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quarta-feira, 13 de abril de 2016

Relato de Fernando Reis sobre o início do Estilo Tribal no Brasil - Parte 2

Material enviado por Fernando Reis em fevereiro de 2016 para Carine Würch e Maria Badulaques. Através deste relato, conta como foi a formação do Estilo Tribal aqui no Brasil, através da Cia HalimFernando foi fundador da Cia Halim junto com Shaide Halim. A companhia foi fundada em 2002 e durou cerca de 08 anos.

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PARTE 02- Formação e Estruturação

Irma sempre teve muita, mas muita mesmo, aptidão e facilidade para dançar qualquer coisa, ainda que jamais tenha tido peso e massa corporal dentro dos padrões para os bailarinos profissionais. Ela sempre foi gordinha, mesmo.

:) Embora eu não ache que isso deva acontecer com a naturalidade de quem se relaciona a partir de um passeio no parque, pela primeira vez eu me peguei em um relacionamento com colega ou aluna. Era aluna e era a Irma. Irma ficou grávida e nós nos casamos.

A vida seguiu comigo sendo programador de filmes para cinema na distribuidora Pandora Filmes e Irma estudando relações públicas e ajudando o pai em tarefas administrativas de seus cursos (os do pai. Ele é consultor para empresas e professor em institutos de filosofia). Eu já não tinha condições de praticar ballet como antes, mas fazia umas aulinhas de flamenco aqui e ali, com Jussara Correa, a turma do Raies... 

Um dia, Irma, que sempre teve um bocado mais de possibilidades relacionadas a investimentos econômicos que eu, por causa da família, teve a  oportunidade de conhecer o trabalho de Carolena Nericcio e a FatChance BellyDance. Ficou absolutamente encantada! 

Mais que isto! Ela própria reunia impressionantes condições para fazer um excelente tribal (eu não digo isto só porque fomos casados. Digo porque é verdade). E, tendo em casa um sujeito que vinha da dança também, que conhecia flamenco (que podia ser muito útil no trabalho), ela (ainda Irma) não parou um minuto de elaborar e produzir. 

E eu fui ajudando com o que podia e com o que achava que tinha que fazer (me metia mesmo. Estava virando diretor da coisa sem perceber). Um dia a Cia Halim estava formada, com as aludas de dança do ventre que Shaide já tinha, as que se interessaram em participar. 

Nem todas eram muito boas, mas a gente tirava a alma delas pelo umbigo, sabe? Nunca com brutalidade. Eu era firme com o que era preciso, Shaide coreografava, dava aulas, limpava técnica, eu ajudava com coreografias, limpava umas coisas, desenhava cenas, fazíamos (muito mais Shaide) os figurinos, e um dia estreamos "Saluq" (não por acaso, nome de um vento que sopra do oriente pro ocidente), no teatro Sergio Cardoso (não me lembro data), com todo o cuidado que cabia no nosso pobre orçamento. As meninas ficaram nervosas e emocionadas, e a platéia aplaudiu nada burocraticamente. Gostaram mesmo.

O trabalho seguiu, fizemos outras coisas, Shaide tocou muito mais que eu o trabalho, mas continuei dirigindo enquanto a Cia Halim existiu em enquanto o casamento durou. O trabalho com a Halim fez com que Lulu (que à época era Sabongi) me confiasse a direção técnica e a criação da cena de abertura do show de vinte anos de sua carreira.

Eu me separei de Shaide, a Halim já havia morrido e morei na cidade do Porto um tempo (em outro casamento que também já acabou). Passei dias difíceis em internações e sobre uma cadeira-de-rodas, porque sofri a síndrome de Wrnicke-Korsakov, em decorrência de alcoolismo (já estou curado da causa e das conseqüências).

Estou de volta a São Paulo e com os papéis cheios de planos. Não posso dizer muito sobre eles, por enquanto, mas são para o bem e são para dança :)


Renata Lopes enviou as fotos que são do DVD comemorativo dos cinco anos de companhia (2007). 

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

FUNDAMENTOS DO ATS


Dance Fundamentals (level 1)



Week One
Posture
Prayer
Taxeem
Hand Floreo
4 Basic Steps (Shimmy, Egyptian, Arabic, Pivot/Choo-choo) with simple cues and transitions.

Week Two
Arm Undulations
Egyptian Step
Formations for Leading and Following
You will need your own zils (finger cymbals) for Week Three*

Week Three
Zils
Review formations with all steps

Week Four
Bodywave
Arabic Step
Review formations with all steps

Week Five
Torso Twist
Pivot Bump/Choo Choo w/arm 1 and arm 2
Review formations with all steps

Week Six
Circle Step
Shimmy Step
Review formations with all steps


Tribal Combinations (level 2)
Level One Fundamentals recommended before taking this class. 
Basic steps covered in L1 are not covered in L2.

Week One
Walking Taxeem
Walking Bodywave
Reverse Turn
Review/drill formations

Week Two
Turkish Shimmy
-w/arms and turn
Review/drill formations

Week Three
Chorus
Reach and Sit
Review/drill formations

Week Four
Propeller Turn
Corkscrew Turn
Review/drill formations/chorus

Week Five
Arabic Hip Twist and half turn
Review/drill formations/chorus

Week Six
Camel Walk
Review/drill formations/chorus

Week Seven
Double Bump
Single Bump
Review/drill formations/chorus

Week Eight
Ribcage Rotation
Arc arms
Review/drill formations/chorus

Week Nine
Up2 Down3
-w/zil pattern
Review/drill formations/chorus

Week Ten
Arabic Shimmy
-w/arms and turn
Review/drill formations/chorus

Week Eleven
Shoulder Shimmy
Ghawazee Shimmy Combo
Review/drill formations/chorus

Week Twelve
Reverse Taxeem
Head Slides
Review/drill formations/chorus
Lista extraída do site www.FCBD.com




AQUI VOCÊ ENCONTRA OS VÍDEOS PARA OS TREINOS!
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domingo, 9 de agosto de 2015

KAJIRA ENTREVISTA CAROLENA NERICCIO - PARTE 4

"A IGNORÂNCIA É UMA VIRTUDE"

Uma entrevista com Carolena Nericcio, Instrutora e Diretora da FatChanceBellyDance de São Francisco. Entrevista conduzida por Kajira Djoumahna, em 06/01/96. 





No ano passado, em sua entrevista na Revista Whole Earth, tornou-se público que você tem Esclerose Múltipla. Por favor, conte-nos sobre como a doença afetou sua vida. Bem, é diferente a cada dia. Quando eu fui diagnosticada pela primeira vez, tomei a decisão de parar de costurar e começar a dançar em tempo integral porque eu não tinha certeza de quanto tempo seria capaz de dançar. Eu estou contente que eu fiz isso, mas realmente estou ficando cansada. Então agora estou começando a pensar no futuro disso até. É muito cansativo; alguns dias eu não me sinto bem me apresentando ou ensinando, mas sempre me sinto melhor quando faço. No ano passado, eu levei muito tempo afastada, mas comecei a me sentir desconectada e decidi que queria voltar. Eu não posso adotar o mesmo tipo de espetáculos que envolvem direção por horas e demonstração ou apresentação em algum ambiente de feira empoeirado e quente onde você tem que se vestir em um cubículo e há muitas pessoas ao redor. Quando esse tipo de situações aparece, eu sinto que eu queria bater em retirada. Eu também andei  perdendo muito a cabeça. Agora eu sei quando simplesmente ir embora e não descontar nos outros. Eu vivo cada dia como se fosse o último e tenho cuidado para não me sobrecarregar. Os sintomas vêm e vão.

Como você continua em boa forma, apesar de tudo isso? Eu passo pelo menos uma ou duas horas por dia na academia. Venho me exercitando durante dez anos. Sempre levantei pesos e admirava fisiculturistas e a disciplina necessária para eles chegarem onde estão. Com certeza me influenciei por fisiculturistas mulheres. Eu também realmente gosto de ir à academia, não é uma obrigação para mim. Às vezes, o único momento particular que eu tenho é na academia. Minha dieta é muito rigorosa também, evito gordura, sou uma vegetariana e evito pratos elaborados porque embrulha meu estômago. Gosto de comidas simples que são simples e fáceis de digerir. Eu tenho um tipo de transtorno alimentar intenso, e estava realmente feliz por ter me imposto a dieta da MS (Esclerose Múltipla), porque é o que comeria por escolha de qualquer maneira. Mas agora quando as pessoas dizem "oh, você pode comer isso", eu posso dizer "não, eu realmente não posso" e elas me deixarão em paz.

Você tem algum conselho geral para as alunas de dança do ventre? Mantenha-se ereta e sorria! Em geral, sinto que as pessoas poderiam ser mais fortes. Estou desalentada com a quantidade de condicionamento físico (ou falta de condicionamento) que muitas dançarinas mantêm depois de anos de apresentação ou estudo. Não estou dizendo que você tem que ser uma fisiculturista, ou tão magra quanto uma bailarina, mas eu gostaria de ver as mulheres levarem este estilo de dança e a si mesmas mais a sério e se condicionarem com vigor e força. Também menos competitividade, por favor! Há muito espaço para todas. O mundo está interessado em ter um monte de dançarinas do ventre, mas as dançarinas tornam seu mundo mesquinho competindo tanto. Parem com isso, e todas vocês terão trabalho.

E um conselho para as professoras? 
Eu não tentaria dar conselhos a outra profissional. Direi apenas que quanto mais consistentes e generosas nós formos, mais as pessoas pretenderão vir e estudar, ao invés do contrário.

Algum conselho para artistas, sejam profissionais ou aquelas que estão começando? Novamente, eu não preciso dar conselhos às profissionais, mas para novas artistas eu diria: tentem conseguir uma visão panorâmica do que está acontecendo durante a sua apresentação. Tente parar de pensar em si mesma. O público pode perceber o medo. Você tem que ser capaz de se abrir ao público sem se prender a ele ou procurar por aprovação. Olhe-o e envolva-o sem distinção. Aprenda a abrir-se e se expressar. Cometa muitos erros. Esteja disposta a cometer erros e esteja aberta à crítica. Faça um trabalho construtivo com a crítica que você receber. Eu acho que muitas artistas em formação se abalam e ficam tão arrasadas com a crítica que recebem que elas se fecham e param de ouvir às pessoas. É estar fadada ao fracasso! Leve-a para casa e pense sobre isto. Veja o que você pode fazer para melhorar. Cultive a participação da sua professora, pois ninguém pode lhe dar o conselho que sua professora pode. Se você se isola, você pode estar perdendo uma enciclopédia inteira de conhecimento. Chegar ao palco sem o apoio da sua professora é não receber o restante da sua educação.
 
O que você vê como o futuro da dança do ventre na América? É bom ver pessoas tentando coisas novas. Eu acho bom que as pessoas estejam aproveitando o fato de que são Americanas que podem empregar um estilo de dança Árabe e aplicar suas idéias a ele sem sentir como se estivessem sendo inadequadas. Me parece que todos os árabes que entrei em contato estão encantados com o que estamos fazendo com sua dança e não parecem ter qualquer problema com as interpretações Americanas dela. Eu gosto da aproximação de mente aberta. Gostaria de ver a dança ser promovida em uma audiência pública em geral mais convencional. De modo que quanto mais pessoas estiverem expostas a ela, mais pessoas poderão ganhar a vida com ela, e todas as dançarinas que desejam encontrar locais para se apresentar sem o estigma de "coisa de stripper".

Para ler o original, clique AQUI
Uma entrevista com Carolena Nericcio

Tradutora: Suzana Guerra | Revisão: Aline Oliveira | Edição: Ana Harff


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sábado, 8 de agosto de 2015

KAJIRA ENTREVISTA CAROLENA NERICCIO - PARTE 3

"A IGNORÂNCIA É UMA VIRTUDE"

Uma entrevista com Carolena Nericcio, Instrutora e Diretora da FatChanceBellyDance de São Francisco. Entrevista conduzida por Kajira Djoumahna, em 06/01/96. 


Ao longo dos anos seu negócio de venda pelo correio realmente expandiu e decolou. Você pode contar a nossas leitoras um pouco sobre os tipos de coisas que você oferece, e como ele veio a ser o que é hoje?

As coisas oferecidas no catálogo são todas as coisas que você deseja poder encontrar em um lugar quando você começa a dançar pela primeira vez! Música, livros, vídeos instrutivos e documentários, elementos do figurino, etc. Tenho uma forte experiência em desenho de moda e varejo então não tive muito esforço para visualizar o catálogo e colocá-lo em ação. E, como pessoa controladora que sou, eu realmente acredito no poder do esforço coletivo. Então, uma boa parte do catálogo exibe cosméticos fabricados por Suzanne Elliott e peças do figurino por Gwen Heckeroth.

Você pode nos dizer sobre a Second Skin, Lunatique, a Gypsy Caravan com base em Oregon, e qualquer outra trupe de alunas descendente? A Second Skin originou-se porque eu precisava de alguma diferenciação entre o grupo central e as novas dançarinas que chegam, porque as novas garotas precisavam de muito treino de apresentação. Agora, porém, todas elas assimilaram-se na trupe. Eu sei que há um bom número grupos do estilo da FCBD formando-se por todo o país. Estou realmente muito lisonjeada, mas eu gostaria que ligassem pra casa! Estou realmente interessada no que elas estão fazendo, como misturaram meu estilo com os de outras professoras, suas próprias idéias e pesquisa. Mas eu não recebi muitos contatos muita ligação - Eu sei, eu sei, eu sou intimidante! Mas isso é indústria de entretenimento. Eu quero que minhas alunas apresentem-se e evoluam. Apenas gostaria de ser incluída. Eu quero que elas me liguem e façam perguntas. Eu tenho um diálogo corrente com Kendra de La Danse Serpentine e Suzanne de Invaders of the Heart. Elas sempre revisam comigo e me contam sobre seus espetáculos, sucessos e fracassos. Eu desejo esse tipo de interação.

Notei que os membros de sua trupe apresentam-se no estilo da  FCBD exclusivamente. Isto é simplesmente por sua escolha, ou você as incentiva explorar outros estilos, ou expressões solo? Você já disse que você as incentiva estudar Kathak e Flamenco. Quero dizer outros estilos de dança do ventre. São elas, ou você, ou o quê? 
Quanto à exclusividade, as dançarinas são completamente livres para estudar com outras professoras, dança do ventre ou outro estilo. Mas, para dizer a verdade, eu as mantenho bastante ocupadas. Eles parecem realmente apreciar a disciplina e consistência do nosso estilo. O Tribal Americano é em si uma idéia nova, por isso procuro estar com a mente aberta para material novo. O negócio é que nós queremos manter nosso estilo distinto. Então, quando alguém traz algo novo, nós examinamos e aprimoramos para se adequar ao nosso formato.

Você foi uma solista no Festival de Dança Étnica de SF em qual ano? 
Em 1995. Isso não é algo que eu tinha planejado. Elas realmente me incentivaram a fazer uma audição solo. Eu geralmente não deixo as garotas fazerem solos. Tudo bem dançar solo em uma festa de uma amiga, mas em termos de ser contratadas, eu insisto em duas ou mais dançarinas sempre. Então, eu realmente quero que a parte tribal e o companheirismo das mulheres continuem. Então, eu realmente tive que pensar por muito tempo e severamente sobre isso antes que eu decidisse fazê-la. Foi um desafio que eu realmente precisava, mas eu não queria me contradizer. Então eu decidi fazer algo diferente. Eu dancei sem o turbante , e fiz apenas as belly rolls ( ondulações abdominais ) e taxeem (ondulação de quadril), pois essa é minha parte favorita. Eu realmente não me importava se eu entraria ou não. Eu realmente queria que a trupe entrasse, e realmente me decepcionou que elas me escolheram e não minha trupe! Eu estava muito insultada. Mas foi um tipo de limpeza em que elas pegaram algo tão sutil quanto minha apresentação solo. Eu não me movimentei no palco, apenas fiquei lá em pé e fiz belly rolls (ondulaçõesabdominais ) e flutters (vibrações). De modo que só prova que você não tem que estar por todo o lugar para conseguir sua atenção. Foi uma experiência agradável, mas não é algo que eu possa ver baseando toda uma nova carreira!

Eu sei que algumas pessoas gostariam de informações sobre as tatuagens que você e alguns membros da trupe têm. Elas têm algum significado? Não, as tatuagens são uma escolha pessoal. Apenas incidimos em sermos pessoas tatuadas. Há uma piada que diz algo assim: a única diferença entre as pessoas tatuadas e as não tatuadas é que as pessoas tatuadas não ligam! As pessoas não tatuadas continuam nos perguntando o que elas significam, mas elas somente querem dizer que nós temos tatuagens!

Como o figurino da trupe evoluiu? Originalmente, quando eu dançava com Masha, nós vestíamos pantalonas e sem saia, um xale de quadril sem cinturão, e um choli (mini blusa de mangas usada embaixo do sari) com um sutiã. Também um turbante baixo   com um monte de jóias. Quando comecei a ensinar pela primeira vez, eu defendi o uso desse tipo de figurino. Então um dia alguém entrou com uma saia grande e linda da Renaissance Faire (Feira da Renascença). No início eu disse: "Não,nósnão vestimos isto", mas quando coloquei uma que eu percebi que elas eram realmente boas! Assim, em seguida, todas nós tínhamos saias. Em algum momento, o cinturão de quadril entrou, e conseqüentemente os turbantes  começaram a se tornar maiores. Nós realmente precisávamos de mais material para prender nossas quantidades sempre crescentes de jóias, algo com uma base segura. Assim, o turbante  evoluíu de forma pragmática. As tatuagens faciais não foram minha idéia; alguém pensou nisto. Alguém trouxe bindis (ornamento de testa indiano). Sempre que alguém descobria algo novo que elas gostavam, nós todas queríamos. Então chegou ao ponto onde uma pessoa ia comprar alguma coisa, e trazia o bastante para todas. Tornou-se uma diversão, um tipo divertido de complemento. Os figurinos costumavam ser menos uniformes do que eles são agora. Nós tentamos sutiãs com coletes, eu tentei várias túnicas. Era uma espécie de "sobrevivência das mais fortes". As túnicas começaram a rasgar, os coletes eram muito reveladores ou então cobriam o formato do corpo demais. Se os turbantes eram muito altos  , você não poderia equilibrar uma espada. Então de tentativa e erro nosso figurino evoluiu.

Como seu figurino afeta seus movimentos ou estilo de dança? Uma coisa é que nós não podemos usar véu porque não podemos puxá-los por cima dos turbantes ! Também nós não podemos fazer qualquer rotação no chão com eles. Nós podemos, e fazemos, cambrés tanto de pé quanto ao chão; mas não podemos nos curvar para frente ou eles soltarão. Nós podemos fazer emprego de espada se nós tivermos certeza que nossos turbantes  estão corretamente sobre a cabeça. Eu tenho grande admiração por aquelas dançarinas que são capazes de dançar com espadas de cabeça descoberta. Eu nunca poderia fazer isso!Nossos turbantes também tendem a manter-nos muito eretas. Nós tendemos a usar um monte de braceletes e anéis, e tivemos problemas em danças onde gostaríamos de unir os braços ou as mãos porque prendíamos um traje no outro ou apenas não conseguíriamos o que nós tentávamos. Assim, tendemos a não chegar muito perto uma da outra. Às vezes temos que prender nossos pompons em baixo de nossos cinturões se houver muitas pessoas girando próximas  porque elas se enrolarão. Também ajustamos nosso visual atual porque satisfaz todas as dançarinas assim como os movimentos. Tal como com os cholis, que cobrem a parte superior do braço de modo que não precisamos nos preocupar com aquele shimmy (tremido) involuntário do tríceps e podemos estar confiantes que não estará muito visível. Nunca tiramos nossos snujs, e nossos movimentos de mão ficam longe do corpo.



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Uma entrevista com Carolena Nericcio

Tradutora: Suzana Guerra | Revisão: Aline Oliveira | Edição: Ana Harff


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sexta-feira, 7 de agosto de 2015

KAJIRA ENTREVISTA CAROLENA NERICCIO - PARTE 2

"A IGNORÂNCIA É UMA VIRTUDE"

Uma entrevista com Carolena Nericcio, Instrutora e Diretora da FatChanceBellyDance de São Francisco. Entrevista conduzida por Kajira Djoumahna, em 06/01/96. 











Como você criou o termo "Estilo Tribal Americano"? Eu o criei? Eu poderia tê-lo maquiado para se safar da "polícia étnica" que está sempre no meu caminho! Então, se eu fui  a pessoa que acrescentou isto, pode ter sido para esclarecer que não estamos tentando imitar uma tribo específica, somos com certeza pessoas Americanas que apreciam esta forma de dança, e não estamos afirmando ser autênticas. Na verdade, alguém pode ter me dito: "Você faz Estilo Tribal Americano", e eu provavelmente disse: "Sim!"

Quantos membros existem atualmente na FatChanceBellyDance? 
Dez, incluindo eu mesma. (Membros além de Carolena são: Suzanne Elliot, Jill Parker, Rina Rall, Suzanne Dante, Kerensa DeMars, Karen Gehrman, Melinda Lee, Pamela Nickerson & Kathy Stahlman.)

Os membros da trupe são amigas próximas assim como companheiras de trupe? Eu acho que nós costumávamos ser muito mais próximas, mas nós esgotamos! O grupo central e eu estamos juntos por muito tempo - 6 anos - e eu acredito que nós somos com certeza velhas amigas. Os membros mais recentes estão apreciando o companheirismo do grupo, mas em geral, não são tão próximas  quanto costumava ser. Eu encorajo todas a se darem bem e conhecerem umas às outras. Isso realmente ajuda quando você está dançandoe  sabe que alguém teve um dia ruim, então você sabe que não deve jogar nada que a atrapalhe, ou se alguém está se sentindo muito poderosa, você pode jogar-lhe muita da responsabilidade extra.

Eu reparei que a FCBD está usando um pouco de coreografia agora. Alguns anos atrás vocês se afastariam  da idéia . Como você decidiu incluir a coreografia em seu repertório? 
Nós dividimos definitivamente nossos espetáculos em duas coisas, uma delas, coreografias, a outra, a improvisação. No começo, nós não sabíamos como fazer a coreografia. Nós não tínhamos desenvolvido o bastante de um formato para todas fazerem a mesma coisa. Levou vários anos de improvisação e conhecimento dos nossos movimentos próprios   até que pudéssemos considerá-la. Então agora, quando nós dançamos nos cafés, que são muitas vezes formatos estranhos e pequenos que você realmente não pode contar , porque as mesas são movimentadas, ou os garçons estão passando por elas com a comida, nós apenas fazemos improvisação. Você realmente não pode fazer coreografias ,por isso! Você estaria uma bagunça - com medo de que se você escapou de esbarrar, você não poderá escapar de novo. Mas se estamos fazendo algo em um grande palco, no Festival de Dança Étnica, ou um dos grandes festivais de dança do ventre, ou nosso espetáculo no Teatro Artaud, nós decidimos que não podíamos apenas sair improvisando! Sabíamos que precisávamos de uma estrutura real. Foi difícil para nós, nenhuma de nós realmente queria fazer isso, porque significava contagem e estar preocupada e não perder um sinal... nós perdemos a paciência várias vezes! Eu tenho vídeos com alguns erros realmente incríveis... Mas foram os dois ambientes, o palco e o café, que nos impulsionaram nas coreografias e   na improvisação . Conosco , nossas coreografias são baseadas em nosso estilo de improvisação. Eu não sei se isso é verdade com outras formas ou estilos de dança. Eu suspeito que o contrário seja verdadeiro muitas vezes . A maneira que nós fazemos a nossa coreografia é baseada no que fazíamos quando estávamos fazendo improvisação; as linhas de visão ainda são as mesmas, os ângulos são ainda os mesmos. A apresentação é uma espécie de improvisação formal.

A FCBD também usou ritmos além de 4/4 recentemente. Como isso aconteceu? Você poderia provavelmente entitular este artigo "A ignorância é uma virtude"! Nós não entramos nesta cena toda da dança do ventre com um plano! Esse lance todo de popularidade foi uma surpresa agradável. Masha nunca ensinou nada senão 4/4. Eu não tinha nenhuma idéia do que fazer com um 9/8 - o que você faria com essas três batidas no final? Então quando nós (FCBD) encontramos um par de melodias que gostamos que vieram a ser 6/8s, só começamos a dançá-las como se fosse um 4/4. Eu tenho que creditar SusuPampanin por bater na minha cabeça e me dizer que eu estava viajando! Eu realmente fiquei irritada com ela no começo, e disse a ela: "Não me diga o que fazer! Eu sou uma artista - Eu posso fazer tudo que eu quero!". Mas então eu realmente olhei a natureza de um 6/8, versus a natureza de um 4/4, e percebi que ela estava certa. Mas nós não sabíamos passo algum para 6s. Então eu decidi que alguns dos nossos passos de 4/4 poderiam ser divididos em dois, e então utilizados em 6/8s. O padrões do toque de snujs foram ajustados de acordo também. Então agora nós podemos usar 2/4, 4/4, 4/8 e 6/8s... mas não me peça para tentar um 9 ou um 12! Eu me desprendi da necessidade de tentar fazer  de tudo – dando certo ou não. Nós apenas fazemos o que é apropriado para nós, e todas as outras podem fazer todo o resto tudo o mais!

Você tinha, ou você fazia, estudo de alguma outra forma de dança? Eu estudei pouquíssimo sobre Kathak (tipo de dança indiana) e um pouco de Flamenco. Eu estudaria mais se houvesse tempo mas não há para mim. Eu incentivo as meninas a estudar essas formas também, e elas realmente amam o Flamenco. Muito embora eu não ache que elas tenham pegado a dança Indiana.

Kathak e Flamenco são influências estilísticas para a FCBD? 
Com certeza. É esse lance todo de Trilha Cigana. Eu não vejo como qualquer uma de nós poderia evitá-la! Nós todas temos essas influências, quer saibamos disso ou não. (como dançarinas do ventre). Eu acho que as dançarinas de Flamenco têm alguma influência de dança do ventre, é recíproco. Mas eu não acho que as dançarinas Indianas Orientais tenham também influência; este estilo é antigo e portanto muito disciplinado. Eu não acho que ele recebeu influência.

A FCBD ainda usa música ao vivo? Eu prefiro não usar. Eu tentei, eu realmente dei o meu melhor. Mas é muito difícil conseguir músicos que mantenham o tipo de ritmo que nós queremos e não os  deixe entediadas. Nós realmente precisamos de muita repetição. Eu acho que as pessoas não percebem é que a música de dança Oriental e a música de dança folclórica são duas coisas diferentes. Nós com certeza precisamos da folclórica. Não há um monte de bandas folclóricas. Sirocco é apenas a única que eu encontrei que realmente pode estabelecer esta base de tabl beledi (tambor dupla face tocado com varas) e mizmar (instrumento de sopro semelhante a uma corneta) poderosa, e  permanece nela até que eu os sinalize para mudar.

Como você chegou ao nome, FatChanceBellyDance? 
Eu não queria um nome para a minha trupe de dança que fosse tão difícil de pronunciar quanto meu sobrenome ! Eu não sentia qualquer ligação com nomes Árabes porque eu não sou Árabe. Há aquela história sobre quando eu era jovem e boba, diria aos homens que eu era uma dançarina do ventre e eles pediriam por um espetáculo privado. Eu pensaria "Fat Chance! (sem chance) " . Eu contei ao meu amigo Jim (Murdoch), que é um palhaço, com um senso bastante sutil mas constante de humor, e ele apenas disse: "Oh, Fat Chance Belly Dance!" Eu só sabia que queria isso! O primeiro grupo de dançarinas odiaram totalmente o nome. Elas não podiam acreditar que eu tinha escolhido um tal apelido deselegante pavoroso para descrevê-las. Mas eu sabia o que estava fazendo, eu escolhi uma frase Americana para uma trupe de Estilo Tribal Americano que era simples e cativante a qual ninguém seria capaz de esquecer. A seu mérito, ninguém se esqueceu ainda!

Há quanto tempo você ensina? 
Desde 1987.

Você tem as maiores turmas, mais aulas por semana que qualquer professora de dança do ventre que eu já vi. Em sua opinião, quantas alunas cursam suas aulas a cada semana? 
Cerca de cinqüenta.

O quê, você acredita, a o torna uma das professoras mais populares na Área da Baía de SF? 
Consulte o título desta entrevista! (risos)... Bem, no início, havia um grande alvoroço sobre as tatuagens, porque  então, muitas  mais de nós eram tatuadas do que agora. Isso foi apenas um puro golpe de sorte no entanto, porque a maioria de nós já era tatuada antes  mesmo de nos conhecermos. Nós gostávamos disso, nós éramos uns tipos selvagens . Naquela época, muitas das alunas tinham amigas que seriam consideradas "alternativas", e estavam interessadas em aprender dança do ventre, mas não estavam dispostas a ir a uma turma em que suas tatuagens ou piercings, seriam consideradas uma aberração. Então eu acho que no começo, foi tudo boca a boca. As pessoas se sentiam confortáveis. Elas podiam relaxar, eles não esperavam olhar ou serem olhadas de um certo modo. Elas podiam ter qualquer  tipo corporal, ou qualquer estilo de cabelo. Nós tínhamos estilos de cabelo e tipos corporais, tatuagens e piercings de TODOS os tipos! É realmente uma coisa de São Francisco ser visualmente incomum. Acho que as pessoas se sentiram confortáveis de virem às a minhas aulas porque elas não seriam examinadas, elas seriam admiradas. Eu acho que, em geral, as pessoas que cultivam um visual alternativo, tão extrovertido e confiante quanto elas parecem estar com a sua decisão, realmente preferem estar  em torno de pessoas como elas mesmas. Há também a afirmação feminina. Tenho certeza que deve ser verdade para turmas de todo o mundo, de qualquer forma. Eu não posso imaginar que uma sala cheia de mulheres coletivamente se colocaria pra baixo! Eu sei que em minhas turmas, as pessoas definitivamente gostam da energia feminina estabelecida. Não é baseado   no que é bonito  para os homens, é baseado no que é bonito  para nós mesmas, e colaboração com outras mulheres. Estou feliz que elas se sintam  deste jeito. Então, foi assim que começou. Agora as coisas estão mais sob controle . Eu realmente escutei e observei minhas alunas ao longo dos anos. Presto atenção ao que elas querem, e se é algo que eu posso providenciar, eu faço. Sou muito leal, mas a estrutura de aulas também é disciplinada. Acho que as pessoas apreciam esse equilíbrio. Essa é a idéia tribal, se você faz o esforço de vir a aula,   encontrarei você em mais da metade do caminho. Mas, você tem que prestar atenção e respeitar a mim e as alunas mais velhas da turma. Nós, por sua vez, apoiaremos e estimularemos seus esforços. Do ponto de vista físico, eu fui arrebatada pela ciência da cinesiologia. Como o corpo se move. E análise do movimento, o porquê de  nos movermos movemos da maneira que nós nos movemos. Esses estudos acrescentaram profundidade a minhas aulas, tenho certeza.

Você se sustenta (economicamente) unicamente da dança do ventre ? Sim, eu me sustento.



Para ler o original, clique AQUI
Uma entrevista com Carolena Nericcio

Tradutora: Suzana Guerra | Revisão: Aline Oliveira | Edição: Ana Harff


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quarta-feira, 6 de maio de 2015

UMA HISTÓRIA DO ESTILO TRIBAL AMERICANO

Texto extraído do Blog Tribal Mind
*por Rina Orellana Rall, principal dançarina FCBD 1988-1998
Tradutora: Suzana Guerra | Revisão: Aline Oliveira

A Dança do Ventre de Estilo Tribal Americano é claramente uma nova forma de dança com suas origens na dança do Oriente Médio tradicional. Os componentes desta história incluem as dançarinas ciganas que inspiraram os Orientalistas do século dezenove e a introdução da dança nos Estados Unidos na Feira Mundial de Chicago em 1893. A dança cigana então se transformou num estilo de dança de cabaré urbano para agradar um público antigo no Egito. Também incluídas nesta história estão as professoras dos últimos cinqüenta anos que são a linhagem direta do que atualmente é conhecido como Estilo Tribal Americano: Jamila Salimpour, diretora de Bal-Anat, Masha Archer, diretora da Trupe de Dança Clássica de São Francisco, e Carolena Nericcio, diretora da FatChance BellyDance. A Dança do Ventre na era moderna sempre se modificou para satisfazer as expectativas de seus expectadores e isso é o que liga as dançarinas ciganas do século dezenove do Oriente Médio com as dançarinas Americanas modernas do século vinte.

Breve Avaliação da Dança do Ventre e Definição de Estilo Tribal Americano - Quando uma dança particular é tirada de seu contexto cultural e colocada em um palco, ela muda. Ela muda de modo que satisfaça seu novo público e suas expectativas. A Dança do Ventre como entretenimento secular do Oriente Médio, no entanto, sempre se adaptou e mudou para ajustar-se às expectativas de seus expectadores. O ímpeto para a adaptabilidade é um assunto econômico. É encorajar os expectadores a darem mais dinheiro às dançarinas. Isto é verdade para as dançarinas ciganas que a originaram, verdade para as dançarinas de cabaré Árabes que a transformaram e verdade para as dançarinas Americanas que a adotaram. Meu foco aqui é estudar a Dança do Ventre de Estilo Tribal Americano que tem suas raízes nas danças ciganas do Oriente Médio mas carrega o toque moderno de sensibilidades artísticas Americanas.

Um exemplo principal de Estilo Tribal Americano apresentado hoje é da FatChance BellyDance da qual eu sou a diretora assistente e com a qual tenho me apresentado desde 1989. Eu tenho uma tendência a querer usar a forma de dança como meu próprio veículo de auto expressão sem prestar muita atenção ao contexto cultural. No entanto, eu sei que sem o fundo cultural eu nunca determinaria a dança por inspiração. Então, eu focarei na linhagem direta que levou até o estilo da FatChance e o contexto cultural do qual a forma de dança originou-se.
A linhagem começa com as dançarinas ciganas da África do Norte, particularmente as Ghawazee do Egito e as Ouled Nail da Argélia. As dançarinas ciganas apresentaram-se nos Estados Unidos em 1893 na Grande Exposição de Columbia em Chicago. O movimento que estas dançarinas criaram gerou espetáculos burlescos e inspirou todo um novo gênero de Hollywood da mulher sedutora. As dançarinas árabes foram atraídas a este glamour e quiseram imitar os ideais Ocidentais. Então elas adotaram a versão de Hollywood como sua própria. Assim, a dança do ventre de cabaré Egípcio moderna tradicional é uma construção Americana que foi modificada pelas Árabes para suas próprias necessidades artísticas e econômicas.

Jamila Salimpour, americana, é considerada a criadora da Dança do Ventre de Estilo Tribal Americano. Seu grupo de dança, Bal-Anat, construiu o caminho para outras usarem uma fusão das várias danças regionais do Oriente Médio e África do Norte como inspiração para sua própria versão de dança do ventre. Masha Archer, uma ex-aluna de Jamila, acrescentou mais uniformidade ao novo estilo, por meio de não distinção entre as regiões e simplesmente identificando-as como dança do ventre. Carolena Nericcio formou a FatChance BellyDance depois de estudar com Masha e combina as metodologias das duas professoras. O que essas artistas Americanas têm em comum com suas criadoras ciganas é que todas elas adaptaram a dança para atender suas necessidades de sobrevivência e de valor de entretenimento.



O Estilo Tribal Americano é um estilo de fusão étnica, influenciado pela dança do Oriente Médio mas inspirado pelas sensibilidades artísticas Americanas. Não tem nada a ver com a representação de uma tribo particular, mas ele combina vocabulários de movimento e traje regional para formar uma apresentação coesa. A parte "Americana" do rótulo reconhece que as dançarinas estão continentes de distância da cultura que criou a forma de dança e estão tirando licença artística com ela. No entanto, elas ainda devem reconhecer, respeitar e honrar as raízes. A aparência do Estilo Tribal Americano parece autêntica por causa de sua semelhança com várias tribos ciganas por toda a África do Norte, Oriente Médio e Índia. Muitas vezes, os Árabes comentam que o estilo os lembra do 'lar'. No entanto, os trajes não são autênticos mas dão a sensação de lar.



O Passado Cigano

A Dança do Ventre tem origens em cultos de fertilidade antigos e auxílio no nascimento das crianças em um tempo em que a religião era uma parte integrante da vida diária e tinha relevância em cada aspecto da existência humana. No entanto, a dança pélvica feminina desapareceu em muitas partes do mundo, mas permaneceu em áreas como o Oriente Médio e África do Norte.4 Ela então progrediu de uma esfera religiosa para o reino de espetáculo e entretenimento em uma nova classe de dançarinas profissionais.

A aceitabilidade da dança no Oriente Médio estava entrelaçada com o papel das mulheres na sociedade. Nenhuma mulher Egípcia bem criada consideraria dançar em público. A dança como um passatempo social no limite do lar era aceitável para as mulheres apenas entreterem uma a outra. A dança profissional era o domínio das classes inferiores quando ela era limitada às "ciganas, comunidades minoritárias e os membros mais pobres da sociedade". Desconfiavam destas dançarinas por seus modos rebeldes, contudo elas foram recebidas com prazer nos lares das classes superiores para animar festividades de família.

As ciganas sempre assimilaram costumes e tradições locais e faziam os seus próprios. Elas poliram e ampliaram a dança e música local a fim de usá-las como um meio de sustento. Então, quando os Franceses encontraram a dança na África do Norte em 1798 durante as invasões Napoleônicas, as dançarinas ciganas logo descobriram que os soldados Franceses eram uma nova e abundante fonte de renda. Elas adaptaram seu repertório para atrair mais renda. A elite nativa e educada não sentia que a dança era respeitável nem importante o bastante para registrar. Naturalmente, as dançarinas se tornaram uma obsessão para muitos viajantes Ocidentais por causa da suposta sensualidade proibida que as dançarinas representavam.

Jamila Salimpour

Ela é creditada por muitos pelo início da revivificação da dança do ventre nos Estados Unidos e ser a criadora do que é agora conhecido como Estilo Tribal Americano. Ela também desenvolveu um método de listagem detalhada verbal e terminologia para os movimentos que ela aprendeu de artistas visitantes do Oriente Médio. Sua introdução à dança veio com as descrições de seu pai das dançarinas Ghawazee no Egito enquanto ele se situava lá com o exército Siciliano. Ela também acompanhou a sua senhoria Egípcia a filmes Egípcios quando a dança era exibida. Ela tentou se lembrar de cada movimento que ela tinha visto: "E assim, das lembranças de meu pai, do conhecimento em primeira mão de minha senhoria e dos exemplos do filme, isto foi como eu adquiri minha informação sobre a dança".

Ela começou ensinando dança no início dos anos 50, mas teve dificuldade porque ela nunca tinha aprendido formalmente a dança e não sabia como ensiná-la. Isto foi até que ela começasse a dançar em São Francisco nos anos 60 e virasse dona do Bagdad Cabaret na Broadway no qual ela foi exposta a dançarinas contratadas de diferentes países no Oriente Médio. Neste ponto ela começou a catalogar movimentos e criar um vocabulário de dança utilizável:

O acúmulo de informação criou um repertório vasto para suas alunas coreografarem suas próprias peças. Jamila tinha se concentrado no estilo de cabaré tradicional que era adequado para boates, mas em 1967 ela começou a perder algumas das suas alunas. Ela descobriu que elas estavam indo com figurino para a Renaissance Pleasure Faire (Feira de Prazer da Renascença) na Califórnia do Norte e apresentando-se espontaneamente ao longo da Feira. O organizador da Feira suplicou a ela para controlar a situação. Então, ela formou o grupo Bal-Anat para organizar as dançarinas para se apresentarem na Feira e dirigir suas alunas.

A experiência de Jamila como uma acrobata com o Ringling Brothers Circus enquanto ela era uma adolescente se tornou treinamento essencial para o novo formato do grupo. Ela moldou a trupe depois de um show de variedades similar ao circo que poderia ser visto em um bazar no Oriente Médio. O show de variedades continha números de dança que eram de três a cinco minutos de duração e representava um perfil dos velhos estilos do Oriente Médio. Suas alunas Americanas representaram músicos do Egito e Marrocos, uma dançarina da Ouled Nail da Argélia, dançarinas da Turquia e dançarinos de bandeja masculinos.

O estilo de Bal-Anat não foi identificado na ocasião porque cada membro representava uma dança regional diferente e vestia um traje apropriado. Porém, elas poderiam ser identificadas como Estilo Tribal Americano por causa da definição de fusão étnica, e porque elas modificaram seu espetáculo para um público Americano em um palco Americano.

O formato de Bal-Anat foi imitado por todos os Estados Unidos, embora as novas praticantes normalmente não soubessem de onde o estilo originou-se. "Realmente, muitas pessoas pensavam que ele era a 'idéia genuína' quando na realidade era metade  genuíno e metade falso". Os expectadores na Feira pensaram que testemunharam danças autênticas embora o folheto os informasse que o grupo era de muitas tribos. Jamila especula que é de onde a expressão "dança tribal" originou-se. Enquanto dirigia a Bal-Anat para a Renaissance Pleasure Faire, Jamila continuou a treinar suas alunas no estilo de cabaré. Ela freqüentemente as mandava se apresentar nas várias boates na Área da Baía de São Francisco até mesmo depois que ela se aposentou de apresentação.

Masha Archer

Descontinuou seus estudos com Jamila uma vez que ela estava pronta para se apresentar nos clubes. Ela estudou com Jamila Salimpour durante dois anos e meio e uns semestres antes de fundar a Trupe de Dança Clássica de São Francisco que existiu durante quatorze anos (dos anos 70 até meados dos anos 80). De acordo com Masha, Jamila sentiu que a dança merecia um local melhor do que restaurantes e bares, mas não havia nada que poderia ser feito sobre isto: "Ela contava que tão desagradável quanto a cena podia ser, você tinha que aguentar aquilo porque era apenas uma competição na cidade".

A disciplina original de Masha foi extraída e ela usou a dança para expressar as linhas que ela imaginou. Ela considera que sua herança artística é inspirada por algo especial e responsavelmente usa qualquer parte que deseja:

Ela não usa qualquer rótulo no momento de definir seu estilo. Era simplesmente "Dança do Ventre". Carolena Nericcio, membro da sua trupe durante sete anos, comicamente chama estilo de Masha, a "Tribal Art Noveau (Nova Arte Tribal), porque ela queria que seu traje refletisse mais que uma mistura de arte Européia".

A abordagem de Masha ao figurino foi influenciada por Jamila, mas ela a empregou também "em um ecletismo aquisitivo explorador e maluco. "Nós enxergamos como uma espécie de Européia, Parisiense-Tunisianas com um visual tribal Bizantino muito forte, o que foi completamente inventado." Masha persistiu que o visual era aparentemente autêntico por causa das jóias tribais e peças antigas do Oriente Médio e Europa. Ela referiu-se a ele, apesar, como "Americano Moderno Autêntico" por causa do conceito Americano de tomar liberdades com autenticidade e origens.

Carolena Nericcio

Carolena Nericcio começou a estudar com Masha Archer aos quatorze anos de idade. Ela treinou com Masha durante sete anos antes do início da FatChance BellyDance em 1987. A FatChance é uma mistura das duas metodologias em termos de figurino e formato de palco. O formato de estilo tribal veio da Jamila: "...o coro, a montagem do coro de meia-lua e as dançarinas saindo individualmente para fazer uma pequena rotina de dois ou três minutos e depois voltando para o coro". Elas seguem o estilo da Jamila de usar trajes pesados mas o estilo da Masha de ter o mesmo visual de fusão para cada uma. Carolena enfatiza a  suas alunas a mesma presença de palco e personalidade em público que Masha e Jamila ensinaram. Ela também preserva toda a intensidade do encorajamento das dançarinas entre si com zhagareets (zagrutas) (a ululação vocal) durante uma apresentação. Uma ligação direta à Masha é a postura, mantendo o tórax erguido e gracioso e mantendo uma consciência de integridade.

Masha tomou liberdades com esta forma porque ela sentia que era permitido por sua herança artística. Carolena, no entanto, executou a dança  próximo a suas raízes culturais usando principalmente música folclórica da África do Norte e Oriente Médio e mantendo os movimentos básicos para dança do ventre:

Carolena tem um profundo respeito pela cultura de onde a dança do ventre se origina. Mas ela também se considera uma artista que quer reunir peças convenientes: "Eu quero ser capaz de promover esta cultura por idéias mais criativas mas eu também quero defendê-la de pessoas que desmontariam a estrutura dela". Fiel à natureza cigana de adaptabilidade para sobrevivência, a ênfase principal na sua estrutura é um "estilo esteticamente agradável", o que fornece um bom espetáculo. A FatChance dança músicas que as inspira e contribui para o sentimento tribal folclórico da trupe. Quando perguntaram se ela via Estilo Tribal Americano como puramente Americano ou como uma forma diferente do contexto cultural, Carolena respondeu que ela era ambas. Às vezes ela é mais Americana e às vezes ela é mais Egípcia.”

O que é muito importante, entretanto, é que as dançarinas mantêm o espírito fiel à cultura. Carolena sabe a importância de permanecer fiel ao contexto cultural, mas ela sabe que o Estilo Tribal Americano está aqui para ficar e constantemente evoluirá. Ela reconhece que as dançarinas têm uma responsabilidade de trazer mais integridade à dança e manter o espírito das raízes culturais. Porém, ela tem sentimentos opostos sobre como ela gostaria de ver esta dança evoluir nos próximos cinqüenta anos. Parte dela gostaria de ver a dança ganhar status teatral respeitável no palco. Mas ela também percebe que uma parte importante seria perdida porque a essência da dança é a interação com as pessoas "bem ali nas ruas".

A linhagem Americana desta forma de dança representou circunstâncias variadas para a sua evolução. Jamila Salimpour iniciou a Bal-Anat por necessidade econômica e representava várias regiões em seu repertório de dança. Masha Archer estava mais preocupada com a beleza da forma de dança e se desligou da cultura original. Carolena Nericcio modifica a dança para manter o público entretido, mas sempre mantém o espírito da cultura dos ciganos do Oriente Médio. O fator de união das três professoras na linhagem de Estilo Tribal Americano é a paixão pela essência da forma de dança em vez de representar uma réplica exata das dançarinas ciganas originais.


Texto Original - Aqui


Texto extraído do Blog Tribal Mind
*por Rina Orellana Rall, principal dançarina FCBD 1988-1998
Tradutora: Suzana Guerra | Revisão: Aline Oliveira

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