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quarta-feira, 12 de agosto de 2015

ENTREVISTAS - CAROLENA NERICCIO

Carolena Nericcio Criadora do estilo ATS® – American Tribal Style e diretora do grupo FCBD® (FatChanceBellyDance)
Entrevistadora: Rebeca Piñeiro | Tradução : Aline Muhana | Entrevista feita para Revista Shimmie Ampliando Conceitos
1) RP: Carolena, quais foram suas inspirações para estruturar o ATS®? CN: Eu descreveria da seguinte forma: Quando comecei a dar aulas de dança do ventre era apenas isso, aulas de dança do ventre. Eu usava o formato que aprendi de minha professora Masha Archer que eu conhecia apenas como dança do ventre.
Ela é uma artista muito talentosa e a forma como ela utilizava o figurino e a estética geral do seu estilo era muito especifica e eu achava que dança do ventre era isso. Então quando comecei a dar aulas eu não tinha experiência com outros estilos e foi muito natural seguir o formato que ela me ensinou então quando as pessoas começaram a mencionar outros estilos de dança do ventre eu não sabia do que elas estavam falando e também não me importava muito. Me interessei bastante depois mas não naquele primeiro momento.
E eu vivia nessa “bolha” de conhecimento passado por mim por Masha, porque eu achava que o estilo dela era a coisa mais incrível do mundo e era assim que eu gostava de ver as coisas. Mas as pessoas continuavam a trazer mais perguntas à respeito de outros movimentos, outras culturas de outros países e outras formas de dança e aquilo me forçou a sair daquela “bolha” e conhecer outras coisas. E o que eu comecei a perceber foi que em termos de estrutura, o que nos tentávamos fazer era um estilo de improvisação coordenada em que duas, três ou quatro dançarinas se apresentavam juntas e o real propósito disso. Como mencionei anteriormente , no estilo de apresentação improvisado de Masha, a bailarina mais experiente poderia mudar o movimento o movimento do grupo mas ela não necessariamente tinha que estar na frente das outras para fazê-lo, era esperado que você soubesse que iria acontecer e era extremamente confuso.
E eu tenho essa forma organizada de pensar as coisas e aquilo não fazia nenhum sentido para mim (minhas alunas nunca aceitariam tal coisa!) então tivemos que pensar em melhorar isso.
A dançarina mais experiente tinha que ficar na frente das outras para passar a informação para as outras. O que fiz foi observar as alunas em sala de aula e pode notar quando a dançarina sênior mudaria o movimento, por causa da forma que ela mudava de um movimento para o outro.
Muito similar à estrutura da música folclórica egípcia, em que o percussionista usa a medida de 4/4 do ritmo para mudar de frase musical, à partir de uma deixa da última repetição da frase percussiva para avisar aos outros músicos que a frase mudaria. Eu notei que a dançaria sênior fazia o mesmo e dava uma “deixa” que significava: “vou fazer algo diferente” e trazia a atenção para alguma parte do seu corpo que sinalizaria a mudança.
Poderia ser no ângulo dos seus pés ou a forma que movimentavam os braços para cima e/ou para baixo, ou a forma que movimentavam os ombro sinalizado “estou me preparando para girar” e coisas do gênero. Então foram nessas observações em que me baseei para estruturar o estilo, a experiência de improvisação com duas, três ou quatro dançarinas. Qualquer formação com mais pessoas era confuso demais, e com menos pessoas do que isso, seria um solo. Às vezes temos solos mas a maioria das apresentações são em grupos.
Originalmente nós dançávamos apenas em festas então a formação não tinha muito critério de posicionamento, então começamos a nos apresentar em um pequeno café chamado “Café Istambul” em que os espaço para dança era bastante estreito e as dançarinas só podiam ficar em uma posição específica, que era em diagonal , que era possível para duetos e trios.
Essa situação nos levou a trabalhar em diagonais. E então nos vimos em apresentações em parques e festivais e nos demos conta que a formação em triângulo para os trios e em linhas intercaladas para os quartetos era uma boa forma de manter as diagonais e ainda sim ver a dançarina-líder.
Então foi isso (uma longa resposta para sua pergunta curta), eu apenas observava o que estava acontecendo. E em termos de figurino : os adornos de cabeça, as jóias, o choli, as calças bufantes, a saia, o xale , eram bem o que usávamos com Masha. Para ela as cores seriam mais pastéis, mais européias , como uma pintura de Alfonse Mucha , e para mim as cores seriam mais cruas e ousadas, com um visual mais folclórico e alegre.
Eu adicionei meu toque pessoal e a minha inspiração porém mantendo a estrutura básica do figurino, com mudanças das texturas dos tecidos e nas cores, passando dos pastéis e dos tons lavados para algo mais arrojado, natural e vigoroso.
2) RP: Após 25 anos de FCBD®, você sente que ainda precisa procurar novas inspirações para a evolução do estilo ou consideraria seu trabalho encerrado? CN: Encerrado seria um pouco extremo, eu diria terminado. Quando lançamos o DVD 7, na ocasião do aniversário de 20 anos do estilo eu considerei que a minha criação estava completa e fiquei bastante satisfeita. Mas alguns Sister Studios vieram com algumas variações para alguns passos , o que eu achei frustrante por não ver propósito nisto, e até nós mesmas no FCBD surgimos com variações também , então tive que admitir que o estilo continuava a crescer. Num primeiro momento me senti frustrada, como já mencionei, porque só de pensar no trabalho que isso tudo daria já me senti exausta. Percebi que seria inevitável, com a evolução do estilo haveria que se assegurar a liberdade de criação, então eu me rendi à idéia de reunir 3 Sister Studios mais o FCBD® e criamos o volume 9 com um manual para a criação de novos passos se assim for do desejo de quem dança ( e este seria tema para uma outra entrevista completa). Então eu não diria que o conceito está encerrado, eu diria que está completo e diria ainda que continua a se desenvolver, respeitando seu formato original.
3) RP: Porque você começou a dançar em grupo? CN: É uma boa pergunta! Como disse antes, na época em que dancei com Masha Archer haviam solos ocasionalmente, mas ela gostava mais da idéia de dançarinas trabalhando juntas. Em vez da idéia de competição entre dançarinas, coisa ela observou tantas vezes até que ela começasse a dar aulas, que mesmo em grupo tentavam aparecer mais que a outras competindo entre si e tentando provar qual delas era a melhor.
Ela achava essa atitude sem sentido porque quando estamos no campo da Arte não existe este sentido de competição, então ela passava para nós uma mentalidade de cooperação quando dançávamos juntas. Então eu interpretei isso como a forma que deveria ser.
E o que pude perceber da minha experiência inicial lecionando foi que os solos criavam mesmo esta sensação de “quem é a melhor”, coisa que eu não gostava. É como quando você vê uma dançarina cercada por outras e automaticamente você pensa que ela está se destacando porque ela é a melhor do grupo, e não porque ela teria a leitura musical mais interessante para esse pedaço da musica por exemplo. Com o passar do tempo mantivemos o solo, mas ele não faz parte da natureza do estilo como quero apresentá-lo.
Então nos grupos de duetos, trios e quartetos a audiência tende a ficar desconectada das particularidades de cada dançarina (a mais bonita, a mais alta, a mais voluptuosa ou a mais magra… a que tem cabelo roxo… enfim!) e se concentra no todo, como uma verdadeira pintura em movimento.
A primeira coisa que se vê é a totalidade desta “pintura”, e então você nota qual é o tema, e pequenas partes desse todo começam a se destacar. Eu não queria que estas “pequenas partes” se destacassem antes do tema principal, e a atenção não se perde deste tema.
E isso agradou a muitas pessoas porque se você quer dançar mas não quer ser uma solista, você não precisa. Não é necessário lidar com toda aquela pressão de ser o centro das atenções , eu mesma nunca quis ser uma solista. Muitas alunas que freqüentavam as minhas aulas se sentiam desta maneira e isso fez com que elas se sentissem confortáveis e isso ajudou muito.
À medida que o ATS® foi ficando mais popular senti muita pressão por parte das pessoas para fazer solos, por que eles queriam me ver dançando sozinha e eu pensei “mas isso vai contra o propósito da coisa”, mas acabei cedendo porque vi o porquê delas quererem tanto. Então apresento solos ocasionalmente mas não gosto deles tanto quando gosto de dançar em grupo.
4) RP: Como criadora do ATS® como você se sente a respeito da projeção mundial que o estilo vem tomando em todo o mundo? Você algum dia imaginou que o estilo se tornaria tão popular?  CN: Eu tenho três respostas para esta pergunta. Eu esperava que o estilo se tornaria tão popular? Não. Foi minha intenção que ele se tornasse tão popular? Não. O porquê de ter se tornado tão popular faz sentido para mim? Sim. Porque é belo, é de uma beleza universal, é acessível, e eu penso “é claro que todos querem fazê-lo”.
Eu quis que se tornasse o propósito da minha vida então porque outras pessoas não iriam querem também? Foi sem intenção, sem promovê-lo dessa forma que faz com que faça total sentido. O que mais se poderia querer?
5) RP: Quais são seus próximos objetivos? No que você gostaria que o a ATS® se transformasse no futuro? CN: Como disse antes, sinto que o meu objetivo foi atingido e o fundamento está completo e cabe a ele uma evolução , então eu acho que o conceito continuará a se expandir , crescer e se tornar sustentável e saudável. O que eu realmente gostaria de ver seria o ATS® mais presente na mídia.
Eu gostaria de ver a dança do ventre sendo apresentada de uma forma mais séria, e não apenas como um hobby ou uma dança sexy. Seria muito bom se a mídia desse uma chance de retratar a dança como uma forma de arte de grande beleza, independente do que as pessoas consideram como um estilo formal de dança , independente da opinião pessoal de algumas pessoas do que é beleza feminina. Se apenas eles pudessem ver através dessas coisas pequenas o verdadeiro valor da dança eu me daria por satisfeita.
6) RP: Qual a sua opinião sobre a importância do estudo teórico para a dança? Fale sobre. CN: É de extrema importância o conhecimento sobre as raízes das coisas. Acho que as pessoas passam tempo demais em páginas da internet e não dançam o suficiente. O que pude descobrir à partir da minha experiência pessoal e que posso recomendar para os outros: tenha em mente de forma clara a diferença entre o que são informações históricas e factuais do que é arte.
Então, se você está interessada em reproduzir fielmente “a dança dos Beduínos das montanhas Atlas do Marrocos” estude intensamente e faça-o. Mas se você está interessada em criar algo interessante para performance então faça-o, use as influências históricas, modifique se for preciso. Minha opinião é que as pessoas às vezes tentam com muita veemência ser original e ser historicamente fiéis, mas eu não acho que isso seja possível.
Acho que se pode ser um ou outro , mas isso não quer dizer que eu não possa usar influências de um ou de outro, mas se você está reproduzindo algo que já existe e está dizendo que é algo totalmente novo é aí que o problema se estabelece.
As pessoas têm muito medo de se assumir artisticamente então elas copiam algo e fazem pequenas mudanças, mas não de uma forma eficiente para que se torne algo diferente e então temos eventos de dança do ventre cheios de idéias mal desenvolvidas por que as pessoas simplesmente não tem talento nem coragem de assumir riscos.
Simplificando, acho que o estudo é muito importante, pesquisa cultural é muito importante, mas ou se tem uma reprodução fiel do que se quer representar com os estudos ou use aquela influência e faça algo que tenha a sua assinatura. Porque é isso que eu venho testemunhando desde o início da minha carreira, as pessoas pensavam que o que eu estava fazendo com o ATS® no início era mais autêntico do que a dança do ventre (dança do ventre estilo oriental, ou cabaret como os americanos chamam) e não é.
A Dança do ventre sempre foi mais autêntica no sentido histórico que o ATS®, e só porque “parecíamos” mais folclóricos as pessoas assumiram que nós éramos a verdadeira dança, e isso nos causou problemas imensos com a comunidade da dança do ventre. E isso me forçou a tomar uma decisão definitiva sobre esse assunto, o que me rendeu liberdade para perseguir os meus interesses artísticos e estéticos.
É claro que existem ligações entre o meu trabalho e os aspectos tradicionais das culturas que pesquisei, mas eu não tento retratar nenhuma tribo em específico. Eu respeito todas as influências às quais me inspiro a ponto de não tentar reproduzir essas influências sem o conhecimento necessário.
Por que se eu fosse perseguir o conhecimento de centenas de formas de dança então nunca faria o que eu faço, porque seria completamente consumida por essa pesquisa. Então pode ser muito libertador se você cortar o cordão, e também pode ser bastante intimidador se você procura fazer algo novo, mas é necessário seguir a sua inspiração. Na arte não existe “certo ou errado”, existe a coragem de se fazer o que se deseja, e se as pessoas gostarem, ok. Se elas não gostarem não pense que não está “correto” apenas continue tentando, siga a sua inspiração.
7) RP: Sabemos que o ATS® originou o Tribal Fusion. Como você se sentiu quando as primeiras modificações do seu estilo aconteceram? CN: Posso dizer que as primeiras modificações do ATS® não foram fusões, não foram Tribal Fusion. As primeiras modificações vieram de pessoas que freqüentaram as minhas aulas e decidiram que elas mesmas gostariam de lecionar, ou se mudaram , ou estiveram na companhia de dança e decidiram criar o seu próprio grupo em outro lugar…foi inevitável e lamentável porque o meu trabalho ainda não estava completo, as pessoas pegaram informações pela metade.
E quando foram usar o que tinham aprendido tiveram que completar o conhecimento com outras coisas. Então tivemos todas estas variações do ATS® ou da dança tribal. Minha primeira reação foi ficar de coração partido. Foi uma grande confusão, fiquei chocada. Então fiquei desapontada e magoada porque senti que essas pessoas me roubaram de alguma forma e eu não podia acreditar nisso, eu nunca faria tal coisa com a minha professora.
Eu não comecei a dar aulas enquanto ela não se aposentou. Jamais eu daria aula com ela em atividade. Nunca me ocorreu, e se tivesse eu trataria de tirar esse pensamento da minha cabeça. Então, foi assim: as pessoas abrindo aulas na minha esquina e dizendo que o que elas faziam era a mesma coisa que eu, ou chamando por outro nome e oferecendo o mesmo que eu. Era exatamente o que eu disse sobre danças folclórica e expressão artística. Se você vai utilizar a idéia de outra pessoa e modificá-la, faça grandes modificações.
Não faça “mudançazinhas” e diga que é completamente novo, porque não é. À princípio eu quis criticar essas pessoas mas me dei conta que se eu fizesse isso a dança nunca cresceria, então eu simplesmente parei de me importar. E foi a minha salvação, saber quando não se importar.
Por uns bons anos eu não prestei atenção às coisas novas que as pessoas estavam inventando até que o Tribal Fusion apareceu e eu pensei “O que será isso? O que isso tem a ver com o que eu faço? Por que estão chamando isso de Tribal?” E por um bom tempo o tribal de tornou “a lata de lixo” para aqueles que queriam fazer algo diferente e não tinham coragem de de se opor à dança oriental e dizer “eu quero modificar o seu estilo”. Mas como o tribal era algo experimental e se originou da dança oriental era ok modificar o quanto se quisesse.
O termo “tribal” tomou uma conotação totalmente errada e não foi, até que Rachel Brice aparecesse e finalmente houve um entendimento maior e a coisa toda passasse a fazer mais sentido para mim. Ela é uma pessoa muito talentosa e inteligente e disse para mim “eu quero fazer tal coisa que se parecesse dessa forma, do que devo chamá-la?” e eu respondi “eu não sei” então acho que dissemos juntas “então vamos chamá-lo de Tribal Fusion”.
E fiquei muito satisfeita por termos tido esta conversa, ela me pediu a minha opinião e realmente criou algo que vem do ATS® mas é completamente diferente. É como se você pudesse olhar para nós e ver as semelhanças, apesar das diferenças, fizemos um ensaio fotográfico em que trocávamos de figurino e era essa a sensação.
E é muito obvio que existem elementos do ATS® no que ela faz, mas ela não modificou pouco, modificou muito e agora posso ver que o que ela faz é distinto, porém vejo muitas pessoas simplesmente “nadando” entre uma coisa e outra sem entender. Elas não têm essa perspectiva das duas partes e acabam tendo muitas informações desencontradas, ou não são talentosas ou habilidosas o suficiente para criar algo próprio. Então se copia sem se entender, o que desorganiza o cenário todo.
8) RP: Você viajará muito menos em 2013 para escrever o seu livro, conte-nos mais sobre este projeto. CN: Bom, este projeto é algo que vem sendo cobrado de mim por muito tempo. Ao mesmo tempo em que as pessoas me pediram para desenvolver um estilo de dança, e quiseram modificá-lo e me pediram para viajar o mundo ensinando-o. E então disse “eu posso fazer tudo isso ao mesmo tempo”, e por um tempo achei que poderia escrever um livro enquanto fazia tudo o mais, mas ficou muito claro que eu não poderia. Resolvemos tirar o próximo ano para escrever o livro, apesar de ainda ter alguns poucos compromissos, eu e minha companheira de Tribal Pura, Megga Gavin.
Quero que o livro seja sobre a história do ATS®, mas visto sob a minha ótica e minhas experiências para que as pessoas possam entender um pouco mais sobre de onde veio e como foi o processo, como foi o ambiente em que cresci, e o que eu presenciei. O que me inspirou, quais foram as minhas experiências, as minhas influências e como isso tudo foi fundamental para a concepção do ATS® e do Tribal e para que estes sejam melhor entendidos.
Porque muitas vezes as pessoas acham que o ATS® é muito rígido, e não sinto que seja assim. Acho o sistema flexível e a cada vez que se dança é diferente. E a razão da estruturação e das regras do estilo é para que se possa aproveitá-lo. Então não é como se você estivesse tentando construir algo indefinido sem sucesso , é definido porque precisa ser. E isso vem minha da experiência de tentativa e erro, de deixar ficar o que funciona e abrir mão do que não funciona.
9) RP: Deixe uma mensagem para os nossos leitores da Revista Shimmie. CN: Eu diria para você terminar de ler a sua edição da Shimmie, coloque de lado e vá fazer uma aula de ATS®! Pare de pensar e vá dançar. Todas as respostas que você precisa estão na dança. Apenas assista a uma aula do inicio ao fim, mantenha sua mente aberta o tempo todo e não traga pré-conceitos, deixe o seu corpo experimentar e a sua mente vai entender no final, a sua mente não será capaz de explicar ao seu corpo, mas ele vai entender sozinho.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

SNUJS

Os snujs são instrumentos de percussão utilizados por músicos e/ou pela bailarina durante sua dança.
Os snujs são címbalos de metal, em número de quatro, que são tocados milenarmente por orientais. Acredita-se que tenham mais de 5.000 anos. São feitos de latão (bronze). Em alguns países do Oriente Médio (Egito) são também conhecidos como “Sagat” ou “Zagat”. Nos Estados Unidos, chamam-se “Finger Cymbals” e na Turquia conhecidos por “Zills” e popularmente nos outros países apenas como Címbalos.
Holisticamente eram usados pelas sacerdotisas egípcias para energizar, trazer vibrações positivas e retirar maus fluidos do ambiente, além de servir para acompanhar a percussão no ritmo da música.
O tamanho ideal para bailarinas é o médio (a, b ou c). O grande, somente é aconselhável para quem toca para bailarina ou com conjunto/orquestra. Os pequenos são bonitinhos, mas inúteis. Tem som infantil, não tem nenhum glamour.
E Percussão é algo forte/intenso e marcante precisa ser bem representada. O domínio dos snujs implica domínio da base rítmica da música árabe, elemento primordial para uma boa evolução musical.
Como identificar um bom Snuj? Você vai identificar pelo som. Os bons propagam pelo menos 10 a 12 segundos o “reverb” do agudo. Evidentemente, depois de um tempo, também perdem o fio (a primeira camada circundante) e necessitam ser substituídos.
Como cuidar? O suor das mãos e o pouco uso (se ele ficar esquecido na bolsa ou exposto ao tempo) irão oxidar. Faça o polimento regularmente. O som inclusive fica mais limpo também. Por incrível que pareça a oxidação também atinge o som. Guarde-os sempre juntos, e de preferência num saquinho de pano com fechado. Não empreste! Use Limpador de Pratos de Bateria, pois é o mesmo material. {Dicas de Jorge Sabongi}
O conhecimento dos ritmos árabes para dança torna previsíveis as seqüências e dá confiança ao trabalho. Você consegue identificar exatamente onde pisa. Saber tocá-los com os snujs facilitará muitos aspectos de seus movimentos, pois conhecerá o tempo e a forma de cada um deles. Isso lhe dará criatividade nas seqüências de movimentos da dança. Importante: Não toque em “taksim” (improvisações lentas de um único instrumento: violino, kanoum, flauta, acordeom…).
Nota: Não se sabe ao certo a data precisa o início da música árabe percussiva no Brasil, mas acredita-se que tenha iniciado no final dos anos 60 e início dos anos 70, pois, neste período, Haidamus já iniciara seus trabalhos como músico árabe profissional no Brasil. Podemos afirmar que a música árabe nasceu, no Brasil, nos restaurantes árabes da época.
Sobre um pequeno palco decorado ao estilo “tenda árabe”, três ou quatro músicos (dentre eles Fuad Haidamus na derbakke e Wady Cury no alaúde ) se apresentavam ante a uma pequena platéia de espectadores. Assim se deu início a percussão árabe no Brasil ( ou a musica árabe como um todo ), tendo como instrumentos iniciais o derbakke tradicional, feito em cerâmica queimada e o daff, em madeira e pele de peixe. Os snujs também surgiram nesse período, porém, foram imortalizados pelas mãos de Shahrazad Sharkey, pioneira da bellydance e maior mestra de snujs para dança do ventre no Brasil.
Contribuição do texto de Silmara Matos, aluna Campo das Tribos.
Fontes
Apostila de Marron Araújo Vitor Abud Hiar site: http://www.vitorabudhiar.com/)
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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

ATS vs ITS

O que é ATS® e ITS?
Você já deve ter ouvido falar sobre um estilo de Tribal chamado ATS®. Mas, o que é ATS® afinal? A intenção deste artigo é esclarecer um pouco mais sobre o estilo e também a sua principal variação, o ITS (Improvisational Tribal Style).
O estilo American Tribal Style® mais conhecido como ATS® foi desenvolvido por Carolena Nericcio em São Francisco (CA), em meados dos anos 80. É um estilo de improvisação coordenada em grupo, onde a líder utiliza sinais corporais para se comunicar com as outras dançarinas e juntas, improvisam com base em um repertório de passos comum a todas.
No ATS® não existe solo, sua principal regra é improvisar em grupo. Carolena Nericcio foi aluna por muitos anos de Masha Archer, que por sua vez foi aluna de Jamila Salimpour. Sabe-se hoje, que esse “trio” foi o responsável pelo começo do “movimento Tribal” que atualmente conhecemos.
O estilo ATS® começou a ser desenvolvido após o término do grupo San Francisco Classic Troupe que Carolena Nericcio integrava dirigido por Masha Archer. Carolena quis dar continuidade a sua dança e passou a ministrar aulas, agregando novos conceitos e movimentos ao que já existia.
O nome “AmericanTribalStyle®” (estilo tribal americano), foi dado pela mesma para distanciar sua dança das raízes do oriente e deixar claro que seu estilo era uma criação norte-americana (grifos do blog). Nasceu então o grupo FCBD® sigla para FatChanceBellyDance®, o primeiro grupo de ATS® do mundo, criado e dirigido por Carolena Nericcio em 1987.
O nome do grupo foi uma sugestão bem-humorada de um amigo, baseando-se na reação tola que as dançarinas costumavam receber de leigos que muitas vezes enxergavam a dança como um mero entretenimento masculino. O significado da expressão em inglês “Fat Chance” é “sem chance, nem pensar ” ou seja, “Fat Chance you can have a private show” (sem chances de você ter um show particular). Ao longo dos anos, o estilo ficou mundialmente conhecido, sofrendo modificações de suas praticantes como passos e formações, mas ainda assim nomeavam sua dança ATS®.
Carolena Nericcio sentiu a necessidade de preservar a modalidade desenvolvida por ela baseada em muitos anos de estudo e prática, para isso, desenvolveu um sistema de formação atualmente exclusivo e registrado tendo direitos autorais reservados, que é basicamente composto por três etapas: General Skills, Teacher Training 1 e 2.
O Certificando-se nesses cursos, passa-se a ser uma “Sister Studio” estando apta a dançar e ensinar o estilo respeitando suas regras e origens. Chegamos então ao ponto ITS ( improvisational tribal style) ou seja, quem não for certificada OU não dançar fielmente os passos, formações e propostas do ATS® poderá nomear seu estilo de ITS tendo a liberdade para criar, modificar movimentos, formações e o que mais o grupo desejar. A única regra para o ITS é que seja improviso em grupo baseado no sistema desenvolvido para o ATS® (grifos do blog).
Hoje, o ATS® é um vocabulário mundial. Quem conhece o estilo é capaz de dançar improvisando em grupo sem nunca ter dançado com aquelas pessoas antes. Já o ITS não é uma linguagem única, uma vez que cada grupo desenvolve seu próprio vocabulário. A base de ambos é o improviso coordenado em grupo. Dois exemplos sãos: FCBD® ( ATS®) e Unmata ( ITS). 
Bons estudos! 
http://www.campodastribos.com.br/o-que-e-ats-e-its/
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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

TRIBAL NO BRASIL - RAPHAEL LOPES

TRIBAL NO BRASIL - RAPHAEL LOPES
Dançar para mim vem sendo uma atividade lúdica há mais de uma década. Mas como bom virginiano detalhista que sou, ainda que lúdica a dança sempre foi por mim levada muito à sério.
Começando aprendendo diversos estilos, e tendo a oportunidade de ainda cedo participar de companhias de dança onde fiz amizades eternas e tive o prazer de viajar, participar de festivais e competições.
Porém em 2004 a dança ganhou um contorno ainda mais sagrado para mim, de modo que tive um forte chamado para a dança clássica indiana. O Odissi rendeu minha alma por inteiro, e durante quase 10 anos esse foi minha única modalidade. Tive a oportunidade de viajar para a Índia e constatar que o Odissi é realmente a forma mais clara pela qual posso me expressar, e que certamente irá me acompanhar eternamente nos palcos.

Mas tenho um espírito inquieto, livre, pulsante. Não que a dança clássica não estimule em mim esses aspectos, mas depois de mais de um ano lecionando e convivendo na Escola Campo das Tribos, me identifiquei com o estilo Tribal – com a musicalidade, a irreverência, a construção cênica – Tudo.

Decidir começar a aprender o Tribal exigiu de mim um pouco de coragem. Sim, pois depois de consolidar uma carreira no clássico, assumir um papel de aprendiz num estilo tão diferenciado foi um desafio. Também foi um desafio reconstruir novas formas de expressão, principalmente nos movimentos de quadril.

Algumas pessoas do meu círculo de convívio estranharam um pouco a minha decisão, principalmente por soar tão mais “feminino” uma dança que envolve tantos elementos da dança do ventre. Mas dançando desde sempre, e lidando com opiniões tão distintas a respeito do meu trabalho, isso foi apenas um detalhe. Detalhe esse que se diluiria no momento em que eu subisse em cena, e mostrasse que antes da dança ser um trejeito adotado é sim uma expressão única que cada um adquiri com trabalho e dedicação.

Trabalho e dedicação que desenvolvi ao lado de uma grande professora. Rebeca Piñeiro sem sombra de dúvidas foi minha melhor escolha no sentido de reaprender a dançar. Soube me deixar a vontade, e me fazer conhecer o meu corpo através de um novo viés. Soube me fazer entender e sentir cada movimento, de forma sutil. Me lembrou muito a forma orgânica como aprendi a dança indiana na Índia, e no meio do processo de aprendizado ela adquiriu certamente um lugar de destaque no meu amadurecimento enquanto artista.

Nossa apresentação no Festival da Escola Campo das Tribos, minha estréia oficial no ATS não teve nenhuma pretensão. Não tive pretensão de ser o primeiro bailarino de ATS se apresentando no Brasil, ou de ser o primeiro bailarino dançando esse estilo na escola. Não tive pretensão de mostrar nada para ninguém na platéia. O que eu levei pro palco foi o mix de sensações e descobrimentos que desenvolvi em sala. E acho que quem assistiu pode ver estampado no meu rosto a alegria que foi aquele momento.
Acho que isso é o Tribal.

A forma profunda como expressamos artisticamente o nosso Ser. E aqui nem pontuo o diferencial de ser um homem dançando tribal. Até pensei em abordar todo o meu texto por essa perspectiva, mas quando dançamos nos libertamos de tudo, até do gênero. Somos consciência e ritmo, alegria e entrega. E a Tribo não está apenas no palco, mas é o todo que também envolve a platéia.

Ter escolhido o ATS foi fruto da minha virginiana mania de aprender tecnica, e de assegurar uma base firme e sólida para o meu início no Tribal. Mas o que aprendi no caminho é que o Tribal é um caminho sem volta, no qual nos jogamos entre shimmies e hand floreos, com um sorriso enorme estampado no coração.

Obrigado Rebeca por ter trazido um novo alento à minha arte, obrigado meninas que me acompanham nas aulas, e obrigada Atelie TribalSkin por vestirem a minha idéia. 

sábado, 26 de julho de 2014

ENTREVISTAS - THE LADY FRED/ FRÈDERIQUE

Frèderique – The Lady Fred
Entrevista por Rebeca Piñeiro Tradução de Gabriela Miranda | Entrevista feita para Revista Shimmie Ampliando Conceitos
Nascida em Beirute (Libano) e residente na Califórnia (EUA), Fréderique (Lady Fred) é uma bailarina internacional de dança do ventre “avant-garde teatral”. É artista, performer, instrutora, pioneira e criadora do “Silent Sirens Theatre” e do “Black Heart Ballads”. Site: http://theladyfred.com/
1. Como define seu estilo de dança? Fale um pouco sobre ele. Essa sempre foi uma pergunta difícil de responder… E que eu espero nunca poder realmente definir. Meu estilo de dança é um pouco eclético e é por isso que escolhi “avant-garde “, um termo francês definido como: "Advance Guard", usado em inglês como um substantivo ou adjetivo para se referir a pessoas ou obras que são experimentais ou inovadoras, particularmente no que diz respeito à arte, cultura e política.
Isso me deixa com muito espaço para ser criativa. Junto com isso, eu uso o “teatro” na minha descrição de estilo porque é algo que eu descobri na dança em torno de 2005 e vem muito natural para mim. Eu sou uma pessoa muito expressiva e as palavras têm uma limitação para mim que os movimentos não tem.
2. Conte um pouco sobre sua caminhada na dança, como esta arte começou em sua vida? Eu tenho sido uma dançarina toda a minha vida, eu digo isso de uma maneira não convencional. Eu passaria horas dançando no meu quarto sozinha quando eu era criança; dança sempre foi uma parte da minha vida junto com a música, que sempre foi uma paixão para mim desde que me lembro. O único treino “oficial” que tive em minha juventude foi de 3 anos na patinação artística (9 – 12 anos). Houve um pouco de ballet incluído nisso porque eu também estava em uma equipe de patinação artística e todos nós tínhamos de fazer saltos, etc, mas nada formal.
3. Quais são suas principais inspirações? A maior inspiração para dançar é a música que eu descobri nos últimos 10 anos, e é provavelmente a maior de todas as minhas paixões artísticas. Eu aprendi sozinha a tocar piano quando eu era uma garotinha, eu cantei em corais por 8 anos, mas a parte rítmica é a minha favorita.
Eu toquei bateria (kit de bateria com 5 peças) por alguns anos, principalmente punk rock, mas eu estava em formação de jazz clássico, quando eu tinha cerca de 19 anos, e também é por esse motivo que eu fui inspirada por coisas antigas. Mesmo que o vinil esteja obsoleto agora eu ainda tenho meus discos de jazz antigo, death rock e punk, alguns dos quais você não pode nem mesmo encontrar para download.
4. Quando sente que precisa de novas ideias, onde busca novas inspirações? Isso pode ser estranho, mas nunca me sinto como se eu precisa de idéias novas, eu nunca nem pensei nisso. Inspirações me cercam … Cada coisa que eu vejo, cheiro, toco ou escuto me inspira, eu sinto que não posso reter a abundância de idéias que vêm à minha cabeça de tudo isso! Isso não significa que todas as minhas idéias são boas também, isso só significa que eu tenho sempre uma fonte de reserva para puxar se eu estou possuída pela necessidade de criar algo apenas olhando ao redor.
Em geral, porém, eu costumo olhar para fora da dança do ventre, não por inspiração, ou seja, eu utilizo as coisas que eu realmente desfruto da minha vida fora da dança do ventre para influenciar a minha criatividade na dança do ventre. Isso mantém o meu estilo mais autêntico e fresco também.
5. Sua dança é reconhecida pela originalidade do estilo e dos movimentos que foram criados por você mesma. Conte-nos sobre as dificuldades que enfrentou ao desenvolver seu próprio estilo e suas alegrias com as conquistas. Tão longe a estilização da dança vai, estranhamente, isso é algo que me veio como uma surpresa.. Eu definitivamente pensei muito sobre apresentação e técnica, mas nunca em dançar um estilo em particular. Há uma linha tênue entre os dois e eu os definiria assim:

- Estilo de dança: Como você se move, sua composição, fluidez, etc

- Apresentação de Dança: Seu figurino, música, seu gênero, etc
Eu nem sequer pensei no meu “estilo de dança” pessoal até que eu comecei a ouvir de outros como eles me percebiam por cerca de 6 anos em minha carreira em que todos disseram as mesmas coisas. Até hoje eu posso falar o que as pessoas dizem sobre mim, mas eu pessoalmente tenho dificuldade em ver isso tudo.
Às vezes eu tenho um vislumbre, mas meu instinto me diz que é melhor deixar acontecer sem a minha interferência, por medo de destruir sua inocência e essa qualidade de “anjo da guarda” que tem para mim. Estou muito orgulhosa das minhas realizações apesar de ainda haver muito mais trabalho e prática a serem feitos.
6. Você é responsável pela introdução de novos estilos musicais no tribal (dnb / dubstep / música clássica / trilhas sonoras). Fale um pouco sobre o risco de sair dos padrões e a importância de agregar novos elementos para o mundo da dança.
• O risco é a sua estabilidade psicológica. Há uma grande ansiedade envolvida em apresentar algo novo para as pessoas. Eu não estou falando sobre a ansiedade normal que você sente antes de entrar no palco, eu estou falando sobre ter ansiedade sobre o que vai defini-la depois de entrar no palco.
No início, quando eu estava em trupes e oferecia idéias inovadoras, isso era recebido pelo público como uma entidade apresentando a idéia, não uma pessoa específica, então eu podia, de alguma forma, me esconder por trás do véu da minha trupe, o que foi uma grande maneira de começar, como eu tive a oportunidade de ver a reação do público e o que eles tinham a dizer sem que isso caísse apenas sobre os meus ombros. Mas quando eu comecei a solar, eu sabia que tudo o que eu apresentasse refletiria somente sobre mim, o que foi aterrorizante, especialmente porque eu sabia que eu estava estreando algo novo, e eu não tinha onde me esconder.
Mas com o tempo cheguei a um acordo com a verdade: alguns vão gostar, outros não … Espero que mais pessoas gostem do que não gostem, mas eu TENHO que fazer isso porque, em última análise, isso é mais importante do que o medo das pessoas não gostarem do que eu produzo.
• Existem diferentes escolas de pensamento e prática na sociedade e eu respeito todas elas, neste caso: inovação versus tradição. Eu sou uma criadora, mas eu não derrubo a tradição, assim como tenho muito respeito por ela e acho que ela é muito importante para a história humana e da vida em si uma vez que simboliza segurança, estabilidade, validade, longevidade, identificação e, finalmente, algo para ter orgulho de ser parte. Porém, existem pessoas por aí que não gostam de outras mudando a tradição, mas eu olho para isso como ‘adicionar’ algo a tradição, não apagá-la. Eu acho que é importante lembrar que o que agora é tradição, uma vez foi uma idéia. Há aqueles que estão determinados a seguir exatamente os passos do respeito em homenagem àqueles que criaram a tradição, o que promove a sua longevidade. Esta união é linda.
8. Depois que a dança entrou em sua vida, o que mudou na Frédérique fora dos palcos? A minha confiança e auto-estima têm florescido desde que decidi dedicar minha vida à dança e expressão criativa. Eu também encontrei um outro lado de mim … Um lado feminino. Eu sou um ‘tom-boy ” no coração, mas um que pode usar vestidos e batom agora!
9. Quais foram os professores que mais marcaram sua trajetória e porque? Eu só tive duas professoras de dança do ventre na minha carreira. Luna foi a minha primeira e eu fiquei com ela por cerca de 5 meses. Então eu vi Jill Parker e fui fisgada. Ela foi a única influência verdadeira na minha dança, assim, assistí-la e treinar com ela de 1997 a 1999 sem intervalo, me ensinaram algo que você não pode facilmente aprender: fluidez e graciosidade.
10. Você nasceu em Beirute, no Líbano e possui ascendência síria, armênia, italiana e francesa. Como essa mistura de culturas influencia em sua dança? Para ser honesto, eu não acho que influencia, mas isso não significa que eu estou certa. Eu muitas vezes ouvi do velho povo do oriente médio “Está no seu sangue, é por isso que você é boa no que faz.” Mas eu realmente não sei!
11. Por alguns anos, você estudou o estilo ATS®(AmericanTribalStyle®) com Luna e Jill Parker, no que este estudo influenciou e influência hoje em sua dança? Como eu mencionei antes, a fluidez e a graciosidade foram e ainda são as maiores influências na minha dança que eu tirei a partir dos dois anos que estudei ATS com Jill Parker.
12. Na sua opinião, qual é a importância que o estilo ATS®(AmericanTribalStyle®) tem para o Tribal Fusion? Eu acho que é muito importante. Falei sobre a tradição acima, este é um exemplo perfeito, exceto que o Tribal veio antes do ATS. Não importa o que veio primeiro, é importante respeitar e honrar suas raízes. Se você vai se chamar de bailarina de Tribal Fusion … Você deveria ter estudado extensivamente o Tribal ou o ATS.
13. Você foi convidada para participar do Festival Campo das Tribos que é o maior evento de tribal realizado anualmente na capital de São Paulo para ministrar workshops e dançar no show principal. Conte-nos como se sentiu ao receber um convite para trabalhar no Brasil e ao saber que seu trabalho é reconhecido em nosso país. É uma grande honra ser reconhecido e convidado para um país tão bonito. Eu mal posso esperar até sair do avião e cheirar o ar estranho, me inspirar para instruir e me apresentar em São Paulo, Brasil!
14. Você é uma das pioneiras no Tribal Fusion. Como é para você ver que este estilo hoje é reconhecido e praticado mundialmente? Imaginou que tomaria esta proporção? Devo admitir que eu não tinha idéia que iria crescer a tais proporções épicas … Tem sido uma coisa incrível. Eu não posso dizer como é bom visitar um país a milhares de quilômetros de distância de onde eu moro e assistir outras bailarinas dançando dubstep, mixando seus sets, ou usando teatro em suas apresentações apenas para saber que se essa bailarina viu ou ouviu de algum outro lugar ou de alguém primeiro, eu sou a fonte original. É uma experiência poderosa e válida.
15. Se pudesse mudar alguma coisa no mundo da dança tribal, o que mudaria? Eu gostaria de ver a dança do ventre em geral ser mais respeitada como uma forma de arte aos olhos do público e que mantivesse os mesmos padrões que as outras danças profissionais mantém, como: Ballet, Jazz ou Dança Moderna. Esperemos que isso virá quando a maioria dos bailarinos elevar o nível de profissionalismo e dedicação à técnica da dança.
16. Deixe um recado aos leitores da revista Shimmie como motivação para continuar a dançar. Seja pelo que for que você esteja apaixonado em sua vida, nunca lhe negue sua total atenção e sempre recuse qualquer medo proveniente disso.

terça-feira, 20 de maio de 2014

O TRIBAL NO BRASIL - MARCELO JUSTINO

MARCELO JUSTINO
O TRIBAL NO BRASIL - MARCELO JUSTINO

Conheci o estilo Tribal Brasil com a nossa querida Kilma Farias e a Cia. Lunay aqui mesmo, no Campo das Tribos. Foi uma experiência apaixonante.
Participei de diversas oficinas de danças populares brasileiras antes de ter a oportunidade de conhecer o trabalho de Kilma, mas, essas oficinas nunca me encantaram. Sempre achava tudo muito simplista, apenas uma grande festa, como a maioria das nossas danças populares.
O trabalho da Cia. Lunay conseguiu finalmente me fascinar. Encontrei a fusão de movimentos que eu gostava de dançar com os ritmos brasileiros e, muitos deles difíceis e desafiadores. Me lembro como me senti quando aprendi pela primeira vez o “samba fusionado”… nossa! Me senti um completo desleixo.
Sai do workshop maravilhado e ao mesmo tempo me sentindo incapaz. Passei horas, dias treinando para conseguir executar aquele desafiador “samba fusionado” e até hoje o uso em meus trabalhos.
Trabalhar com nossa própria cultura pra mim é complicado, porque o acesso às nossas tradições é muito difícil, principalmente em São Paulo onde quase não se tem resgate da cultura popular e o mais louco ainda, sou do interior. Consegui ter acesso a cultura popular brasileira na capital onde se encontra a maioria dos grupos que desenvolvem esse tipo de trabalho.
Depois desse primeiro contato com a Cia. Lunay, participei de diversas oficinas de dança em São Paulo e pude conhecer o bailarino e professor, Deca Madureira. Foi na oficina de Deca que recebi o convite para fazer parte de sua companhia, Cia. BrasílicaDeca Madureira desenvolve um trabalho que foi nomeado pelo mesmo de Dança Brasílica que, na minha visão simplista, são as danças populares modernizadas com preparação para serem trabalhadas em palcos. Meu grande aprendizado de danças populares foi com esse mestre, que me deu o embasamento para desenvolver meu trabalho de pesquisa dentro do estilo Tribal Brasil.
Kilma Farias definiu de forma clara o que é o estilo Tribal Brasil em um dos workshops que participei com a mesma:  “…não basta usar uma musica brasileira em seu trabalho e chamá-lo de Tribal Brasil, é necessário ter elementos das nossas danças, das nossas origens dentro da sua fusão…” Essa definição ficou muito clara pra mim e levo como verdade no meu trabalho, que consiste em usar música, dança e artesanato brasileiro para compor qualquer coreografia e figurino.
Acredito que alguns não aprovam o estilo e creio ser por desconhecimento da nossa própria cultura e que nem todos gostam e até desdenham o título Tribal Brasil. Já passei por situações de preconceito e aprovação aqui e fora do Brasil.
Dois exemplos de situações que já passei:
  1. Em Lisboa, quando estava com meu figurino de Iemanjá, uma portuguesinha linda chegou pra mim e perguntou:
    - Você vai dançar Iemanjá?
    Aquilo me pegou de surpresa e me deixou muito feliz! Estar em outro país e uma desconhecida reconhecer o que eu pretendia retratar, foi uma satisfação pessoal enorme.
  2. Por outro lado, em um outro país, com um outro trabalho, um jurado disse que o que eu estava dançando não tinha nada a ver com a música (até hoje me pergunto se ele fala e entende tão bem o português, já que não estava em um país de língua portuguesa), que o figurino não tinha nada a ver, que ele não tinha entendido nada, que ele simplesmente não tinha gostado.Não espero e nunca esperei agradar a todos, mas coloco esses dois pontos apenas para ilustrar que o estilo Tribal Brasil é algo ainda mais novo do que o próprio Tribal Fusion. Tenho os meus conceitos, que levo como verdade e sei o que quero como fundamento dos meus trabalhos. Estou em constante busca do meu próprio estilo. Não estou livre de erros, como qualquer outro profissional, mas estarei sempre estudando, pesquisando e desenvolvendo aquilo que eu acredito e que gosto como fusão dentro do Tribal e que tenho muito orgulho de chamar de Tribal Brasil.
Texto extraído do blog Campo das Tribos, postado em outubro de 2013: 

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