia na ponta dos pés.  

Mesmo assim, as novas companheiras sempre foram gentis e compreensivas. Mergulhando de cabeça na dança oriental e experimento outras danças éticas, participando de vários eventos, e tendo a honra de pisar pela primeira vez em um palco grego, o teatro Dora Stratou.

Quando bate a saudade de casa.

Quem mora longe sabe, o quanto ficamos bem mais patriotas, além da saudade de casa, da família, dos amigos, da música, da dança e dos sabores típicos.  Fazendo surgir fusões de ventre e samba, estudos de Tribal Brasil Bellydance. Dançar ao som, de Luiz Gonzaga, João Cassiano, Forró In The Dark, utilizar da capoeira, e de momentos afro-brasileiros, além de outras danças folclóricas, tornam a vida muito mais fácil.  Mostrar algo diverso e tão enraizado em na alma, faz esplandecer toda ternura que de certa forma encobre a saudade.

Os figurinos floridos ou coloridos, as flores no cabelo, o sorriso no rosto, a imensa alegria, são carteiristas que todas os outros países nos atribuem, todos em algum momento já se deparam com explanação: “os brasileiros são pessoas alegres”. Enfim, promover a cultura do país de origem pela arte, também é diminuir a saudade carregada no peito. 

Aqui sue blog pessoal: http://www.elenisymban.eu/

terça-feira, 22 de setembro de 2015

ENTREVISTAS - BIA VASCONCELOS

Entrevista concedida ao jornal Tribuna Feirense em março de 2014.
Texto completo - aqui.

Há quanto tempo a dança faz parte de sua vida e como descobriu a dança tribal? Iniciei meus estudos em dança em 1997 com aulas regulares de Balé Clássico pelo método da Royal Academy of Dancing na Escola de Dança Elisângela Gomes em Feira de Santana. Sempre fui uma criança e adolescente ativa. Também participava de peças na escola e seguia com o Ballet Clássico, importante para me dar as noções fundamentais e os princípios norteadores da dança. 

Ao entrar na faculdade de Direito (formei em 2007 na Universidade Estadual de Santa Cruz em Ilhéus), dei uma pausa para aprofundar meus estudos acadêmicos. No entanto, não consegui ficar muito tempo longe e dessa vez comecei a treinar a Dança do Ventre por sugestão de meu namorado na época.Me apaixonei pela dança oriental e em pouquíssimo tempo tive a oportunidade de monitorar as aulas de minhas professoras, Soraya Loureiro (PE), Kátia Jade (BA) e Rosane Araújo (BA). A experiência do clássico facilitou bastante a assimilação dos movimentos e da técnica oriental. Naquele momento soube que seguiria lecionando e investi, de fato, numa carreira profissional.
Estudando e pesquisando bastante a dança do ventre, descobri um estilo até então recente no mundo inteiro: o “American Tribal Style’’ e ‘Tribal Fusion Bellydance’’. Naquela época não existiam professoras deste estilo na minha cidade e tão pouco em outros estados do Brasil, com raríssimas exceções.Parti então para um estudo autoditada mesmo, porém com bastante disciplina. Comprava DVDs internacionais de aula (já que não havia material produzido no Brasil até então) e treinava todos os dias. Só em 2007 fiz meu 1º workshop presencialmente com uma professora de tribal, a Bela Saffe, em Salvador/ BA.  Felizmente, o início de minha trajetória no Tribal coincidiu com o período de crescimento do estilo no País. Este crescimento e procura acentuados oportunizou a vinda das bailarinas estrangeiras, precursoras da modalidade. Investi nas aulas e pelo País afora fiz workshops com inúmeras bailarinas nacionais e estrangeiras, dentre elas a Samantha Emmanuel (UK), Anasma (FR), Sharon Kihara, Mardi Love, Kami Liddle, Mira Betz, Lady Fred e Rachel Brice (EUA), dentre outras.
Como você define a dança tribal? O Tribal é um estilo que foi desenvolvido e sistematizado nos Estados Unidos no final dos anos 80 e que utiliza a dança do ventre como base estrutural, mas mescla outros gêneros como a dança indiana, flamenca e folclóricas de várias ''tribos'' do mundo. Há 2 vertentes principais: o  ATS (American Tribal Style) e o Tribal Fusion. O primeiro, desenvolvido pela bailarina Carolena Nericcio em São Francisco/CA, caracteriza-se pela improvisação coordenada de gestos, um repertório comum firmemente estabelecido e dogmatizado, trajes folclóricos ricamente adornados, músicas folclóricas e uma postura altiva, típica do flamenco. Já o Tribal Fusion é, como a tradução sugere, uma fusão do ATS (necessariamente) com alguma outra influência que vai da dança contemporânea, break dance até a dança dos Balkans (leste europeu) e Vaudeville. Como se pode notar, o Tribal Fusion acrescentou um leque de possibilidades ao estilo original e trouxe consigo a simplificação dos trajes, o uso de coreografias e a utilização de músicas ocidentais modernas.

Existe alguma ligação do Tribal com as danças folclóricas aqui no Brasil? O Tribal permite a  fusão do ATS com elementos de danças étnicas de várias partes do mundo, dentre elas as danças populares brasileiras. Desta forma, vários grupos passaram a fusionar o tribal com danças folclóricas nacionais, surgindo então o Tribal Brasil. Elementos das principais danças regionais do país são utilizados para compor a modalidade, dando uma nova roupagem e enriquecendo o estilo que é desenvolvido aqui.

Você é a pioneira desse estilo em Feira. Como tem sido a aceitação? Comecei a ministrar a dança tribal em 2008, até então inexistente na cidade, no meu próprio espaço de danças. O trabalho que fui realizando gerou o interesse por um número cada vez maior de alunos o que oportunizou a migração das minhas aulas para o Centro Universitário de Cultura e Arte da UEFS em 2009.Desde então as oficinas de tribal funcionam com as turmas sempre cheias e a Instituição se tornou a principal referência no que concerne as aulas de tribal em Feira. O CUCA também é o principal parceiro e realiza junto comigo o Oriental Fair: Festival de Dança Bahia/ Brasil que movimenta há 4 anos o cenário da dança tribal da região. Também passei a ministrar as oficinas de Tribal em outro importante Centro Cultural, o Maestro Miro, que oferece as aulas gratuitamente para toda a cidade ampliando ainda mais o acesso de público ao estilo que ministro.

Desta forma, a aceitação tem sido super positiva uma vez que as aulas estão sempre cheias e foi possível realizar desde 2011 o Festival Oriental Fair que se solidificou a ponto de fazer parte do calendário oficial dos eventos mais importantes do País, trazendo bailarinos de todos os estados que além de ministrarem cursos, se apresentam no Show Oficial que é gratuito para toda a comunidade.

O Oriental Fair é um evento que têm ganhado bastante repercussão. A que você deve este sucesso? O sucesso do Oriental Fair só é possível porque temos uma equipe comprometida com o evento durante todo o ano. O elenco do evento é formado pelas alunas dedicadas dos espaços culturais onde ministro aulas e de convidados vindos de fora. Durante essas 3 edições do evento já passaram por Feira de Santana bailarinos profissionais da Paraíba, Rio Grande do Norte, São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal além de todo interior do estado da Bahia e capital havendo um grande intercâmbio e troca de informações entre todos os envolvidos. Para os alunos é uma experiência enriquecedora dançar num grande palco com toda a estrutura que é o do OF e ao lado dos maiores bailarinos do estilo no País. Além de funcionar como um incentivo a permanecer nas aulas, sinto que a cada ano os alunos se aperfeiçoam fazendo com que o evento ganhe contornos cada vez mais profissionais. Ademais, um diferencial importante do OF é que ele é temático, ou seja, a cada ano as coreografias, músicas e cenário dizem respeito a um tema importante, geralmente histórico, tornando-o muito mais didático e atraente a todos os públicos, não só os da dança. Não posso deixar de citar as importantes parcerias que o evento mantém, sem as quais seria impossível viabilizar um evento do porte do Oriental Fair mantendo workshops com preços populares e shows gratuitos.

Como você se sente ao representar a cidade de Feira de Santana pelo País afora? Sinto muito orgulho de minha cidade, que abrigou e enaltece o meu trabalho desde o início. Representar Feira de Santana em todos esses eventos pelo País é motivo de grande orgulho. Hoje Feira já é lembrada por sediar um número considerável de alunos da dança tribal. Nosso grande público e alunos interessados ganharam destaque nos festivais nacionais uma vez que muitos bailarinos de fora fazem questão de vir dar aula e se apresentar em nossa cidade.

Como foi a experiência de participar mais uma vez do Shaman´s Fest? O diferencial deste evento é que contou com a presença da bailarina americana Rachel Brice, uma das fundadoras do Tribal Fusion e a fonte de grande inspiração para a maioria dos praticantes do estilo no mundo inteiro. Tive a oportunidade de fazer o curso profissional restrito a apenas 30 bailarinos selecionados da América Latina, além de ter me apresentado no Show de Gala. Representei não só minha cidade, mas também o meu estado no curso profissional e no grande show que já é considerado o maior encontro de Dança Tribal da América Latina.

O que você está trazendo para Feira de Santana, a partir dessa experiência? Acreditando que a principal característica da dança é a partilha de conhecimentos entre os envolvidos, trarei para a cidade uma série de workshops onde apresentarei as vivências e técnicas ministradas pela Rachel Brice durante o Curso Profissional. Desta forma, mesmo as pessoas que não puderam estar presentes no evento terão a oportunidade de se reciclar a partir desses cursos que lecionarei na cidade. Serão 4 módulos e o a primeira aula está agendada para o início de abril em comemoração ao mês que é dedicado à dança. Nos cursos serão abordados as principais técnicas, as sequências coreográficas e seleção musical adotada pela norte-americana.

Como você avalia a realidade deste estilo na cidade? O Tribal é uma dança recente no mundo inteiro e em nossa cidade apenas começou em 2008. Apesar de todo o avanço que foi conquistado ano a ano, sinto que ainda há muito trabalho a ser feito no que concerne a divulgação do estilo (pois muita gente ainda não o conhece), aprimoramento da técnica que observo em muitos praticantes e profissionalização/ aperfeiçoamento dos grupos que se apresentam. É preciso também muito estudo e bom senso, pois nem tudo que é fusionado pode ser chamado de Tribal. Porém, o mais importante é que haja união e entendimento por partes de todos que se propõem a dançar o Tribal, pois como o nome já diz, somos membros de uma mesma ''tribo'' onde elementos como respeito, solidariedade, gratidão e humildade devem estar sempre presentes.

Quais os planos para 2014? Além dos workshops especiais, o ano de 2014 promete muitas surpresas boas! Vem aí a 3ª edição do Festival Belly Fest que será realizado entre maio e junho e a 4ª edição do Oriental Fair: Festival de Dança Bahia/ Brasil que será realizado em novembro. Já estão confirmadas atrações vindas de São Paulo, Rio Grande do Norte e Distrito Federal. Serão mais de 12 horas de aulas e shows gratuitos durante 3 dias de atividades relacionadas as danças orientais. Em todas as edições do evento houve sucesso de público e grande repercussão nacional. Não será diferente nesta 4ª edição que promete surpreender a todos e se tornar um evento inesquecível mais uma vez! Desde já estão todos convidados a fazer parte desta tribo!

terça-feira, 15 de setembro de 2015

ENTREVISTAS - JOLINE ANDRADE

Foto: Marcelo Cunha
Hibridismos de Joline Andrade Foto: Marcelo Cunha
Matéria do site - Mulheres na Dança de 2013

Dançarinas tribais subvertem estereótipos, na medida em que fazem recortes de diversos estilos de dança, assim como em uma “Collage” e criam suas danças a partir de sua própria vivência. Joline Andrade é bailarina especializada nesse estilo de dança, pós graduada em Estudos Contemporâneos sobre Dança pela Universidade Federal da Bahia e reconhecida internacionalmente pela qualidade de seu trabalho. Em março de 2013 esteve presente no The Massive- Las Vegas, dançando no evento mais importante das estudiosas dessa arte. Joline, essa talentosa e inteligente artista, gentilmente nos conta aqui a respeito de seus processos híbridos de criação.

O que é dança de fusão, dança Tribal e a sua especialidade, Tribal Fusion? Numa tentativa de acompanhar a liquidez das informações no mundo contemporâneo, a dança tribal, popularmente chamada de dança étnica de “fusão”, surge como proposta de agregar diferentes manifestações de danças étnicas das mais variadas regiões do mundo, e busca mesclar referências e matrizes de danças tradicionais e transpô-las numa estética contemporânea atualizada. É uma linguagem que, tendo como referência a dança do ventre, mescla conceitos e movimentos de danças étnicas como o flamenco, a dança indiana, danças do Hiphop, ou seja, danças de diferentes culturas e regiões do mundo bem como o(a) yoga. É relativamente recente no mundo da dança (surgiu em torno da década de 60, na Califórnia, durante os movimentos contraculturais do Woodstock), mas bebe na fonte de diversas culturas antigas e mistura tudo numa alquimia contemporânea.

A partir dos estudos em sua monografia “Processos de hibridação na Dança Tribal: Estratégias de transgressões em tempos de globalização contra hegemônica”, pensando em recortes de danças étnicas e processos de hibridação em dança, você acredita ser necessário haver um cuidado ético, no sentido de apropriação de movimentos, criação de métodos e principalmente em tentativas de fazer exigências nos estudos de bailarinas e alunas de tais métodos? Certamente. A dança tribal tem um sistema de códigos específicos baseados em matrizes da dança do ventre, indiana, flamenca e danças do hiphop (popping, locking, ticking, strobe, etc.). Por ser uma dança híbrida nós, artistas e agentes criadores, temos a possibilidade de expressá-la com perspectivas tradicionalistas (ATS, ITS) – que prezam pela manutenção de uma forma/estética, um sistema de códigos – e com perspectivas contemporâneas (Fusões, performances inspiradas na linguagem) – que se propõe a uma desestabilização do sistema em função da adesão de novos códigos e possibilidade de complexificação através novas pesquisas de movimento por experimentação combinatória. O Tribal Fusion está no “intermezzo” entre essas duas perspectivas, se apropriando de ambas. Para identificar algo como tribal, é preciso haver um entendimento de mistura entre basicamente as 4 matrizes que citei logo no início. O modo de organizar estas 4 linguagens é bem particular, porém deve ser afastada a ideia de sobreposição ou somatização de linguagens, pois de fato se trata de uma imbricação de signos.

Como você pensa o fazer em dança, a partir de reflexões/estudos contemporâneos e como acredita estar construindo seu trabalho como bailarina na prática? Acredito na capacidade de cada um desenvolver suas próprias misturas dentro do sistema de códigos da dança tribal. Acho complicado pensar em bases e fundamentalismos – uma essência tribal – pois já li uma vasta bibliografia acadêmica que desconstrói esse modo de pensar (estão conectados a um conservadorismo atrelado a estratégias de mercado). Os categorias/estilos/subestilos criados, para mim, não servem para diagnosticar uma potência artística e criativa. Eu procuro transitar por eles e me preocupo principalmente com o processo criativo, não com o produto de criação. Vejo muitas pessoas repetirem o discurso de que é preciso estudar isto para fazer aquilo, sem ao menos refletir os perigos que ele carrega. Eu a cada dia mais acredito na ampliação das possibilidades e não me reduzo a qualquer categoria. O que quero mesmo é desestabilizá-las, pois me parece mais artístico!

Você participou do The Tribal Massive – Las Vegas, ao lado de Zoe Jakes e outras importantes bailarinas de Tribal Fusion, quais são suas impressões sobre esse encontro? Alegria que se transborda! O Tribal Massive™ foi uma experiência memorável! Conheci professoras que me fizeram borbulhar com novos conhecimentos, novas ideias. Conheci pessoas adoráveis que me fascinaram com tamanha receptividade, amenidade e conhecimento. O que poderia ocorrer se não um completo fascínio pela diversidade desta Tribo? Milhões de descobertas, de dentro pra fora e de fora pra dentro. Intensas partilhas do sensível!!! Foram, somando a primeira e segunda semana de aulas, 85 horas de compartilhamentos profundos e intensos com professoras extremamente dedicadas e atenciosas. Fiquei felicíssima ao perceber que todas elas me chamaram pelo nome, como a maioria das minhas colegas o fizeram. Uma honra já ter este reconhecimento no grupo.

O ambiente intimista do evento permite relações super sinceras. Todas as professoras possuem a cultura de, após o espetáculo, ir conversar com cada dançarina que se apresentou para parabenizar os trabalhos levados ao palco. Eu fiquei felicíssima ao ter o reconhecimento da Zoe, que correu atrás de mim nos corredores do hotel para perguntar mais sobre a minha carreira e comentar sobre o meu solo. Após este dia, Zoe me pediu para ficar na frente da sala e ajudá-la como guia para desenvolvimento de suas propostas de estudo técnico e coreográfico. Fiquei muito tímida com o pedido, pois é uma grande responsabilidade estar à frente de uma sala de aula com colegas bem experientes, mas tudo é sempre aprendizado… A Sharon Kihara, como sempre muito amável e merecedora de admiração, me chamou após a apresentação para falar que me acompanha desde a primeira visita dela ao Brasil e que estava muito orgulhosa das minhas conquistas.

Você vai ministrar um curso de formação de Tribal Fusion, em São Paulo, conte um pouco em como está planejando realizar as aulas relacionando com estratégias de ensino “contra hegemônicas” possibilitando gerar novas artistas/criadoras/dançarinas. A ideia principal é dar autonomia de estudos, e isso pra mim é formar. Preparei textos, encaminhei uma lista de indicação de referências bibliográficas, como também escrevi um projeto apresentando qual a proposta do curso, a justificativa, os objetivos e o conteúdo programático de cada módulo que iremos trabalhar. Serão ao todo 8 módulos, de 2h30 cada, com temas específicos a serem desenvolvidos em cada um, que tratarão desde o estudo anatômico e cinesiológico do corpo até os processos criativos, filosóficos, os estudos musicais e a proposta de laboratórios teatrais.

Foto: Marcelo Cunha
Como movimento cultural e instrumento artístico-educacional um projeto de formação arquitetado em torno desta linguagem de dança, se engaja na ampliação das possibilidades de experimentação de outro repertório de movimentos e propõe o contato com as pesquisas de dança mais recentes desenvolvidas pelas tribalbellydancers mais comentadas na atualidade. Serão compartilhados todos os temas adquiridos no Tribal Massive™, como também serão esclarecidas as especificidades e diferentes abordagens de assuntos relacionados ao universo tribal.A mistura das culturas árabe, espanhola, indiana, norte-americana, brasileira, etc., na dança étnica contemporânea traz a possibilidade de fomentar os interesses para cada cultura distinta como também provocar questionamentos sobre o modo como cada artista manipula este sistema híbrido de informações em suas experimentações combinatórias podendo, desse modo, estimular os processos de criação dos inúmeros dançarinos que estão se especializando na dança tribal e promover a sua autonomia.
Neste sentido, é possível dizer que a proposição deste curso tem o objetivo de disseminar a dança tribal por meio da emancipação dos agentes criadores participantes das oficinas. No Brasil os poucos grupos de dança tribal atuam particularmente, por meio de mostras isoladas, sem um real entrosamento e efetivos recursos que visem o aprofundamento de estudos e formação de plateia. Com a execução deste curso de formação, o número de agentes da dança tribal poderá ser ampliado e este será o ponto de partida para a complexificação das redes entre artistas de diversas regiões do país.

Joline Andrade e Zoe Jakes“Por já ter acessado um grande material sobre dança e contemporaneidade considero que o que importa mesmo é a obra, suas estratégias de composição e sua potência enquanto sistema de signos. Para mim já não é mais necessário rotular em que categoria ela se encaixa ou, menos ainda, determinar qual a trajetória linear de formação que uma dançarina(o) deve ter.” 
Acredito que estamos num momento de “crise” onde é bastante complicado definir e categorizar sistemas de dança. O hábito de conceituar e apontar uma verdade absoluta sobre algo é um resquício de uma necessidade moderna geralmente limitada “ao que é e ao que não é”, abandonando uma gama de possibilidades do ser… Hora ou outra caímos no conflito de apontar o feio/bonito, o profissional/não profissional, o que é tribal/o que não é tribal. Outro equívoco enorme é determinar uma lógica unidimensional de aprendizado ao ditar a obrigatoriedade de estudar uma categoria primeiro que a outra.

Por já ter acessado um grande material sobre dança e contemporaneidade considero que o que importa mesmo é a obra, suas estratégias de composição e sua potência enquanto sistema de signos. Para mim já não é mais necessário rotular em que categoria ela se encaixa ou, menos ainda, determinar qual a trajetória linear de formação que uma dançarina(o) deve ter. Desde a Modernidade, temos essa tendência separatista/dualista/dicotômica em querer discriminar as coisas e esquecemos que, na maioria das vezes, as informações estão tão imbrincadas que é preciso enxergar o que há além de uma coisa ou de outra. Digo isso principalmente por estarmos falando da dança tribal em que o princípio organizativo é a hibridação de códigos.

Para dissertar teoricamente sobre dança tribal na universidade estudei amplamente as macro-categorias (aponto como macro, pois reconheço a permeabilidade de suas fronteiras) mais populares da linguagem e conheço o sistema organizacional de cada uma delas: ATS/ITS, Tribal Fusion e Fusões. Resumindo esta resposta apontarei a seguinte ideia: Minhas perspectivas com a dança tribal não são tradicionalistas (conservadoras, modernas), são contemporâneas. Existem formas diferentes de pensar a dança tribal e a forma tradicional, para mim, não traz significados. O tradicional pode trazer significados para uma dançarina, e isto é ótimo! Há de se haver diversidade de pensamentos, compreensão mútua e diálogo para evoluirmos enquanto pessoas, artístas e críticos de dança. Haverá mil formas de justificar o pensar de um ou de outro modo, então é preciso discorrer de maneira impessoal e madura a este respeito, afinal não estamos falando de fulano ou sicrano e sim de concepções artísticas que precisam de crítica para serem refinadas. Isso já acontece com cinema, teatro e outras danças… Por que não falar com ética e inteligibilidade sobre a dança tribal?

Pude ter contato direto com o trabalho de algumas professoras que eu ainda não conhecia pessoalmente e que me decepcionaram um pouco pelos seus conservadorismos como também por ensinar de maneira incorreta conceitos de famosos estudiosos de dança e teatro em que já pude ter acesso na universidade. Fiquei muito contente por ver no discurso de outras uma reflexão mais contemporânea sobre as questões que apontei nas respostas a cima. Sobre o Massive Spectacular™ eu confesso que fiquei extremamente nervosa com a pressão que todo o evento provoca para realização da performance de palco. Ufa! Até então não tenho certeza se fui bem. Estou bastante ansiosa para ver o vídeo e somente após vê-lo irei dizer: “Fui bem!” ou “Poderia ter sido melhor!”. Avante!

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