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quarta-feira, 13 de abril de 2016

Relato de Fernando Reis sobre o início do Estilo Tribal no Brasil - Parte 4

Material enviado por Fernando Reis em fevereiro de 2016 para Carine Würch e Maria Badulaques. Através deste relato, conta como foi a formação do Estilo Tribal aqui no Brasil, através da Cia HalimFernando foi fundador da Cia Halim junto com Shaide Halim. A companhia foi fundada em 2002 e durou cerca de 08 anos.

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PARTE 04 - Visão do Estilo Tribal no Brasil hoje


Sobre como anda o tribal hoje, penso algumas coisas, todas boas. 

Primeiro que percebi que, desde o desaparecimento da Halim, o estilo se popularizou um bocado pra baixo do Equador (como diz uma música). Mas não tive a oportunidade de ver mais que fotografias e vídeos curtos na internet. 

Tenho contato com algumas bailarinas, vejo algumas publicações com trechos de apresentações de Rebeca Piñero, com peças interessantíssimas de Maria Badulaques, e isso me faz sorrir por dentro, e faz vontade de voltar. 

Vontade, não. Muita vontade!

Tenho a impressão de que o fato de o Brasil ter um público, interessados em dançar, e um mercado para dança do ventre muito grande, muito expressivo, pode favorecer muito o surgimento de novos e bons trabalhos para tribal, ou, como chamamos Shaide e eu desde a época da Cia Halim, dança étnica contemporânea, ou simplesmente fusion (sem deixar de tratar por tribal).

Tenho bastante material nos papéis e no computador. E este material ainda vai criar pele, curvas, movimentos sinuosos, cores, pintas e traços tribais. Na hora certa.

(Maria pergunta) Conta como foi ver a expansão do tribal no Brasil. Você acha que deu uma guinada exponencial após o curso que deu para Kilma na Paraíba?

Gosto desta pergunta, também. Há dois pontos sobre a minha relação pessoal com o quanto o tribal cresceu no Brasil. Um é de uma certa boa surpresa, porque quando a Cia Halim era ativa e eu dela participava, era a única (pelo menos que tenhamos tido notícias à época) companhia de Tribal, ou de danças étnicas contemporâneas fusion

Shaide participou muito mais do processo de ministração das aulas, por muitos motivos. Custava um pouco caro a produção de workshops, com nós dois em estados distantes, e eu ainda estava ligado a um trabalho de uma empresa de cinema em São Paulo, que não permitia ausências prolongadas. Então, fui algumas vezes ao Rio de Janeiro, a Brasília e a Porto Alegre (me roendo um pouquinho por dentro por não ter podido ir à Paraíba).


Mas, mesmo as notícias que me chegavam à distância, e sobre os relatórios que a própria Shaide me passava dos trabalhos fora de São Paulo, me traziam a impressão de que Kilma seria uma das principais, senão a principal representante do Estilo Tribal em toda a sua região. As fotografias a que tive acesso depois me trouxeram outra boa impressão. 

Era para mim possível, mesmo em imagens estáticas, reconhecer a alma da composição de um trabalho para Tribal. Dali em diante, tanto Shaide Halim quanto Fernando Reis não puderam mais pensar em Estilo Tribal da metade do território nacional para cima sem que o primeiro nome que nos viesse à mente fosse Kilma Farias.

Renata Lopes enviou as fotos que são do DVD comemorativo dos cinco anos de companhia (2007). 

Para saber mais sobre Shaide Halim ou Cia Halim, clique nos links.

Relato de Fernando Reis sobre o início do Estilo Tribal no Brasil - Parte 3

Material enviado por Fernando Reis em fevereiro de 2016 para Carine Würch e Maria Badulaques. Através deste relato, conta como foi a formação do Estilo Tribal aqui no Brasil, através da Cia HalimFernando foi fundador da Cia Halim junto com Shaide Halim. A companhia foi fundada em 2002 e durou cerca de 08 anos.

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PARTE 03 - Criação do Nome e Término

Irma Mariotti se transformou em Shaide Halim

Esta parte foi assim. Ela estava empolgada com o projeto (que no começo era mais só dela), e eu dava um ou outro pitaco, sem grandes envolvimentos. Um dos pitacos foi (acho que nem foi tanto ideia minha. Capaz de ela ter pensado nisso porque muitas bailarinas de danças orientais têm nomes artísticos orientais, e Irma é um nome forte, mas super europeu italianão, e poderia combinar mais pra ballet (o que hoje nem enxergo com esta restrição toda) a adoção de um nome artístico. 

Me lembrei de que tive uma colega num colégio e ela se chamava Shaide. Era filha de libaneses, acho. Só falei este nome pra ela uma vez. Os olhos brilharam e ela quase nunca mais, a partir dali, foi chamada de Irma (acho que só a família chama). Ah! E era para ser só Shaide e Halim era o nome da companhia. Um dia alguém se referiu a ela como Shaide Halim, porque acho que o nome da companhia fosse o sobrenome dela, e ficou.


O trabalho da Cia Halim, desde a primeira reunião, foi sempre realizado na pequena sala da casa em que morávamos, na Vila Mariana. Produzimos piso de madeira suspenso do chão, espelho do tamanho de uma parede inteira e procurávamos manter os muitos gatos da casa longe dos trabalhos. 

Então, a Halim era, sim, respondendo à sua pergunta, nossa companhia. 

Mas eu não me sentia patrão de ninguém (o que não quer dizer que quem aceitasse participar da companhia não tivesse que ter consciência de que teria compromissos a cumprir, e que os compromissos representariam cobranças de resultados. Nunca tivemos condições de pagar cachês ou salários, porque nunca tivemos patrocínio ou lucro com bilheterias. Mas não cobrávamos mais que dedicação de quem quisesse e pudesse participar, e que ajudassem no que pudessem (com figurino, com transporte de qualquer coisa pra quem tinha carro...).

A Cia Halim começou a esfriar por duas causas, que acho que só me ocorreram agora por ter que responder a vocês. Uma parte do trabalho estava vinculada a mim, às minhas condições pessoais, e até à minha relação com Shaide. Eu estava envolvido com várias tarefas diferentes, um pouco cansado, um bocado contaminado por meus próprios maus-hábitos, e decidido a me mudar de casa. 

Shaide, por outro lado, embora nunca tenha deixado de se incomodar, naturalmente, com o meu tumulto interior que respingava sobre casa e companhia de dança, tinha sempre o foco voltado para a produção de dança e seus projetos. Se não fossem para tribal, seriam para o que pudesse e gostasse de fazer. E assim, acabou-se a Cia Halim, Shaide deu início a projetos novos e eu fiquei um bocado sem produzir dança (a não ser nos papéis, por enquanto).



Renata Lopes enviou as fotos que são do DVD comemorativo dos cinco anos de companhia (2007). 

Relato de Fernando Reis sobre o início do Estilo Tribal no Brasil - Parte 1


Material enviado por Fernando Reis em fevereiro de 2016 para Carine Würch e Maria Badulaques. Através deste relato, conta como foi a formação do Estilo Tribal aqui no Brasil, através da Cia HalimFernando foi fundador da Cia Halim junto com Shaide Halim. A companhia foi fundada em 2002 e durou cerca de 08 anos.

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PARTE 01 - História de Vida

Vou procurar colocar aqui o máximo do que eu puder me lembrar da história da Cia Halim, da minha história e do quanto procuramos colaborar para a formação do Estilo Tribal nessa nossa terra.

Meu nome é Fernando Reis (é o nome que uso geralmente, para apresentações profissionais, artísticas, em geral), sou Fernando Mendes dos Reis, nos registros. Tenho 41 anos, nasci na cidade de Esplanada-BA, mas sou um bocadinho aculturado da cultura e identidade do povo baiano, porque minha família mudou-se para São Paulo em 1978 (eu tinha quatro anos).

Sempre fomos de uma família um bocado pobre, e, embora isto tenha sido bastante ruim para a vida em geral, teve uma contribuição para saldo positivo (embora eu não seja apoiador de trabalho para menores). Eu vim a ter possibilidades de trabalhos para colaborar na renda doméstica, apoiado primeiro pelo meu irmão Léo Mendes, que trabalha com cinema há uns trinta anos, e depois com o irmão Moacir Mendes, que é publicitário e artista gráfico. 

Durante a minha adolescência vim a saber, entre os colegas da escola (pública), que um rapaz estava reunindo interessados em tomarem parte em um curso de interpretação para teatro. A turma de colegas que me apresentou aquela informação estava mais animada pela possibilidade de os trabalhos resultarem em beijocas nas garotas (para as cenas) que em qualquer ilusão de desenvolverem algum potencial para atuação. Me interessei, mesmo sendo muito tímido (e nem foi tanto pelas beijocas (que jamais aconteceram)).

O professor Edson Araújo Lima, que é um dos meus melhores e mais importantes amigos até hoje (fiz uma arte prum projeto dele esses dias), se mostrou muito bom professor. Junto com os meus irmãos (no cinema, na publicidade e nas artes gráficas), foi um dos maiores responsáveis pelo desenvolvimento de meu interesse e alguma aptidão para interpretação (fizemos um curta-metragem até. Dez anos depois). E naquela época eu, que estava bastante entusiasmado com as aulas de teatro, ouvi falar (ou intuí) que aulas de dança eram muito boas para a complementação da formação de atores. Tomei coragem e me matriculei em um curso de jazz.

As aulas de jazz eram um bocado fracas, mas eu não fiquei propriamente frustrado ou incomodado (afinal aquela não era a única escola e nem a única modalidade de dança). Vi flamenco pelo trabalho com cinema, dentro dos filmes de Carlos Saura, e me apaixonei! Chegou um tempo em que eu já não estava mais estudando teatro e nem só estudando dança por causa do teatro. Eu queria ser mais bailarino que ator.

Nunca foi nada fácil. Eu pobre, sem carro, trabalhando oito a dez horas por dia, com vontades de fazer coisas da vida social, mini-baladinhas de pobre... 

Comecei a fazer aulas de ballet clássico com uns vinte anos, depois de já ter feito um pouco de jazz, por achar que o clássico prepara melhor para tudo o que exija técnica e força. Não era propriamente para ser bailarino clássico... mas fui ganhando bolsas em todas as escolas das quais me aproximei. Os professores me viam com uma certa (alguns, bastante) boa impressão, porque eu era longilíneo, tenho os pés com uma ponta pouco comum, sou bastante en-dehors, e fui fazendo minhas aulinhas dentro da vidinha capenga. Entrei em cursos de dança flamenca, daqueles de pequeníssimas escolas (acho que o André Tiani, que foi meu primeiro professor, nem dá aulas mais) e me apaixonei por flamenco.

Da paixão por flamenco pra começar a dar aulas pra iniciantes na mesma academia em que tive minhas primeiras aulas de dança (jazz) na vida (!!!) foi um pulo.

Uma das minhas primeiras alunas foi Irma Mariotti (guarde isto, porque é importante).



* Renata Lopes enviou as fotos que são do DVD comemorativo dos cinco anos de companhia (2007). 

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

ENTREVISTA - MARCELO JUSTINO

Simplesmente Marcelo, por Marcelo Justino
Entrevista para o Blog A Dança Uma Arte em Movimento  de Farid Hassan
A Dança: Marcelo, como foi seu primeiro contato com  dança e o que você sentiu ao dar inicio em tudo? Marcelo: Eu sai de casa com 15 anos porque queria estudar teatro. Eu sou de uma pequena cidade do interior de SP  com 5 mil habitantes, então me mudei pra Jundiaí- SP Fui morar com minha irma. Adolescente e muito magro, queria ser mais ” musculoso” então fui para academia. Eu trabalhava numa oficina mecânica e fazia academia no meu horário de almoço, pois a noite eu estudava escola normal. Minha treinadora um dia me pediu para fazer aquecimento com  aeróbica pois ela estaria ocupada naquele horário, eu acabei aceitando pois assistindo me parecia algo muito fácil Que ilusão, primeira aula me senti um polvo, com muitos braços e pernas e com dificuldade em coordenação motora. Com o tempo me acostumei e um dia a dona da academia me viu fazendo aula e me convidou para fazer uma apresentação com ela de aeróbica de competição, isso no inicio da decáda de 90 . Então essa foi minha primeira vez em palco , não exatamente dança, mas foi a abertura que me permitiu gostar de dança.



ENTREVISTA COMPLETA, AQUI:

http://dancaarteemmovimento.wordpress.com/2014/07/29/simplesmente-marcelo/


Visite e curta: Nossa Tribo & Nossa Dança

ENTREVISTA - LUY ROMERO

A Dança, por Luy Romero
Entrevista para o Blog A Dança Uma Arte em Movimento  de Farid Hassan
A Dança: Luy,nos conte como foi seu primeiro contato com a Dança. Luy RomeroDevo admitir que foi um grande acidente, tirando pequenos contatos que tinha em casa como tentar imitar artistas de Tv, possuía  pré-disposição quando criança, na escola sempre tinha a iniciativa em reunir os colegas (sim, haviam meninos também, eu era bem persuasivo rsrs…) para realizar trabalhos escolares que envolviam arte, fatalmente com o passar dos anos, a própria escola já me indicava a promover apresentações em eventos da mesma junto com colegas que me apoiavam e me tinham como “líder”… era um sucesso nas feiras culturais! Porem, vindo de uma família de poder aquisitivo baixo, não era encorajado a seguir este dom que já sabia possuir, Pai falecido e Mãe com saúde frágil  dificultaram muito minha precoce formação, mas quando completei 15 anos de idade, pedi a minha mãe para dançar, seu conceito com relação a masculinidade me direcionou a fazer Dança de Salão, pois se tratando de uma dança social e realizada em casal, me ajudaria a desenvolver uma auto estima e interação, em vista que sempre fui muito tímido. Em um ano sequente, perdi também minha mãe, órfão, sem direcionamento, a dança me proporcionou o suporte que precisava para não desabar e nem desistir da dança, algo que descobri naquele ano ser o que queria como futuro. Nesta época, mesmo com apenas 16 anos de idade, sozinho e trabalhando meio período, dediquei 100% meu tempo livre a estudar Dança de Salão na escola que abriu as portas para fazer aulas de graça em troca de auxiliar os alunos as aulas. Sendo assim, comecei a estagiar como bolsista na escola Dançart – Espaço Integrado em SBC/SP começando um treinamento paralelo para professor. Possuía uma carga horária interessante que hoje em dia me surpreendo em perceber que era puxada. Chegava a escola as 14h, treinava com outros monitores, ganhava um intervalo de 30 minutos e voltávamos as aulas com alunos da escola as 18h que só terminava as 22h, após isso, ainda participava de uma aula de treinamento profissional com os professores e assim completava meu treino diário com 9 horas p/ dia, 7 dias semanais. Foi após quase 2 anos nesta rotina, que ganhei minha 1ª turma de alunos iniciantes, supervisionado pelo meu próprio professor, que satisfeito com o resultado, me jogou profissionalmente ao mercado da dança, indicando outros locais onde poderia desbravar novos horizontes. No ano de 2005, fui convidado a compor o quadro de professores da escola Shiva Nataraj em SP onde a partir dali, conheci um mundo novo e encantador aos meus olhos, que até então, não tinha contato com as danças orientais. Conheci o coreógrafo e bailarino Ally Hauff (I.M.) que era profissional em DOC (Dança Oriental Contemporânea), Dança Indiana, Jazz, Flamenco e Danças Árabes, que me acolheu como pupilo e me iniciou com estudos intensivos teóricos e práticos, em 2006 me convidou a participar de seus trabalhos profissionais com o Grupo Ganesha de Dança Indiana Contemporânea, criado por Ally, grupo atuante no mercado desde 1996, renomado e autêntico em seus trabalhos e pioneiro no Brasil e Grupo Áthala de Neo Tribal, projeto também realizado por Ally Hauff grande destaque em 2006 e em todos os anos subsequentes. Recebia grande embasamento técnico com outros profissionais do nosso convivo e esta bagagem veio aumentando conforme ia ganhando espaço e destaque no munda da dança oriental.


ENTREVISTA COMPLETA AQUI:

TRIBAL NO BRASIL - RAPHAEL LOPES

TRIBAL NO BRASIL - RAPHAEL LOPES
Dançar para mim vem sendo uma atividade lúdica há mais de uma década. Mas como bom virginiano detalhista que sou, ainda que lúdica a dança sempre foi por mim levada muito à sério.
Começando aprendendo diversos estilos, e tendo a oportunidade de ainda cedo participar de companhias de dança onde fiz amizades eternas e tive o prazer de viajar, participar de festivais e competições.
Porém em 2004 a dança ganhou um contorno ainda mais sagrado para mim, de modo que tive um forte chamado para a dança clássica indiana. O Odissi rendeu minha alma por inteiro, e durante quase 10 anos esse foi minha única modalidade. Tive a oportunidade de viajar para a Índia e constatar que o Odissi é realmente a forma mais clara pela qual posso me expressar, e que certamente irá me acompanhar eternamente nos palcos.

Mas tenho um espírito inquieto, livre, pulsante. Não que a dança clássica não estimule em mim esses aspectos, mas depois de mais de um ano lecionando e convivendo na Escola Campo das Tribos, me identifiquei com o estilo Tribal – com a musicalidade, a irreverência, a construção cênica – Tudo.

Decidir começar a aprender o Tribal exigiu de mim um pouco de coragem. Sim, pois depois de consolidar uma carreira no clássico, assumir um papel de aprendiz num estilo tão diferenciado foi um desafio. Também foi um desafio reconstruir novas formas de expressão, principalmente nos movimentos de quadril.

Algumas pessoas do meu círculo de convívio estranharam um pouco a minha decisão, principalmente por soar tão mais “feminino” uma dança que envolve tantos elementos da dança do ventre. Mas dançando desde sempre, e lidando com opiniões tão distintas a respeito do meu trabalho, isso foi apenas um detalhe. Detalhe esse que se diluiria no momento em que eu subisse em cena, e mostrasse que antes da dança ser um trejeito adotado é sim uma expressão única que cada um adquiri com trabalho e dedicação.

Trabalho e dedicação que desenvolvi ao lado de uma grande professora. Rebeca Piñeiro sem sombra de dúvidas foi minha melhor escolha no sentido de reaprender a dançar. Soube me deixar a vontade, e me fazer conhecer o meu corpo através de um novo viés. Soube me fazer entender e sentir cada movimento, de forma sutil. Me lembrou muito a forma orgânica como aprendi a dança indiana na Índia, e no meio do processo de aprendizado ela adquiriu certamente um lugar de destaque no meu amadurecimento enquanto artista.

Nossa apresentação no Festival da Escola Campo das Tribos, minha estréia oficial no ATS não teve nenhuma pretensão. Não tive pretensão de ser o primeiro bailarino de ATS se apresentando no Brasil, ou de ser o primeiro bailarino dançando esse estilo na escola. Não tive pretensão de mostrar nada para ninguém na platéia. O que eu levei pro palco foi o mix de sensações e descobrimentos que desenvolvi em sala. E acho que quem assistiu pode ver estampado no meu rosto a alegria que foi aquele momento.
Acho que isso é o Tribal.

A forma profunda como expressamos artisticamente o nosso Ser. E aqui nem pontuo o diferencial de ser um homem dançando tribal. Até pensei em abordar todo o meu texto por essa perspectiva, mas quando dançamos nos libertamos de tudo, até do gênero. Somos consciência e ritmo, alegria e entrega. E a Tribo não está apenas no palco, mas é o todo que também envolve a platéia.

Ter escolhido o ATS foi fruto da minha virginiana mania de aprender tecnica, e de assegurar uma base firme e sólida para o meu início no Tribal. Mas o que aprendi no caminho é que o Tribal é um caminho sem volta, no qual nos jogamos entre shimmies e hand floreos, com um sorriso enorme estampado no coração.

Obrigado Rebeca por ter trazido um novo alento à minha arte, obrigado meninas que me acompanham nas aulas, e obrigada Atelie TribalSkin por vestirem a minha idéia. 

terça-feira, 20 de maio de 2014

O TRIBAL NO BRASIL - MARCELO JUSTINO

MARCELO JUSTINO
O TRIBAL NO BRASIL - MARCELO JUSTINO

Conheci o estilo Tribal Brasil com a nossa querida Kilma Farias e a Cia. Lunay aqui mesmo, no Campo das Tribos. Foi uma experiência apaixonante.
Participei de diversas oficinas de danças populares brasileiras antes de ter a oportunidade de conhecer o trabalho de Kilma, mas, essas oficinas nunca me encantaram. Sempre achava tudo muito simplista, apenas uma grande festa, como a maioria das nossas danças populares.
O trabalho da Cia. Lunay conseguiu finalmente me fascinar. Encontrei a fusão de movimentos que eu gostava de dançar com os ritmos brasileiros e, muitos deles difíceis e desafiadores. Me lembro como me senti quando aprendi pela primeira vez o “samba fusionado”… nossa! Me senti um completo desleixo.
Sai do workshop maravilhado e ao mesmo tempo me sentindo incapaz. Passei horas, dias treinando para conseguir executar aquele desafiador “samba fusionado” e até hoje o uso em meus trabalhos.
Trabalhar com nossa própria cultura pra mim é complicado, porque o acesso às nossas tradições é muito difícil, principalmente em São Paulo onde quase não se tem resgate da cultura popular e o mais louco ainda, sou do interior. Consegui ter acesso a cultura popular brasileira na capital onde se encontra a maioria dos grupos que desenvolvem esse tipo de trabalho.
Depois desse primeiro contato com a Cia. Lunay, participei de diversas oficinas de dança em São Paulo e pude conhecer o bailarino e professor, Deca Madureira. Foi na oficina de Deca que recebi o convite para fazer parte de sua companhia, Cia. BrasílicaDeca Madureira desenvolve um trabalho que foi nomeado pelo mesmo de Dança Brasílica que, na minha visão simplista, são as danças populares modernizadas com preparação para serem trabalhadas em palcos. Meu grande aprendizado de danças populares foi com esse mestre, que me deu o embasamento para desenvolver meu trabalho de pesquisa dentro do estilo Tribal Brasil.
Kilma Farias definiu de forma clara o que é o estilo Tribal Brasil em um dos workshops que participei com a mesma:  “…não basta usar uma musica brasileira em seu trabalho e chamá-lo de Tribal Brasil, é necessário ter elementos das nossas danças, das nossas origens dentro da sua fusão…” Essa definição ficou muito clara pra mim e levo como verdade no meu trabalho, que consiste em usar música, dança e artesanato brasileiro para compor qualquer coreografia e figurino.
Acredito que alguns não aprovam o estilo e creio ser por desconhecimento da nossa própria cultura e que nem todos gostam e até desdenham o título Tribal Brasil. Já passei por situações de preconceito e aprovação aqui e fora do Brasil.
Dois exemplos de situações que já passei:
  1. Em Lisboa, quando estava com meu figurino de Iemanjá, uma portuguesinha linda chegou pra mim e perguntou:
    - Você vai dançar Iemanjá?
    Aquilo me pegou de surpresa e me deixou muito feliz! Estar em outro país e uma desconhecida reconhecer o que eu pretendia retratar, foi uma satisfação pessoal enorme.
  2. Por outro lado, em um outro país, com um outro trabalho, um jurado disse que o que eu estava dançando não tinha nada a ver com a música (até hoje me pergunto se ele fala e entende tão bem o português, já que não estava em um país de língua portuguesa), que o figurino não tinha nada a ver, que ele não tinha entendido nada, que ele simplesmente não tinha gostado.Não espero e nunca esperei agradar a todos, mas coloco esses dois pontos apenas para ilustrar que o estilo Tribal Brasil é algo ainda mais novo do que o próprio Tribal Fusion. Tenho os meus conceitos, que levo como verdade e sei o que quero como fundamento dos meus trabalhos. Estou em constante busca do meu próprio estilo. Não estou livre de erros, como qualquer outro profissional, mas estarei sempre estudando, pesquisando e desenvolvendo aquilo que eu acredito e que gosto como fusão dentro do Tribal e que tenho muito orgulho de chamar de Tribal Brasil.
Texto extraído do blog Campo das Tribos, postado em outubro de 2013: 

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sábado, 9 de junho de 2012

ENTREVISTA COM RAPHAEL LOPES

Confira a entrevista de Raphael Lopes, professor de Odissi na Escola Campo das Tribos - SP:
Entrevista feita para o blog Dançarinos de São Vicente.

Dançarinos de SV: Quando surgiu a dança na sua vida, como foi e há quanto tempo faz? Raphael: Chega a ser clichê mas é impossível não dizer o que todos os dançarinos dizem: a dança surgiu desde sempre em minha vida! Sempre gostei muito de me apresentar nas festas escolares, e desde criança gostava de montar coreografias próprias paras as músicas que ouvia.
Quando vim de São Paulo com quinze anos para São Vicente comecei a fazer as oficinas culturais da Prefeitura de SV (em 2000), em partes porque certamente seria um ambiente para fazer amigos já que tinha acabado de chegar de outra cidade, mas principalmente porque ansiava participar de algum grupo em atividade.
Dançarinos de SV: Você conheceu a Dança Clássica Indiana através de quem? Raphael: Uma amiga minha de Santa Catarina (dançarina de Raks el Shark) havia visto uma performance de Bharata Natyam (estilo clássico do Sul da Índia) com a famosa esposa do físico indiano Amit Goswami, a psicóloga Uma Krishnamurti.

Ela, sempre tão crítica, me descreveu entusiasmada sobre o que havia visto, e eu então comecei a pesquisar por conta. Na época a internet era um veículo pouco popular e útil para esse segmento em específico, e me lembro de vasculhar bibliotecas em busca de referências sobre dança indiana, o que era quase impossível haja visto a quase total falta de publicações nacionais sobre o tema.
Em 2005, conheci a bailarina Silvana Duarte e pude fazer seu curso de Formação Teórica e Embasamento Técnico do Estilo Odissi. Desde então não parei mais de buscar informações e contatos que enriqueçam meu know-how.
Dançarinos de SV: Você teve contato com outras modalidades. Pode nos falar um pouco sobre elas e no que isso contribuiu na construção da sua carreira? Raphael: Sim, comecei com as oficinas de street dance da SECULT. Na época entrei primeiramente para a cia de dança do Douglas Rebelo (Fator Funk) seguindo para a cia do Alessandro Cardoso (Atmosfera).
Na época pude realizar meu sonho recém chegado da capital em conhecer novos amigos (alguns os quais mantenho contato até hoje), e de viajar para algumas cidades para me apresentar. Em 2002 tive contato com o Holokahana Dance, onde tive minhas primeiras incursões fora do street dance.
Na mesma época comecei a conhecer outros estilos além da dança tahitiana como o dabke e o flamenco. Todas essas influências ficaram visíveis quando criei minha própria companhia de dança, que se chamava Ágora (as antigas praças Gregas) e mesclava em meu trabalho todos os estilos de dança pelos quais transitei. Em partes sofri muita influência do meu primeiro coreógrafo Douglas Rebelo, e mantive sempre muito forte o seu estilo em manter um conceito cênico sempre em evidência.
Nessa mesma época tive a oportunidade de fazer aulas no Ballet Valderez, e conheci o estilo Afro na cia de dança Dinastia, onde tive a oportunidade de ser convidado para montar uma coreografia de street dance num momento onde esse estilo sofria sua grande revolução do old school para o new school.
Daí em diante, me foquei unicamente na dança clássica Odissi. Posso afirmar que esse é o meu estilo, mas guardo com carinho todas as minhas histórias com os outros estilos que pude dançar.
Dançarinos de SV: Raphael, sabemos que na nossa região a Dança Clássica Indiana ainda é pouco conhecida, apesar de ser uma modalidade bem antiga. Em sua opinião o que falta para aumentar a divulgação nesta modalidade? Raphael: A dança Odissi possui uma cárater cultural e espiritual muito forte, não tem caráter apelativo e necessita ser apreciada como uma refinada obra de arte. Somos muito poucos bailarinos de danças clássicas indianas no Brasil, e estamos aos poucos introduzindo essa dança milenar para o público em geral.
Em partes, normalmente irá se interessar por essa modalidade apenas aqueles já vinculados ou curiosos com a cultura oriental. Agora compete a cada bailarino saber difundir sua arte, e acima de tudo saber explicar e esclarecer sobre a mesma.
Dançarinos de SV: Você fez aulas aonde e quais foram seus professores? Raphael: Iniciei meus estudos com a bailarina Silvana Duarte, seguidos por três anos de estudos com Andrea Prior no Espaço Rasa – ambas na capital. Retomei mais um ano de estudos com Silvana Duarte, e tive aulas com a professora Andrea Albergaria em Atibaia. Em 2012 tive a oportunidade de estudar na conceituada escola Rudraksha Foundation em Bhubaneswar (Orissa – Índia), diretamente com o Guru Bichitrananda Swain – renomado coreógrafo e bailarino com quase 40 anos de carreira.
Dançarinos de SV: O que mais te fascina na Dança Clássica Indiana? Raphael: A riqueza de detalhes e a busca insaciável pela beleza transcendental. É uma dança com pelo menos dois mil anos de tradição, com um corpo de conhecimento profundo, que é interconectada com a mitologia e com a literatura hinduísta. A formação total nessa dança envolve uma imersão na cultura hindu, que sempre me fascinou
Dançarinos de SV: Com a novela Caminho das Índias que passou na Rede Globo as pessoas puderam conhecer um pouco mais sobre o universo da dança desse povo tão místico. Mas, os estilos apresentados na novela eram mais populares. Você pode nos esclarecer um pouco sobre os diferentes estilos de Dança Indiana? Raphael: A novela infelizmente foi um desserviço a dança clássica indiana. Nada contra as danças populares, mas o modismo gerado com a novela permitiu que pessoas sem o devido cuidado e respeito iniciassem a copiar vídeos do youtube ou mesclar de forma errônea danças clássicas em suas coreografias. Em partes a moda passou e com isso o número de aproveitadores reduziu drasticamente, mas as ditas danças modernas recheadas com tentativas efusivas de executar movimentos clássicos ainda aparecem. A famosa indústria de filmes Bollywood popularizou em todo o mundo a dança Bhangra, o Kathak, e a Kalbelya.
Só que esses estilos não podem ser entendidos como Bollywood, são totalmente diferente entre si sendo o Kathak também um estilo clássico. Esses erros infelizmente são perpetuados pelos ditos dançarinos modernos, que normalmente rotulam o clássico de chato ou sonoramente desagradável ao ouvido ocidental.
Ouso dizer que se somos poucos bailarinos clássicos no Brasil, são ainda menos os autênticos dançarinos da dita dança indiana de Bollywood.
Dançarinos de SV: Por que você optou pela clássica? Raphael: Depois de muitos anos como um dançarino performático, e ao iniciar meus estudos em massoterapia, metafísica e filosofia oriental passei a me preocupar por um meticuloso e acurado aprofundamento em tudo o que passei a fazer.
Sem contar que a dança clássica é uma fonte perene de informação, através da qual pude amadurecer como ser humano.
Dançarinos de SV: Como a sua família e amigos enxergam seu trabalho? Você sempre teve apoio, ou enfrentou preconceitos com a sua profissão? Raphael: De início minha família estranhou muito minha súbita paixão pela dança, já que fui um menino tímido e inteligente com um provável futuro acadêmico. Na medida em que os anos passaram, e eles viam que a dança não me trazia retorno financeiro o desinteresse deles por minha carreira ficou ainda mais embasado.
E pra piorar, estudar dança clássica indiana exige um certo desprendimento financeiro (rsrs). Hoje vivendo com o Vinícius há quase cinco anos, encontrei nele um amigo a confiar e incentivar minha carreira. Inclusive cheguei a gastar quase todo o meu salário mensalmente com as minhas aulas, e isso só foi possível graças à compreensão dele.Minha família só entendeu realmente que eu ia viajar para Índia para dançar prestes a subir no avião rsrs…. No meu caso, uma formação real em Odissi só é possível fora do país. E bancar uma viagem dessa anualmente só é possível com muita administração familiar e o apoio de casa.
Dançarinos de SV: O que você mais deseja realizar hoje na Dança Clássica Indiana? Raphael: Gosto muito de lecionar. Gosto de conversar e compartilhar meus conhecimentos em aula, como professor meu maior sonho é ter alunos interessados e dedicados.
Com minha viagem tive a oportunidade de me tornar representante do meu Guru aqui no Brasil, e estou programando uma turnê pela América Latina com ele em breve. Também desejo me apresentar no Festival Internacional de Odissi, e estou me programando para isso no ano que vêm. Quero muito poder levar a dança a muitos e muitos palcos, levar o Odissi ao coração das pessoas.
Dançarinos de SV: Como a sociedade pode contribuir com isso? Raphael: A sociedade precisa valorizar e estar presente nas atividades artísticas. É triste ver que a maioria dos festivais de dança possui em sua plateia apenas os parentes e amigos mais próximos dos bailarinos.
Quando o interesse geral aumentar pela dança, um maior número de apresentações se fará possível. Ao mesmo tempo o bailarino precisa ser respeitado como profissional, receber pelo seu trabalho, e isso se faz apenas se a sociedade consumir Arte.
Dançarinos de SV: Para concluirmos, deixe uma mensagem para todos os amantes da dança: Raphael: Busque ser o melhor sempre, não melhor do que o outro mas sempre o melhor que você pode ser e dar de si mesmo. Aprendam a respeitar o trabalho do outro bailarino, e saibam prestigiar e consumir arte. Deixe a crítica ácida e o comentário maledicente, e simplesmente faça o melhor ao invés de julgar o outro. Ensaie como se estivesse sempre em cena, e dedique-se sempre a execução perfeita do movimento. E lembre-se sempre de sentir intensamente o palco, pois não há nada como a sensação de dançar!!!
Conheça melhor a Dança Clássica Indiana 
Endereço eletrônico: www.shaivabhakta.blogspot.com 
Dedicado a cultura, arte e espiritualidade hindu. 
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Confira a entrevista cedida originalmente no blog : 
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